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INTEGRAÇÃO
Anatel realiza Encontro Conectividade na Amazônia
Da esquerda para a direita, Moisés Moreira, conselheiro da Anatel; Wilson Lima, governador do Amazonas; e Carlos Baigorri, presidente da Anatel. Foto: Alex Pazuello/Secom/Governo AM
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) realizou nessa quarta-feira (20) em Manaus, o Encontro Conectividade na Amazônia, que reuniu reguladores de países da Região, empresas e entidades internacionais.
Na abertura, o governador do Amazonas, Wilson Lima, afirmou que o Estado está à disposição da Anatel, das empresas e dos países interessados em promover a conexão, especialmente no interior do Amazonas. Ele destacou que neste ano, com o funcionamento da Infovia 01, que conectou com banda larga as cidades amazonense de Manaus, Santarém e Parintins, a alta qualidade da transmissão de dados móveis e de voz se manteve durante todo o Festival Folclórico de Parintins, uma das mais intensas e tradicionais manifestações culturais da população amazonense.
O presidente da Anatel, Carlos Baigorri, destacou a capacidade das telecomunicações de levar desenvolvimento econômico e social à região. Ele afirmou que a presença da internet e o desenvolvimento consequente auxiliam a fixação do jovem em sua terra.
O conselheiro Moisés Moreira, cujo mandato na Anatel terminará em novembro deste ano, afirmou que “de tudo [os trabalhos desenvolvidos em sua gestão], a conectividade por fibra é a que tenho o maior carinho”. Moisés é presidente substituto da Agência e presidente dos grupos de Acompanhamento da Implantação do 5G (Gaispi) e de Implantação do Processo de Redistribuição e Digitalização de Canais de TV e RTV (Gired), responsáveis por projetos de implantação de infovias na Região Amazônica.
O presidente da Anatel agradeceu a Moisés pelo projeto transformador de infovias liderado por ele à frente do Gaispi. O conselheiro Alexandre Freire, por sua vez, destacou que Moisés nunca foi indiferente aos grandes desafios da Agência e os resultados alcançados só foram possíveis pela sua liderança e firmeza.
Moisés também agradeceu, em especial ao Exército Brasileiro, que em diversas vezes protegeu as embarcações e a instalação dos cabos nos rios amazônicos. Agradeceu ao governador do Amazonas que “foi sempre muito colaborativo” e a seus colegas da Agência e instituições visitantes. “Costumo dizer que o universo une as energias afins para a construção do bem, não podemos calcular o impacto das infovias para a Região Amazônica e isso não pode parar”, afirmou.
PAIS
No primeiro painel do Encontro – com o tema “Programa Amazônia Integrada Sustentável (PAIS): Histórico e Resultados” –, Eduardo Wolski, General de Divisão do Exército, destacou os esforços da instituição que, antes das seis infovias que estão sendo instaladas com recursos do Leilão de 5G realizado pela Anatel em 2021, instalou 800 quilômetros de infovias com recursos próprios e com aporte financeiro de diversas outras instituições que também seriam beneficiadas com os cabos ópticos de banda larga. Destacou também que durante os anos iniciais do projeto das infovias do Exército Brasileiro não se tinha uma ideia de um projeto tão grande de integração como o PAIS.
Moisés, moderador do Painel, lembrou que em fevereiro deste ano em Barcelona (Espanha), durante o Mobile World Congress (MWC23) – um dos principais eventos de comunicação móvel no mundo –, países de língua portuguesa na África mostraram muito interesse no processo de cabeamento nos leitos dos rios.
Leandro Guerra, presidente da Entidade Administradora da Faixa de 3,5 GHz (EAF), descreveu os cerca de 10 mil quilômetros de infovias, o processo de instalação e as dificuldades enfrentadas ao se escolher os leitos dos rios para instalação. Segundo ele, esses cabos enfrentam um ambiente mais dinâmico que os de leito marinho. Ele informou que será criada também uma rede privativa fixa em cada capital brasileira: redes metropolitanas de fibra óptica que serão integradas às redes existentes para conectar prédios públicos do Governo Federal.
Amazônia Conectada
O presidente da Anatel foi o moderador do painel “Desafios para o futuro da Amazônia conectada”. Baigorri falou que, além da construção e instalação, o ponto fundamental é dar continuidade à infraestrutura. Para ele, é necessário discutir como as redes de fibra ótica são sustentáveis do ponto de vista de se ter demanda e garantir a conectividade significativa à população local. A expressão “conectividade significativa” é usada para se referir a uma experiência na internet que contribua para a inserção social e econômica dos usuários, de forma segura e com custo acessível para o consumidor.
