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Anatel e Embaixada do Japão promovem debates sobre OpenRAN
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a Embaixada do Japão promoveram nessa quarta-feira (9/8) o Seminário Open Networks, com o objetivo de discutir o uso e as perspectivas para implementação de uma nova arquitetura de redes de acesso, abertas e desagregadas, conhecida como OpenRAN.
O OpenRAN consiste na construção de redes de acesso de rádio (geralmente redes de serviço móvel) que busca desagregar os componentes tradicionais das estações rádio-base e separar os componentes de hardware e de software das diferentes partes da rede, permitindo que operadoras de telecomunicações possam escolher e combinar componentes de diferentes fornecedores.
Moderada pelo superintendente-executivo, Abraão Balbino, a sessão “Open Networks: desagregação e virtualização da rede” contou com a presença do ministro Luciano Mazza, diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Propriedade Intelectual do Ministério das Relações Exteriores (MRE); Igor Calvet, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI); Simone Scholze, pesquisadora no Centro de Políticas, Direito, Economia e Tecnologias das Comunicações (CCOM) da UnB; e Onoe Seizo, diretor do Bureau de Padronização das Telecomunicações da União Internacional de Telecomunicações (UIT).
Abraão Balbino disse que o OpenRAN representa uma nova forma de fazer equipamentos e de desenvolver as redes e que o assunto tem ocupado espaço relevante nas discussões nos fóruns nacionais e internacionais de telecomunicações.
Onoe Seizo disse que a UIT tem um grande compromisso para redes abertas e virtualização. “A essência da padronização é buscar a realização de redes abertas”, afirmou. Ele mencionou que é essencial a colaboração entre o setor público e a iniciativa privada para o sucesso da virtualização aberta, que permite oportunidades para os players e contribui para o desenvolvimento das indústrias locais.
Luciano Mazza destacou a forte parceria do Ministério das Relações Exteriores com a Anatel nos fóruns internacionais de telecomunicações, sempre pautada pela busca de consensos. O ministro ressaltou que existem obstáculos nas discussões internacionais, de natureza política, que trazem repercussões nos debates que deveriam ser predominantemente técnicos. “A gente vê com muita preocupação uma lógica em que diferentes discussões que têm componente técnico, que avançam para construção de padrões técnicos, de standards técnicos, de definições conceituais, podem contribuir para formação de espaços de influência, de espaços segmentados, que possam levar a uma fragmentação do mundo digital, o que não é de interesse”, observou.
Igor Calvet disse que OpenRAN precisa ser agenda estratégica para a indústria nacional. Lembrou que o setor de telecomunicações é essencial para o desenvolvimento da indústria 4.0, que engloba tecnologias para automação e troca de dados com o objetivo de elevar a produtividade. Segundo ele, o OpenRAN traz como consequências as possibilidades de maior concorrência, de redução de custos e de criação de um ecossistema inovador.
Simone Scholze explicou que estudo realizado pelo CCOM da UnB traz elementos muito práticos sobre o cenário internacional e motivações políticas e geopolíticas internacionais que não podem ser ignoradas no setor de telecomunicações. A pesquisadora disse que o OpenRAN é um tema em que o Brasil deve basear suas decisões em prol das empresas e dos usuários nacionais. “Temos que buscar caminhos próprios”, defendeu.
Na sessão “Oportunidades e desafios para a adoção das redes abertas nas próximas gerações de rede” – moderada pelo superintendente de Planejamento e Regulamentação da Anatel, Nilo Pasquali – o diretor de Arquitetura e Evolução da Tecnologia da TIM Brasil, Átila Leão Flores Xavier, afirmou que nem todas as soluções de rádio proprietário disponíveis atualmente estão acessíveis no OpenRAN. “O compartilhamento de rede é uma característica nossa (do Brasil) que nem todos os países usam”, disse. Segundo ele, essa solução ainda está em desenvolvimento no OpenRAN.
Segundo Xavier, apesar dos desafios, há casos identificados, a partir de pesquisas desenvolvidas pela TIM e pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD) em que o desenvolvimento atual do OpenRAN indica que a tecnologia já seria economicamente viável no 5G para cidades abaixo de 200 mil habitantes e, também, em sistemas indoor, como os utilizados dentro de estádios; ou para soluções na indústria 4.0.
O líder global de soluções OpenRAN da NTT Docomo (empresas de serviço móvel do Japão), Abeta Sadayuki, destacou que a Docomo já criou um sistema OpenRAN 5G, “uma rede madura” com 20 milhões de clientes naquele país. Ele espera que a tecnologia alcance o mesmo nível de desempenho que os sistemas proprietários.
Sadayuki mencionou também a questão do custo de implantação do OpenRAN, o que seria um desafio maior para os pequenos prestadores. Ele espera que o governo brasileiro apoie incentivos fiscais à nova tecnologia. Segundo ele, “incentivos fiscais são importantes, especialmente para novos players”.
Para o vice-presidente sênior de Assuntos Globais de Governo da Rakuten (empresa japonesa com soluções OpenRAN), Tomioka Hideo, com a tecnologia “os operadores de telefonia móvel podem evitar o custo com a concentração de fornecedores”. Ele afirmou que a entrada da Rakuten no mercado móvel japonês “estimulou a competição e baixou o custo da conectividade do consumidor”.
