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Saúde Indígena
Integração de equipes reforça qualidade da assistência a indígenas no Pará
A pequena rede improvisada a partir de um lençol azul, cuidadosamente atado às duas extremidades de um berço, não deixa dúvidas a quem passa pela Pediatria do Hospital Regional da Transamazônica, em Altamira (PA): há um paciente especial internado ali. Kowy é indígena da etnia Arara, tem apenas dez meses de vida e nunca saiu daquela unidade hospitalar. Vive sob os cuidados da mãe, Tawé Arara, de 16 anos, e conta com a assistência em tempo integral das equipes do hospital e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde. Eles são exemplo do quão importante é a articulação interfederativa para o Sistema Único de Saúde (SUS), sobretudo na atenção aos povos indígenas.
“Kowy é um pequeno guerreiro desde o nascimento. Foi um parto bem difícil, resultado da combinação entre a baixa estatura da mãe e o peso dele, que nasceu com mais de quatro quilos e apresentando um grave trauma no aparelho respiratório. Seus primeiros nove meses de vida foram na Unidade de Terapia Intensiva neonatal, pois não respirava sem ajuda de aparelhos. Hoje, felizmente, o quadro é outro, e a cada dia as equipes registram avanços importantes”, comenta a enfermeira Jéssica Araújo, da equipe do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Altamira. Ela e outros profissionais se revezam no acompanhamento de Kowy e Tawé no dia a dia no hospital.
Luciane Cristina, diretora de apoio assistencial da unidade hospitalar, destaca que a integração dos profissionais é decisiva para os cuidados a cada indígena – criança, jovem, adulto ou idoso – que chega para tratamentos de média e alta complexidade. “É um esforço coletivo para assegurar assistência adequada e respeito à cultura de cada etnia. São povos com tradições muito particulares e que são bastante impactados quando estão fora de seu ambiente natural. Por isso, as equipes buscam sempre alinhar informações diversas, seja para acolhê-los ou para o momento em que receberão alta e retornarão às suas comunidades, muitas vezes necessitando de cuidados mais específicos”, pontua.
Em visita ao Hospital Regional da Transamazônica, o secretário Especial de Saúde Indígena, Antônio Alves de Souza, conheceu Kowy Arara e outros pacientes em tratamento. Também conversou com profissionais sobre os fluxos de atendimento, os cuidados com os povos indígenas e outros temas correlatos. “A equidade é um dos princípios do SUS; é tratar de forma diferenciada aqueles que são diferentes. Portanto, as equipes estão de parabéns pela atenção especial que dão a essas pessoas”, observou Alves.
Segundo ele, os estados e os municípios têm papel fundamental na complementaridade das ações e serviços que a Sesai oferece aos indígenas. “Nos últimos anos, graças aos investimentos do Ministério da Saúde e ao comprometimento de profissionais que fazem a Saúde Indígena, conseguimos avançar bastante na assistência básica, que é o principal objeto de trabalho da Secretaria. No entanto, ainda temos como um de nossos desafios a tarefa de fortalecer a articulação interfederativa”, frisou o secretário, salientando a necessidade de um olhar especial para as regiões Norte e Nordeste, onde está concentrada a maior parte dos povos - cerca de 70%.
RETAGUARDA
Acompanhado do secretário de Saúde de Altamira, Valdecir Maia, e do coordenador do DSEI, Lindomar Carneiro da Silva, Antônio Alves visitou ainda o Hospital Municipal São Rafael, que também recebe indígenas para tratamentos mais complexos, e esteve nas instalações da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) recém-construída e do Hospital Geral da cidade, em reforma para ampliação. Ambos, depois de inaugurados, servirão de retaguarda para o atendimento aos mais de 3.400 indígenas que vivem em 42 aldeias distribuídas em cinco municípios: Altamira, Vitória do Xingu, Senador José Porfírio, Anapu e São Félix do Xingu.
O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) de Altamira, William Cesar Domingues, acompanhou as visitas e destacou que assistência aos povos indígenas evoluiu bastante na região. “Isso é resultado de uma gestão participativa, que ouve as demandas das comunidades e que tem conseguido bons resultados também na articulação interfederativa. A rede SUS precisa estar preparada para receber os parentes e, de fato, o diálogo é a base para esse trabalho”, afirma William, com o respaldo de quem passou quase trinta dias internado no Hospital Regional da Transamazônica, em 2010, recuperando-se de uma trombose.
Por Bruno Monteiro
Fotos: Alejandro Zambrana / Sesai-MS
Veja fotos das visitas às unidades de saúde em Altamira (PA)