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Enem poderá induzir mudanças no ensino médio
26 de agosto de 1999
Entrevista
Enem poderá induzir mudanças no ensino médio
O Enem poderá induzir mudanças em relação aos processos de avaliação dos sistemas educacionais e a outros exames seletivos de ensino médio e de acesso ao ensino superior.
A opinião é da presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do Instituto, órgão ligado ao Ministério da Educação responsável pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O exame, que tem 346 mil inscritos, será realizado no próximo domingo, dia 29 de agosto, em 162 municípios. Os resultados serão aceitos por 50 instituições de ensino superior como critério de acesso aos cursos de graduação. Leia a seguir a entrevista com Maria Helena sobre o Enem.
Pergunta - No ano passado, o Enem teve 157 mil inscritos. Este ano foram 346 mil. Como o Inep avalia este aumento expressivo no número de inscritos no exame?
Maria Helena - Por ser o segundo ano do Enem, é evidente que tivemos mais tempo para fazer a divulgação, entrar em contato com as instituições de ensino e com as redes públicas estaduais, que são as principais responsáveis pela oferta do ensino médio. Acredito, também, que a adesão das universidades ao exame foi um fator determinante para incentivar o aumento das inscrições. Parece-me que são estas as duas maiores razões que levaram o Enem a ter essa projeção que ganhou hoje. Tenho certeza que no ano que vem o número de participantes será maior ainda.
Pergunta - Cerca de 50 universidades utilizarão os resultados do Enem como critério de acesso ao ensino superior. O exame também deverá começar a ser aceito pelo mercado de trabalho para seleção de pessoal. O Enem vai continuar sendo voluntário ou poderá se tornar obrigatório, no futuro?
Maria Helena - O espírito do Enem é permanecer como um exame voluntário. A intenção do ministro Paulo Renato Souza , desde o primeiro momento, foi ter um exame que avaliasse o perfil do aluno ao final da educação básica, mas sempre de caráter voluntário, uma vez que o sistema do ensino médio é muito heterogêneo e fica muito difícil pensarmos, pelo menos a curto e médio prazo, num exame deste tipo que seja de caráter obrigatório.
Pergunta - O Enem mede competências e habilidades. O vestibular, a memorização de conteúdos. Até que ponto o Enem vai mudar a maneira como o vestibular e, inclusive, as avaliações em sala de aula, são feitos atualmente no Brasil?
Maria Helena - Em geral, as avaliações têm um forte componente de indução de mudanças nos sistemas de ensino. Isto é real em qualquer contexto, em qualquer país, em qualquer situação. E o Enem não foge à regra: atuará como forte indutor de mudanças em relação aos processos de avaliação dos sistemas de ensino e a outros exames seletivos. Além disso, o Enem está totalmente ancorado nas diretrizes e no espírito das reformas do ensino médio. Então, esta será uma conseqüência quase que natural, uma vez que a reforma do ensino médio já está sendo implantada e o Enem está muito bem casado com ela.
Pergunta - Um dos objetivos do Enem é sinalizar para os sistemas de ensino, as escolas e os professores o que deve ser ensinado no ensino médio. Quais as mudanças que poderão surgir no ensino médio, nos próximos anos, a em função do Enem?
Maria Helena - A reforma do ensino médio tem como principal preocupação implementar uma abordagem pedagógica que estimule a formação geral dos alunos. Ou seja, em vez de um ensino enciclopédico, centrado na simples memorização de conteúdos, queremos um ensino que promova o desenvolvimento de competências e habilidades dos alunos. O que se espera, hoje, dos alunos que concluem a educação básica? Que eles tenham capacidade de desenvolver competências e habilidades gerais, que vão prepará-los para o mundo da vida, não só o mundo do trabalho. Espera-se que eles sejam capazes de usar os conhecimentos adquiridos ao longo dos estudos para interpretar informações e resolver problemas concretos do dia. Que sejam capazes de se inserir na vida cultural e de ser cidadãos com boa capacidade de escolha nos processos eleitorais, atuando solidariamente na vida em sociedade e se integrando ao mercado de trabalho e ao mundo globalizado.
Pergunta - Qual é a sugestão que a Sra. daria para alguém que vai fazer o Enem? O que é preciso estudar para se dar bem nas provas?
Maria Helena - O mais importante é ter tranqüilidade, porque, para fazer o Enem, não adianta decoreba, passar noites em claro estudando aquele conteúdo que ainda não sabe. Todas as informações que o aluno necessitar estarão contidas na prova. Então, não precisa se preocupar em estudar nada para fazer as provas. O Enem vai avaliar o que ele adquiriu ao longo de seus 11 anos de escolaridade. O mais importante é ter calma, ler a prova com atenção e procurar responder as questões com toda a sua energia e criatividade.