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Sairé tem ritual religioso e festival dos botos em balneário turístico do Pará
Por Geraldo Gurgel
Lago Verde, onde acontece a "disputa" dos botos Cor de Rosa e Tucuxi. Foto: Tiago Silveira/Banco de Imagens do MTur
Até segunda-feira (24), o balneário turístico de Alter do Chão (PA), nas margens do rio Tapajós, que fica a 37 km de Santarém, realiza o Festival do Sairé. O destino, que atrai turistas de todas as regiões do Brasil e também estrangeiros, vive um dos momentos altos do verão amazônico, quando os rios baixam e os visitantes procuram as praias de água doce. O Sairé é uma mistura de rituais religiosos e profanos, começando com o hasteamento dos mastros do Juiz e da Juíza da festa, que foram cortados na floresta e adornados com frutas da região, simbolizando fartura.
A festa iniciada nesta quinta-feira (20) segue com celebrações e danças folclóricas que revivem lendas típicas da Amazônia, como o golfinho de água doce que se transforma num homem bonito, seduz e engravida as mulheres. No último dia, ocorrem a “varrição da festa”, o marabaixo, a quebra-macaxeira, a derrubada dos mastros e a “cecuiara”, um almoço de confraternização entre os moradores e a festa dos barraqueiros e turistas que vivenciarem a experiência com a comunidade.
“Um festival como o Sairé, além de ajudar a divulgar Alter do Chão, é um produto turístico que agrega valor à imagem do destino. A festa gera um fluxo de visitantes bastante expressivo e movimenta a economia local. É um importante evento cultural que está no Calendário de Eventos do turismo nacional”, avalia Cristiano Borges, coordenador-geral de produtos turísticos do Ministério do Turismo. A ferramenta auxilia o turista escolher os destinos na hora de planejar uma viagem.
Um dos destaques do Sairé é o festival que envolve a disputa entre os botos Cor de Rosa e Tucuxi. O folclore dos botos gira em torno da sedução, morte e ressurreição de personagens, como a princesa Cunhantã-iborari, a rainha do Sairé, o tuxaua, o pajé e os pescadores. O enredo tem ideário ecológico, com destaque para o lago Verde, palco imaginário da trama. Quando o boto é morto por ordem do tuxaua, pai da índia iborari, que foi engravidada pelo golfinho amazônico, recai sobre ele a fúria dos maus espíritos. A pedido do tuxaua, o pajé ressuscita o boto. É a apoteose da lenda indígena.
O Festival dos Botos foi incorporado ao Sairé na década de 1970 e lembra o Festival dos Bois de Parintins (AM). O espetáculo saiu da ramada ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Saúde, padroeira da vila de Alter do Chão, para o Sairódromo. Já o símbolo do Sairé é um semicírculo, de cipó torcido, envolvido por algodão, flores, fitas coloridas e motivos religiosos, que lembram um escudo português. O estandarte é conduzido por uma mulher, chamada de Sairapora. Nos dias de Sairé, ele é fincado na principal praia de Alter do Chão, repetindo o que faziam os índios para saudar os colonizadores portugueses.
Para conhecer o cenário da festa, o turista poderá atravessar o lago Verde de lancha e, a partir da praia Ilha do Amor, subir a serra Piraoca. O ponto mais alto de Alter do Chão oferece visão privilegiada de 360 graus do rio Tapajós, do lago Verde com as baías do rio Amazonas ao norte e de Alter do Chão ao Sul. A beleza cênica das águas se harmoniza com a floresta nacional do Tapajós. A floresta nacional conta com praias paradisíacas e famílias extrativistas. Os ribeirinhos produzem artesanato indígena e atividades turísticas de base comunitária. Já em Santarém, porto de chegada e partida dos visitantes, o turista poderá conhecer, entre outros atrativos, o centro histórico, o mercado municipal e contemplar o encontro das águas dos dois rios Amazonas e Tapajós.
Edição: Vanessa Sampaio