Atividades síncronas e assíncronas
Não é de hoje que o momento no qual realizamos nosso trabalho tem seus limites temporais fluidos. A partir da legislação trabalhista, que conseguiu enormes avanços para garantir que limites fossem respeitados, vimos a jornada diária de trabalho sempre conectada ao espaço em que as equipes realizavam conjuntamente suas atividades. Ao compartilhar de um mesmo horário de entrada e saída no local de trabalho, tínhamos a sensação de que estávamos sempre trabalhando juntos. Mas o fato é que os momentos efetivos de trabalho conjunto num escritório costumam ser planejados e eram exceção: reuniões, trabalhos em grupo ou mesmo despachos ocorrem quando as pessoas podem. Sem dúvida, a presença física do outro fomenta outras interações não-planejadas, as quais nem sempre são intencionais ou bem-vindas. Não à toa, muitos colegas preferiam chegar mais cedo ou deixar para sair mais tarde do escritório, buscando um tempo de silêncio ou solidão para realizar trabalhos que exigiam concentração ou raciocínio.
Essa dimensão descrita é o que chamamos de sincronia da realização do trabalho. Mesmo estando num mesmo lugar, num mesmo tempo, não necessariamente nossos trabalhos ocorrem de maneira síncrona. Síncrono é o trabalho realizado por dois ou mais agentes num momento compartilhado, no qual estarão envolvidos em uma tarefa comum. Sincronia implica em realizar junto, compartilhando o tempo comum nessa realização. Um exemplo claro são duas pessoas que precisam entregar um relatório no final do dia e dividem partes desse relatório para escrever. Enquanto cada uma escreve o seu pedaço, o trabalho é assíncrono, bem como quando uma lê o trabalho da outra individualmente. No entanto, o momento em que se reúnem para combinar o trabalho, em que se encontram para trocar comentários ou mesmo quando conversam ao vivo (no mesmo momento) são momentos de trabalho síncrono.
Desse ponto de vista, tarefas independentes mesmo que executadas num mesmo momento, ao não criarem um vínculo de dependência, podem ser vistas como assíncronas. Complementarmente, assíncrono é o trabalho realizado de maneira individual ou em grupos sem necessidade de encontro ou compartilhamento de tempo comum. O tempo síncrono é caro. Independente da modalidade presencial ou em teletrabalho, qualquer atividade síncrona é rara e deve ser bem aproveitada. Isso implica em refletir sobre a real necessidade de que tais momentos aconteçam, e se preparar para que ocorram da melhor maneira possível. Caso uma troca ou interação não sejam necessárias, quais informações prévias são relevantes para otimizar a presença dos participantes? Qual a participação ou contribuição (papel) que cada convidado terá na atividade? E, principalmente, quais os resultados esperados de cada um daquele encontro? Precisamos superar a máxima de que “esta reunião poderia ter acontecido em um e-mail ou vídeo” – aliás, vídeos e áudios são excelentes recursos para serem compartilhados de maneira assíncrona e não precisam, necessariamente, serem assistidos ao mesmo tempo (salvo se há alguma reação coletiva esperada).
Com isso, concluímos que todo trabalho sempre foi uma mistura de momentos síncronos e assíncronos, independente de estarmos presentes na mesma hora em uma mesmo local. Para que esses momentos sejam mais bem integrados, os registros se tornam fator crítico de sucesso, dado que os tempos assíncronos são dependentes dos tempos síncronos para convergência dos esforços comuns; atividades realizadas de maneira presencial precisam ter produtos disponíveis para quem os realiza em teletrabalho; é importante que novos participantes em uma interação tenham acesso às informações passadas e possam estar “na mesma página” daqueles que já estavam por lá. No entanto, registrar mais não significa registrar tudo: equipes precisam desenvolver seus próprios métodos comuns de registro, de acordo com suas necessidades.
Vitrine PGD
Vitrine PGD é uma iniciativa voltada para dar maior divulgação às iniciativas que têm maior experiência nos temas propostos.Abaixo, será possível conhecê-las com maiores detalhes:
- Romero Tori: Professor da Escola Politécnica da USP e pode ser considerado um pioneiro no estudo do uso de tecnologias imersivas para trabalho, com especial ênfase no campo educacional. O livro Educação Sem Distância é uma referência no assunto de atividades remotas, presenciais, síncronas e/ou assíncronas.