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Inep 80 Anos
Estudiosos de Anísio Teixeira debatem importância do educador para o Brasil e o Inep
Os Encontros Memoráveis que marcam as comemorações de 80 anos de fundação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) começaram na manhã desta terça-feira, 23, na sede do instituto. O primeiro encontro, O Inep de Anísio Teixeira , reuniu três estudiosos da vida e obra do educador brasileiro que foi diretor do Inep entre 1952 e 1964 e teve seu nome incorporado ao da autarquia.
Clarice Nunes (UFF), Libânia Xavier (UFRJ) e João Augusto Rocha (UFBA) participaram do debate que será transformado em uma edição do programa Ao Pé da Letra, da UnBTV. A gravação – com servidores, universitários, pesquisadores da educação e comunidade acadêmica em geral na plateia – foi realizada no auditório do Inep, em Brasília. Ao final, João Augusto Rocha lançou e autografou seu livro Anísio Teixeira e a Cultura (EdUnB e EdUFBA).
Educador memorável – A professora Clarice Nunes, autora de vários artigos e dos livros Anísio Teixeira: a poesia da ação (2000) e Anísio Teixeira, para a Coleção Educadores (2010), uma biografia do educador, resgatou o processo pelo qual compreendeu porque “Anísio era memorável”, afirmou. “Era final dos anos 1970 e eu fazia meu mestrado em educação quando me deparei com esse enigma. Não havia meio termo para falar de Anísio Teixeira e isso me instigou a pesquisá-lo. Eu me perguntava a todo tempo: ‘quem é esse sujeito?’”, recordou.
A pesquisa e o estudo sobre a vida e a obra de Anísio Teixeira estão presentes na vida acadêmica de Clarice do Mestrado até os dias atuais. Mas foi em suas pesquisas para o doutorado, nos arquivos doados pela família de Anísio Teixeira ao CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, quando ela escreveu a tese Anísio Teixeira: a poesia da ação (1991), que Clarice revelou todo o imenso trabalho de reconstrução educacional realizado na década de 1930 na cidade do Rio de Janeiro, então capital do país.
Essa obra permitiu que, pela primeira vez, os arquivos de Anísio Teixeira, sob a guarda do CPDOC, fossem profundamente explorados. Segundo a pesquisadora, havia um reducionismo sobre a vida e o extenso trabalho de Anísio Teixeira em prol da educação brasileira. “Em centenas de cartas trocadas com políticos, outros educadores, alunos e mesmo pais de alunos conheci o Anísio que me move e a luta que ele travou pela educação, que considerava o direito dos direitos. Para Anísio, a educação deveria ser para todos e essa luta pela democratização da educação foi o que o moveu. Como alguém pode ter um desejo tão intenso de realizar uma obra educativa no país por toda uma vida, renovando-se a cada dia?’”, questionou a pesquisadora, segundo a qual Anísio Teixeira nunca fugiu dessa luta.
Anísio e o Inep – Outra debatedora foi a professora Libânia Xavier (UFRJ), professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGE-UFRJ). Estudiosa do Inep e seus centros de Pesquisa Educacional, e autora do livro O Brasil como Laboratório: educação e ciências sociais no projeto do Centro Brasileiro de Pesquisa Educacional (1950-1960), Libânia falou sobre a dedicação do educador para tornar o Inep em um lugar de desenvolvimento da pesquisa. “Ele entendia que essa pesquisa é que ajudaria políticos a formalizarem seus programas e planos de educação, e que guiaria os professores na adoção de métodos e atividades relevantes”, afirmou.
Para Libânia, que é sócia fundadora da Sociedade Brasileira de História da Educação e dedica-se à produção de artigos e coletâneas que reúnem estudos de interesse para o conhecimento da história educação, de suas políticas e instituições, o cenário em que Anísio chegou ao Inep foi determinante de sua ação no instituto. “Ele chegou ao Inep no pós-guerra. O mundo estava impressionado com o nazismo. Anísio se articulou à Unesco, recém fundada, para estudar as relações raciais no Brasil, momento em que despontaram outros dois jovens pesquisadores: Florestam Fernandes e Darcy Ribeiro. Naquela época, a grande novidade foi a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) dentro do Inep. A ideia era a de que só a educação democrática poderia impedir o ressurgimento do nazismo e do fascismo”, contextualiza.
Vida e obra – Professor titular aposentado da Escola Politécnica da UFBA, João Augusto de Lima Rocha conduziu a pesquisa, contratada pelo Instituto Anísio Teixeira, na Bahia, que descobriu documentos inéditos sobre o educador na década de 1980. Organizador, ex-diretor e atual conselheiro da Fundação Anísio Teixeira (FAT), no mesmo estado, João é organizador da obra Anísio em Movimento: as lutas de Anísio Teixeira pela escola pública e pela cultura no Brasil , e de uma centena de artigos, no Brasil e no exterior, sobre Anísio Teixeira.
Autor do livro Anísio Teixeira e a Cultura - subsídios para o conhecimento da atuação de Anísio Teixeira no campo da cultura e estudioso da vida e obra de Anísio desde 1985, João Augusto acaba de concluir um livro, após 28 anos de pesquisa, sobre a mal explicada morte de Anísio Teixeira, segundo o qual fica definitivamente provado que ela ocorreu no dia 12 de março de 1971 e que o corpo do educador, localizado no dia 13 de março de 1971, foi levado para o fundo do fosso de um elevador.
Mais do que estudar a morte do educador, João Augusto conhece profundamente a vida de Anísio. “Não existe no Brasil alguém que circulou tão bem em uma instituição como Anísio circulou no Inep. O Inep é o Anísio e por isso colocaram o nome dele no instituto. Nos tempos que foi seu diretor, Anísio transformou o Inep em um ‘ministério da educação”, afirmou o pesquisador, que na sequência leu um bilhete do então presidente Jânio Quadros no qual desqualificada o ministro da época ao dizer ser Anísio seu principal assessor nos assuntos da educação brasileira. “Anísio era tão forte que os próprios ministros se acomodavam. Ele fazia até seus discursos”, contou o pesquisador.
Projeto Inep 80 Anos – Pensado para recordar a história e promover as oito décadas de atuação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Projeto Inep 80 anos agrega um conjunto articulado de ações que aproveitam as comemorações para a geração e conservação da memória coletiva do Inep por meio de cinco eixos. As atividades seguem até 30 de julho de 2018 e compreendem eventos comemorativos, publicações, exposições, encontros memoráveis e um canal de participação social.
Assessoria de Comunicação Social