O gerente de Soluções em Conectividade do CPQD, Gustavo Correa Lima, mencionou, entre os desafios ao OpenRAN, a variação na interpretação de normas, mesmo que padronizadas por organizações como o 3GPP. Como oportunidades ao OpenRAN, ele destacou, entre outras possíveis vantagens, um ecossistema mais robusto, com especialização de fornecedores, o que favorece a inovação; as metodologias ágeis na operação da rede; e a agilidade na entrega de novos serviços.
O superintendente de Outorga e Recursos à Prestação da Anatel, Vinicius Caram, coordenou a sessão “O ecossistema open network: o caminho para o crescimento e a sustentabilidade”, que contou com a presença dos palestrantes Kusumoto Yuichi, vice-gerente Geral da NEC América Latina; Mizuno Shingo, vice-presidente executivo da Fujitsu; Guilherme de Paula Corrêa, diretor substituto do Departamento de Tecnologias Digitais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); Sebastião Sahão Junior, presidente do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD); e Iara Machado, diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP).
Caram afirmou que o caminho para o crescimento e a sustentabilidade para um país continental, com vários nichos de mercado, como é o caso do Brasil, é pensar num ecossistema “fim a fim”. Segundo ele, “temos que pensar desde o dispositivo do usuário até a rede como um todo, pensar no desenvolvimento de integradores e maior diversificação no mercado nacional”.
O diretor do MCTI apresentou um histórico da Lei de Informática e o resultado do seu alcance com os seis Programas Prioritários de Interesse Nacional (PPI): Programa Nacional de Microeletrônica; Programa Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP); Programa Nacional de Software para Exportação – SOFTEX; Programa Manufatura e Qualificação da Eletrônica de Produtos com Tecnologia da Informação e Comunicação – HardwareBR; IoT/Manufatura 4.0 e Saúde Digital.
Sebastião Sahão disse que um dos principais executores dos projetos do PPI é o CPQD. Ele deu uma visão geral do trabalho desenvolvido e afirmou que o CPQD pretende criar o maior laboratório voltado ao OpenRAN. Segundo ele, isso vai “garantir o crescimento sustentável do nosso país em novas tecnologias”.
Iara falou sobre a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, seus pontos de presença e a coordenação do PPI. Ela citou o OpenRAN@Brasil, que é um programa apoiado pelo MCTI que visa acelerar o desenvolvimento do ecossistema de redes abertas a partir de pesquisa, desenvolvimento inovação e capacitação em tecnologias e aplicações. “É esperado que através da flexibilidade e interoperabilidade oferecida pelo OpenRAN, surjam novos serviços e modelos de negócios”.
O vice-gerente Geral da NEC América Latina, Yuichi Kusumoto, defendeu o uso de redes abertas para “conectar o melhor das soluções para todo o mundo”. Mizuno Shingo, da Fujitsu, explicou que a rede aberta pode trazer tecnologias melhores, tecnologias verdes. “A nossa empresa se baseia em um propósito: tornar o mundo mais sustentável com o uso das tecnologias.”
A sessão “Brasil e Japão, uma parceria de sucesso: a importância da padronização” foi moderado pelo chefe da Assessoria Internacional da Anatel, Ronaldo Neves Moura Filho. Ele contou com as presenças do diretor-geral para Assuntos Internacionais do Bureau de Estratégia Global do Ministério dos Assuntos Internos e de Comunicações do Japão, Nomura Eigo; do secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, Maximiliano Martinhão; do especialista em Telecomunicações, Mídia e Tecnologia da Deloitte, Tiago Novais; e do gerente sênior da Mavenir, Rodolpho Tomaz.
O chefe da Assessoria Internacional da Agência lembrou que a parceria entre Brasil e Japão remonta ao século XIX e fez um breve histórico dos acordos já firmados entre os dois países.
Nomura Eigo detalhou os projetos do Japão para promover a OpenRAN. Ele abordou o desempenho do 5G e apresentou cases de sucesso. “A infraestrutura tem que ser aberta, transparente e confiável. É baseado nisso que difundimos o OpenRAN”, disse. Ele também apresentou o relatório de segurança do OpenRAN.
Martinhão disse que o OpenRAN permite a inserção de mais atores na cadeia de valor das telecomunicações e melhora a oferta de serviços ao consumidor. Ele citou como esforços de padronização internacional as resoluções tomadas em conjunto com a UIT para padronização das redes definidas por software e a implantação de sistemas IMT baseados em tecnologias abertas e interoperáveis, além da criação do Grupo de Estudos para a aplicação de comunicações de sistema aberto.
O especialista em Telecomunicações, Mídia e Tecnologia da Deloitte apresentou o projeto OpenCare 5G, iniciativa do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas de São Paulo (InRad) que utiliza a rede privativa com arquitetura OpenRAN. Segundo ele, “esse é um dos projetos com infraestrutura mais robusta no Brasil”. O case apresentado por ele foi do “ultrassom remoto”, em que um médico mais generalista faz o exame e as imagens são encaminhadas ao especialista.
O gerente da Mavenir explicou um pouco sobre a atuação da empresa com o OpenRAN no Reino Unido e, principalmente, na Índia. “O OpenRAN já é uma realidade. Queremos sair desse modelo de testes e especificações. Já estamos em processo de implantação”, disse. De acordo com ele, pesquisa da Light Counting, realizada este ano, mostra que 5% das redes de serviço móvel no mundo já são OpenRAN.
Assista aqui ao vídeo do seminário
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