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Inep ouve opinião de dez mil pais sobre a escola brasileira
Pesquisa Nacional Qualidade da Educação – a Escola Pública na Opinião dos Pais faz levantamento inédito entre responsáveis pelos estudantes.
Os pais dos alunos brasileiros se preocupam com a segurança nas escolas, querem mais autoridade no ensino, uso de uniforme, eleição direta para diretores e esperam escolas mais atrativas e motivadoras, aumentando o envolvimento e o tempo de permanência diária dos alunos, além de atividades extraclasse. Essas conclusões preliminares integram o relatório da primeira etapa de uma pesquisa inédita que está sendo realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e que ouvirá dez mil pais de estudantes matriculados nas escolas públicas urbanas do País até o final de fevereiro. É a Pesquisa Nacional Qualidade da Educação – a Escola Pública na Opinião dos Pais.
Pesquisa Nacional Qualidade da Educação:
A Escola Pública na opinião dos pais |
Tipo de
arquivo |
O Relatório Analítico dos Grupos Focais antecipa o que deve surgir na pesquisa mais ampliada. Os primeiros indícios são de que há fortes bases em comum de opinião entre os pais de todas as regiões do País. Há uma convergência significativa em torno de pontos fundamentais, como as percepções do ambiente do ensino público, a imagem dos profissionais das escolas, a participação dos pais e mães, o papel do governo e diversos outros aspectos. O objetivo da pesquisa é coletar opiniões das famílias dos estudantes sobre a qualidade das escolas, as condições de ensino, o trabalho de professores, diretores e outros agentes escolares, além de identificar a percepção dos pais sobre a relação entre a escolarização e as perspectivas de futuro das crianças e jovens brasileiros.
Na primeira fase da pesquisa, foi realizado, por meio de grupos focais, o levantamento de temas importantes a serem pesquisados. Constituíram-se, nos dias 15, 16, e 17 de dezembro de 2004, dez grupos de discussão nas cidades do Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília, Recife e Belém. Cada grupo teve aproximadamente dez integrantes que representavam pais, mães ou responsáveis oriundos das classes "b", "c (mais)", "c (menos)", "d" e "e". Com os resultados das discussões dos grupos, foi elaborado o questionário que está sendo aplicado a dez mil pais em todos os Estados brasileiros, durante os meses de janeiro e fevereiro de 2005. Estão sendo entrevistadas, pelo menos, 370 famílias em cada Estado. A amostra resultante possibilitará o fornecimento de estimativas com nível de confiança de 95%. Os municípios selecionados para a composição da amostra foram estratificados por tamanho, segundo os critérios de número de domicílios do IBGE.
No total, serão entrevistados pais e mães de 162 cidades do Brasil. Em cada capital de Estado, serão escolhidos endereços de famílias de quatro escolas; nas demais cidades, serão selecionados endereços de três escolas. Aproximadamente, 19 escolas serão pesquisadas por Estado. A escolha das escolas foi feita levando em conta o seu tamanho. A seleção dos entrevistados dentro das escolas foi realizada por amostragem aleatória, proporcional ao número de alunos de cada série do ensino fundamental. Estão sendo entrevistadas, pelo menos, 20 famílias por escola. A elaboração do plano amostral levou em conta as bases de dados do Censo Escolar de 2003. A investigação fornecerá dados com significância estatística para o Brasil e regiões.
Satisfação com gratuidade
De um modo geral, os pais e mães têm um grau razoável de satisfação com a escola pública brasileira no nível fundamental, principalmente em relação à amplitude da rede física, às condições de acesso, facilidade de obtenção de matrícula, às oportunidades oferecidas e à distribuição de livros didáticos. A gratuidade do sistema parece ser um fator importante nas apreciações do público. Uma das frases que simbolizam esse sentimento é: "só não estuda quem não quer", vinda principalmente dos entrevistados das classes C, D e E.
Os pais também convergem em sua distinção entre escolas públicas e privadas. Consideram essas últimas de melhor qualidade. Para o público da pesquisa, o melhor ensino das escolas privadas advém, basicamente, de exigirem mais dos professores, que "podem ser demitidos se não atenderem aos requisitos". As particulares são vistas também como um espaço mais disciplinado, organizado, respeitoso e seguro. Ao mesmo tempo, os pais concordam em que somente a escola privada pode garantir uma preparação adequada para se chegar ao ensino superior. A sensação generalizada é de uma escola pública insegura, em que prevalece a crise de autoridade escolar (com pouca exigência para se passar de ano), com pouco compromisso dos professores, alunos com comportamentos desregrados, e governos e secretarias de Educação distantes.
Preocupados com a segurança, os pais compreendem que são necessárias medidas como um maior distanciamento físico na convivência entre as faixas etárias, a instalação de câmeras de vigilância e a implantação de policiamento especial nas cercanias e dentro das escolas. A surpresa da pesquisa fica por conta de que o Rio de Janeiro, estigmatizado como palco principal da violência no País, é a cidade com a menor preocupação com a insegurança.
