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Lavagem do Bonfim une turismo, cultura e fé em Salvador
Por Geraldo Gurgel
Crédito: Marcelo Reis/ Iphan
A próxima quinta-feira (11) é mais um dia de festa, religiosa e profana, para quem está curtindo o verão em Salvador. A Lavagem do Bonfim atrai devotos e turistas do mundo inteiro. A procissão de oito quilômetros sintetiza o espírito baiano de homenagear os santos católicos e orixás do candomblé. Durante a caminhada, o sincretismo religioso se torna explícito no abraço de católicos, mães e filhas de santo que manifestam a fé no Senhor do Bonfim ou Oxalá, o senhor do branco, pai da luz e absoluto do universo.
Todos os anos, na segunda quinta-feira de janeiro, cerca de 800 mil pessoas participam da procissão. Ao término da caminhada entre as igrejas de Nossa Senhora da Conceição da Praia e do Senhor do Bonfim, as baianas, que abrem o cortejo de fé e devoção popular, despejam seus vasos com água de cheiro no adro da igreja e sobre as cabeças dos fiéis, em um ritual de fé e esperança realizado há 273 anos, desde a chegada da imagem do Senhor do Bonfim de Portugal. Aos rituais religiosos, somam-se os festejos profanos com música, bebidas e comidas típicas da cozinha baiana. Essa mistura faz da Lavagem do Bonfim uma das festas mais comemoradas da Bahia e do verão de Salvador.
A lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim é considerada a segunda maior manifestação popular da Bahia, depois do Carnaval. A festa começa às 10 da manhã com um cortejo comandado por baianas com trajes típicos - turbantes, saias engomadas, braceletes e colares - vestidas de branco, a cor de Oxalá, o deus Yoruba sincretizado na imagem católica do Senhor do Bonfim. Desde a última sexta-feira de dezembro, o andor de madeira que será usado para conduzir a imagem na procissão está exposto na igreja da Colina Sagrada para amarração das tradicionais fitinhas com os pedidos dos fiéis. Outra tradição é amarrar as fitinhas nas grades do santuário que é visitado o ano inteiro por turistas de todo o mundo.
A Igreja do Bonfim, de 1754, é o principal símbolo do sincretismo religioso da Bahia. A lavagem só teve início em 1773, quando os escravizados foram obrigados a lavar a Igreja para a festa do Senhor do Bonfim que era realizada desde 1745 na igreja da Penha. Os adeptos do candomblé adotaram a lavagem como parte da cerimônia das Águas de Oxalá. A igreja proibiu o ritual no interior do templo e a lavagem se transferiu para as escadarias e o adro. Durante a lavagem, a igreja permanece fechada enquanto cerca de 200 baianas despejam água de cheiro na parte externa da igreja ao som de toques de atabaque e cânticos de caráter afro-religioso. Atualmente o ritual tem aspecto ecumênico.
PROGRAMAÇÃO - Quem já está em Salvador poderá participar da festa do Senhor do Bonfim desde a abertura da programação religiosa nesta quinta-feira (04). O novenário segue até o dia 13, sempre às 19h. O principal dia da festa, depois da procissão e da lavagem do dia 11, é 14 de janeiro, domingo, quando é realizada a missa solene em homenagem ao santo. A celebração é presidida pelo arcebispo primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, às 10h. Neste mesmo dia, os fiéis poderão assistir celebrações às 5h, 6h, 7h30 e 15h unindo fiéis de culturas e nacionalidades diferentes.