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Chapadões do Brasil e o turismo para quem quer praticar escalada
Escaladores Gabriel e Sofia desbravam os paredões do Brasil. Crédito: divulgação
Existem várias vantagens em fazer turismo dentro do próprio país: as riquezas históricas, as delícias culinárias e o cenário multicultural fazem com que o viajante sempre descubra algo novo. Além da diversidade de sabores, jeitos e estilos, o Brasil também tem diversidade natural de tamanho continental, contando com parques, serras, florestas e montanhas. Diante dessa imensidão, o país é um local para a prática de esportes que envolvem a natureza, como a escalada.
O esporte consiste em escalar paredes de rocha, especialmente com o auxílio de cordas e equipamentos especiais. O objetivo é atingir um ponto final ou um cume de uma rocha ou estrutura, como um muro. Recheado de paredões espalhados nas cinco regiões, o Brasil pode ser considerado um destino ideal para os amantes da prática.
O educador físico e professor de escalada, Gabriel Veloso, 34 anos, é um dos amantes dos paredões brasileiros. Ele se apaixonou pelo esporte quando começou a treinar, em 2012. De lá para cá, o amor pelas rochas só aumentou, fazendo com que o professor pegasse a estrada várias vezes para escalar. Gabriel já praticou escalada em Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro, Bahia, Tocantins e pretende continuar. “Eu viajo para escalar. Todas as férias e momentos de folga que tenho busco locais que posso conhecer para praticar o esporte. Foi assim que conheci vários estados do Brasil”, conta.
Gabriel relata que, inclusive, já fez amizades país afora por conta da escalada: “A gente acaba conhecendo pessoas de outros locais do Brasil que recomendam os pontos de escalada de seus estados e de outros cidades que já conheceram. Acaba virando uma rede forte de escaladores e de destinos para praticar o esporte, fomentando o turismo em locais que seriam até então desconhecidos por muita gente”.
O Brasil é conhecido por ter espaços para escalada nas cinco regiões pois, de norte a sul, os paredões tomam conta das paisagens naturais. No Norte, Gabriel explica que existem paredões em Tocantins, Roraima e Amazonas. No Nordeste, o escalador relata que os paredões estão em praticamente todos os estados, com destaque para a Chapada Diamantina, na Bahia, e cidades como Bom Jesus da Lapa, São Desidério e Itatim, também no estado baiano.
Descendo o mapa, no Centro-Oeste, “coração” do Brasil, também são encontrados paredões a serem desbravados, segundo o escalador. Goiás é um exemplo de estado para a prática, contando com a Chapada dos Veadeiros e cidades como Cocalzinho de Goiás, Cristalina e Mambaí.
No Sudeste, o Rio de Janeiro, um dos berços da escalada no Brasil, de acordo com o professor, é destino certo para encontrar um paredão. Por lá, é possível escalar dentro da cidade - em atrativos como o Corcovado - e em importantes parques como o Serra dos Órgãos. Mas, o destaque no Sudeste vai para Minas Gerais, que tem mais locais para escalar do que países inteiros da Europa, segundo Gabriel. As cidades mineiras de Milho Verde e Montes Claros, além da Serra do Cipó, são os locais indicados pelo professor.
Os três estados que compõem a Região Sul - Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina - são detentores de muros, paredões, chapadões e montanhas para a prática, mas o destaque vai para Curitiba, no Paraná, outro berço da escalada em montanha.
A designer Sofia Guerra, de 23 anos, assim como Gabriel, acredita que o Brasil é um destino ideal para escaladores. Ela também se apaixonou pelo esporte e esse amor “à primeira vista”, ou melhor, “à primeira escalada”, tem se perpetuado. “A minha experiência com a escalada começou há três anos quando eu via, no trajeto que fazia para a universidade, um ginásio onde era realizada a prática. Resolvi entrar e, já era: me apaixonei”, narra Sofia.
A designer explica que o esporte trouxe uma nova percepção para o dia a dia: “Hoje eu escalo toda semana e isso foi uma mudança drástica, porque eu era uma pessoa não muito ativa e ficava doente com muito mais frequência. Sou mais saudável em vários aspectos e sei que foi a escalada uma das grandes responsáveis por isso. Percebi mudanças no meu corpo e me tornei uma pessoa mais ativa. Saber que vou escalar à noite se tornou uma motivação para encarar meu dia a dia e é uma alegria lembrar que isso existe na minha vida, pois me ajuda a passar por muitos momentos”, conta, entusiasmada, a escaladora.