Em geral a percepção quanto ao ensino público fundamental é de relativa satisfação. No entanto, não é o que aparece quando se trata da própria escola em que o filho está matriculado. Nos casos concretos, particulares, "são poucos os aspectos de satisfação e numerosos os pontos que geram descontentamento", afirma a pesquisa. Os segmentos mais pobres da população (classes C inferior, D e E), normalmente moradores de áreas carentes, contam com o pior atendimento escolar. Nesses locais, geralmente as escolas são simples, pequenas e sem infra-estrutura. As classes C superior e B inferior (residentes em áreas da classe média) têm escolas com boa qualidade de ensino e dotadas de infra-estrutura adequada. Há ainda, conforme os pais, uma falta de padronização das escolas brasileiras, que são muito diferentes, dependendo dos locais.
Os diretores são vistos pelos pais de alunos como os "guardiões da ordem e da moral", responsáveis diretos pela qualidade de ensino da escola e, na grande maioria dos casos os pais, depositam neles esperança e confiança. São espécie de autoridade social, uma instância mais próxima, para a orientação e solução dos problemas da família e dos alunos. Aparentemente, quanto mais firmeza eles demonstram na administração da impulsividade dos adolescentes e na manutenção da disciplina, maior é sua aprovação pelos pais.
Os professores são os responsáveis mais diretos pela qualidade do ensino e até mesmo pelo sucesso ou fracasso escolar, na visão dos entrevistados. A avaliação desses profissionais, no entanto, é muito difusa e difícil de resultar em consenso. Se, por um lado, os pais consideraram os professores da rede pública mais capacitados – por terem passado em concurso – por outro, seus salários são "reconhecidos como insuficientes ou injustos". Mas esses professores são também bastante criticados por "faltas às aulas", abonos e realização de greves. Os pais mencionaram também a precariedade na formação dos professores. Entre os demais funcionários, a grande conhecida é a merendeira, "responsável por um setor de importância estratégica para a escola". Quando a merenda é boa, essa funcionária e reconhecida e desperta grande simpatia.
Os filhos como alunos
O pais entrevistados consideram seus filhos motivados para o ensino e para freqüentar a escola. Mas esse fator depende muito do relacionamento do professor, apontado como dos principais responsáveis pelo envolvimento do aluno com a aprendizagem e que o "professor competente e dedicado, contando com o apoio da escola, é capaz de despertar a motivação mesmo em crianças menos ‘propensas' ao estudo". No entanto, essa ênfase no papel do professor vem acompanhada de uma diminuição das responsabilidades do pai e da mãe na educação do filho. A média dos entrevistados reconhece a importância de um estreitamento entre a família e a escola, mas não parece fazer muita coisa para tal. Quando isso significa uma maior presença dos pais na escola, uma parcela razoável se protege com a incompatibilidade de horários e compromissos, conforme o relatório.
A pesquisa indica que a presença dos pais na escola declina à medida que o aluno deixa as séries iniciais. Na adolescência, esses contatos se tornam cada vez mais eventuais. Enquanto a maioria dos responsáveis aponta o trabalho como principal obstáculo a um maior acompanhamento, algumas mães pobres, separadas, que trabalham como faxineiras ou domésticas, dão exemplo de superação de dificuldades e afirmaram acompanhar ativamente a vida escolar dos filhos, no caso específico do Rio de Janeiro.
Em casa, o pai - em geral o de classe mais pobre, e que tem dois ou mais filhos estudando - faz comparações, sentenciando um deles como menos dotado para os estudos. Trata-se de uma baixa tolerância com o rendimento inferior e que acaba se traduzindo num processo de desvalorização deste aluno. Interessante foi que os pais se dividiram em "variadas gradações de aceitação e compreensão, sem nenhuma condenação explícita", ao trabalho dos filhos enquanto estudam. O trabalho não é visto, por muitos desses pais, como empecilho para o sucesso na escola. "Acreditam que o trabalho ajuda o crescimento e o amadurecimento dos jovens e adolescentes".
No que diz respeito às expectativas quanto ao futuro dos filhos, a grande aspiração desses pais é ver os filhos ingressando na universidade pública, graduando-se, preferencialmente em alguma área que lhes assegure o tratamento de doutor. Muito embora considerem aceitável a qualidade do ensino público médio e fundamental, para eles essa qualidade não é suficiente para assegurar o sucesso da caminhada. "A rede privada é hoje a guardiã das chaves da melhor capacitação e ela cobra caro pelos seus serviços". Também vale ressaltar que, ao aproximar-se a conclusão do ensino médio, aumenta a angústia. Sem condições financeiras, o estudante precisa voltar-se para o campo da formação técnico-profissional. "Em linhas gerais este é o processo que origina a velha demanda das camadas mais pobres", explica o relatório.
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