Baigorri destacou também como é importante a coordenação entre os países da Região Amazônica e o diálogo institucional para defender interesses comuns na Região. “Na Conferência de Dubai é importante que os países estejam juntos para defender suas posições no contexto internacional”, afirmou. Promovida pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), a Conferência Mundial de Radiocomunicação de 2023 (WRC-23) será realizada no final deste ano, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Ana Veneroso, coordenadora de Programa no Escritório Regional das Américas da UIT, também apresentou a questão da conectividade significativa. Ela lembrou que uma parcela da população que possui acesso à internet não usa esse recurso. Há brechas de renda e de educação no uso da internet e necessidade de fortalecimento de pilares para a inclusão digital, como o acesso à educação e o desenvolvimento de conteúdo local, analisou. Ela apresentou um programa da UIT para capacitar comunidades remotas no uso da internet, permitindo que agricultores locais recebam a previsão do tempo e artesãs vendam seus produtos por celular, por exemplo.
Adauto Candido Soares, coordenador do Setor de Comunicação e Informação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), lembrou que o interesse maior de sua agência é a educação. A educação no Brasil é a última fronteira da informatização, mesmo com os avanços na educação digital motivados pelo isolamento social da pandemia de Coronavírus. Ele lembrou da necessidade de capacitação dos professores e sugeriu um uso mais intenso do rádio junto às tecnologias digitais para inclusão social.
EAD
No início da tarde, Antonio Martelletto, presidente da Entidade Administradora de Processo de Redistribuição e Digitalização de Canais TV e RTV (EAD), apresentou a experiência da Implantação da Infovia 01 e a sustentabilidade do projeto. Destacou o aprendizado obtido com a experiência anterior do Exército e detalhou o processo de instalação dos cabos óticos das seis infovias do PAIS. Ele lembrou que o processo de instalação da Infovia 01 durou um ano e meio, de julho de 2021 a março de 2023. Além disso, explicou que na avaliação dos órgãos de licenciamento, a implantação das infovias é um projeto de baixíssimo impacto. Informações sobre a implantação da Infovia 01 estão disponíveis no site da entidade , que adotou o nome de Seja Digital.
Sinergias
Encontro Conectividade na Amazônia. Foto: Alex Pazuello/Secom/Governo AM
No terceiro painel, “Projetos em curso e sinergias”, o conselheiro Artur Coimbra afirmou que todas as infovias do PAIS são projetos estruturantes habilitadores de tecnologias que se tornarão disponíveis na Região Amazônica e, também, habilitadores de novas oportunidades educativas e econômicas. De acordo com ele, a Anatel tem uma série de iniciativas voltadas à Região, que incluem de melhorias na qualidade da telefonia móvel e da banda larga à expansão da cobertura de 5G e de 4G. Em sua análise todas as iniciativas da Anatel vão se beneficiar das infovias do PAIS. Coimbra descreveu a Região Amazônica como um cenário reconhecido pelos provedores regionais como um mercado com potencial de crescimento.
Gabriel Jurado, vice-ministro de Conectividad do Ministerio de Tecnologías de la Información y las Comunicaciones da Colômbia (MinTIC), afirmou que, dado o aumento constante no uso de dados no mundo, faz muito sentido o trabalho do Brasil com as infovias. Ele apresentou dados da Amazônia Colombiana, com baixa penetração de banda larga, e os esforços para o fortalecimento e a criação de redes em seu País. Informou que aguarda o estabelecimento de um acordo de compromisso para a interligação das redes de banda larga brasileira e colombiana, o que permitiria que a Infovia 02 fosse conectada com as redes de transmissão de dados do Oceano Pacífico.
Karisa Maia Ribeiro, coordenadora regional líder oficial do Banco Interamericano de Desenvolvimento, afirmou que a instituição pretende dar continuidade à parceria com a Anatel que já resultou no desenvolvimento do Projeto Crowdsourcing for Digital Connectivity in Brazil (C2DB) , um mapeamento de conectividade que proveu conhecimentos para o estabelecimento do atual Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações (Pert) da Anatel. Segundo ela, transferir o conhecimento gerado para outros países permite ampliar o desenvolvimento. Karisa enfatizou que parceiros são muito importantes e as melhores práticas também.
Vinicius Caram, superintendente de Outorga e Recursos à Prestação da Anatel, afirmou que não se faz 5G sem fibra. As redes de fibra óptica são necessárias para o escoamento do tráfego de dados da tecnologia dado que o alcance das faixas de frequência é mais restrito. Ele elogiou o modelo não arrecadatório do Leilão de 5G, que permitiu a implantação do PAIS, e destacou números da cobertura que será realizada na Região Norte do País, como a existência de 230 antenas ( estações licenciadas ) de 5G distribuídas na cidade de Manaus.