Sofia explica que a mudança drástica na rotina também trouxe uma mudança na forma de fazer turismo. Assim como Gabriel, ela aproveita cada tempo livre para praticar o esporte nos paredões do Brasil: “Atualmente eu viajo para escalar, sem dúvida”. Para Sofia, o Brasil é o país ideal para a escalada por conta da sua diversidade natural: “O Brasil tem muita variedade de pedra, de estilo e de regiões. É possível achar lugares ideias para escalar no mesmo país, pois o clima é diverso, existem vários tipos de rochas, o que proporciona diferentes ‘tipos’ de escalada. Por todos esses motivos, eu acredito que seja um mercado turístico para os brasileiros e os estrangeiros também”.
De fato, o ato de se locomover pelo país faz com que haja fomento ao turismo. Além de ser um esporte olímpico, o que já amplia a visibilidade da prática e dos locais onde é possível escalar – a escalada conta com festivais e competições espalhados pelo Brasil, reunindo turistas aventureiros que movimentam setores como o de hospedagem, locomoção e alimentação.
Sofia e Gabriel são escaladores que veem a relevância do esporte para o turismo nacional. Juntos, eles buscam democratizar a escalada e trabalham no Guia de Escalada do Belchior, um material idealizado por Gabriel Veloso e pelo escalador Matheus Martins contando, ainda, com a diagramação de Sofia. O trabalho retrata informações sobre escalada e o registro das vias existentes na região onde fica a cidade de Água Fria. Feito de forma colaborativa e com o apoio financeiro voluntário, o Guia, produzido ao longo de cinco anos, estará disponível gratuitamente e é uma forma de popularizar o esporte. Ele será lançado nesta quarta-feira (21.09) mas já é possível conhecer um pouquinho do trabalho: CLIQUE AQUI e AQUI para acessar e/ou contribuir com o projeto.
ESCALADA INESQUECÍVEL – O local retratado no Guia não foi escolhido à toa e seus idealizadores Gabriel e Matheus sabem disso. De beleza rara, o lugar encanta os olhos dos escaladores, inclusive os de Sofia, que tem o Pico do Belchior como um de seus locais favoritos para escalar. “Quando cheguei lá me senti em um paraíso. Parece um lugar mágico mesmo, repleto de grutas, com uma espécie de ‘labirinto’ de rochas tão diferente e em pleno cerrado que eu tenho até dificuldade de descrever, de tão encantador", explica. “Toda essa beleza de Belchior, aliada à paixão pelo esporte, foram os motivos que me fizeram engajar na produção do Guia. Com ele, vamos incentivar uma escalada consciente e que preserve a grandiosidade e beleza do local, pois queremos que mais pessoas possam conhecer e viver as mesmas maravilhas que nós vivemos lá”, finaliza a designer.
Gabriel traz uma visão diferente. Ele descreve as montanhas como o local preferido de escalada. “Existem vários tipos de lugares para se escalar: rochas, paredões, muros. Mas eu, quando estou na montanha, me sinto mais conectado com a natureza, consigo ver o horizonte e aquela paisagem de tirar o fôlego. A montanha faz a gente se conectar com o presente e com a escalada em si. Ela busca um envolvimento ainda maior de quem está escalando, então a mente e o corpo trabalham ali com muita estratégia”, relata.
SOBRE O ESPORTE – A escalada possui diferentes modalidades: “Via” é a escalada com corda em picos de maior altitude; boulder é praticado em locais mais baixos, sem corda e com colchões na base para evitar se machuque, contando, ainda com outros parceiros para auxiliar na segurança. Dentro dessas modalidades, o turista praticante encontrará, ainda, a escalada em livre (sem ajuda de nenhum aparelho, apenas usando o corpo para subir algum trecho) e a escalada artificial (com equipamentos como corda, gancho, capacete e cadeirinha). Atualmente, a escalada é um esporte olímpico, sendo praticado em paredões artificiais e com um aparato específico.
Além de beneficiar a saúde por meio dos movimentos corporais, resistência e força, o esporte também incentiva, de acordo com o professor Gabriel, a superação de limites e medos, além de ensinar a lidar com fracassos, frustrações, adversidades e ser fonte de autoconhecimento. Paras ampliar a segurança, o esporte é praticado em duplas ou grupos e pode ser realizado por pessoas de todas as idades, desde que tomados os devidos cuidados. É importante que o turista que vá escalar se atende as medidas de segurança e contrate profissionais especializados na prática.
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Por Nayara Oliveira
Assessoria de Comunicação do Ministério do Turismo