Encontro Conectividade na Amazônia. Foto: Alex Pazuello/Secom/Governo AM
No quarto painel, “Sustentabilidade e tecnologia”, o conselheiro Alexandre Freire apresentou o Centro de Altos Estudos em Comunicações Digitais e Inovações Tecnológicas (Ceadi), órgão responsável pelo fomento a pesquisas científicas e debate acadêmico do setor de comunicações digitais, inovações tecnológicas e segurança cibernética, da Anatel. Afirmou que a inovação tecnológica, a inteligência artificial e as plataformas digitais são os temas tratados como os mais desafiadores pela Agência. Lembrou também que os objetivos do órgão regulador estão alinhados com a Agenda 2030, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável , da Organização das Nações Unidas.
Jacqueline Lopes, Government & Policy Advocacy Head, LATAM South, da Ericson, apresentou o compromisso da empresa de emissões zero de carbono até 2040 e das adaptações necessárias na cadeia produtiva. Ela afirmou que a Ericson está se adequando com equipamentos e softwares desenhados para sustentabilidade, além do uso de inteligência artificial e energias renováveis. Analisou que, apesar de o setor de telecomunicações ser responsável por apenas 1,4% das emissões de carbono, que contribuem para o efeito estufa, elas podem ser reduzidas ainda em 15%. Jacqueline também apresentou o projeto Connect to Learn, que já conectou à intenet 400 mil crianças e adolescentes em 36 países e pretende alcançar a marca de um milhão de jovens até 2025.
Christine Chung, diretora da operadora francesa Guyacom, apresentou a infraestrutura de cabos submarinos da Guiana Francesa e do Suriname. Para ela, Brasil e França poderão se beneficiar de maior conexão de suas redes. Christine descreveu a infraestrutura de cabo óptico que a Guyacom instalou de Caiena, capital da Guiana , até a fronteira com o Brasil, que foi completada em território brasileiro até Macapá/AP, pela Oi.
Marcelo Motta, diretor de Cybersecurity and Solutions da Huawei, relatou que o custo por bit da tecnologia 5G é um décimo do custo no 4G. Descreveu que as redes disponibilizadas pela Huawei têm rápida manutenção, como em caso de rompimento de fibra óptica, e lembrou que a empresa está na Amazônia e construiu os instalou cabos ópticos em parceria com a Oi. Em sua opinião, as infovias são um habilitador para um grande ciclo de desenvolvimento na Região Norte. Ele apresentou a tecnologia de processamento de dados da empresa usada em segurança pública.
No último painel do dia, “Transformação da realidade local e desenvolvimento”, o moderador Nilo Pasquali, superintendente de Planejamento e Regulamentação da Anatel, representando o conselheiro diretor Vicente Aquino, apresentou o Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações (Pert), principal instrumento de diagnóstico da infraestrutura brasileira da Agência. Em sua análise, os números da realidade da Região Norte, mostram “muita população coberta, mas áreas territoriais muito pequenas com cobertura”. Nilo também apresentou o Projeto Piloto do Grupo de Acompanhamento do Custeio a Projetos de Conectividade de Escolas (Gape) , que conectou 32 escolas na Região Norte, com 8,5 mil alunos beneficiados.
Luis Alejandro Pacheco Zevallos, director de Fiscalización e Instrucción do Organismo de Inversión Privada en Telecomunicaciones do Peru (OSIPTEL) apresentou os desafios de conexão e a dificuldade de sustentação das infovias em seu país. Segundo ele, apesar dos projetos do Peru para construção de redes sem fio, a iniciativa privada está levando fibra óptica às comunidades mais distantes em projetos regionais. Ele analisou que há interesse de que a infraestrutura de fibra que está sendo instalada na cidade peruana de Iquitos possa ser interligada a países vizinhos. A cidade é próxima à tríplice fronteira de Brasil, Colômbia e Peru.
O último palestrante do dia foi Luiz Tonisi, VP & Pres, QC Latin America da Qualcomm. Ele concordou com a fala do Caram de que sem fibra óptica não há 5G, mas defendeu a tecnologia sem fio FWA como alternativa para levar o 5G aos domicílios. Tonisi afirmou que o FWA pode fazer a tecnologia chegar mais barata ao consumidor e que o sem fio é a solução a longo prazo. Além disso, defendeu a adoção do modelo pré-pago à banda larga, assim como na telefonia móvel.
Encontro Conectividade na Amazônia.
Foto: Alex Pazuello/Secom/Governo AM