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RODOVIAS
Nova Fronteira Agrícola: melhorias previstas com o leilão da Rota dos Cristais coincide com mudança na microeconomia do oeste mineiro
“Eu produzo um pouco de cada coisa. Como sou agricultor familiar, tenho sempre que ter alguma coisinha diversificada para entregar nas escolas e também vender na Ceasa [de Belo Horizonte]. Então planto abóbora, melancia, melão, quiabo, milho verde, algumas plantas folhosas, cenoura, beterraba”, explicou o agricultor Marcílio José Maciel da Silveira. Ao longo de décadas a pecuária de corte e a silvicultura (cultivo de madeira de reflorestamento) foram propulsores econômicos da Central Mineira, região cortada pela BR-040.
Mas o sustento de quem vive nessa parte do país está mudando. Nos últimos anos, a área se fortaleceu enquanto produtora de grãos, especialmente soja, sorgo e milho em grande escala, além de horticultura dentro da agricultura familiar e de pequeno e médio porte. Potencial favorecido pela extensão da área de solo cultivável e de fácil mecanização, presença de ricos mananciais e um bom índice pluviométrico ao longo de todo o ano.
Esses fatores despertaram a atenção de empresas consumidoras de produtos de cooperativa e entidades de pesquisa e fomento como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que tem injetado tecnologia na região impulsionando o desenvolvimento das atividades agrícolas em maior escala. A eles se soma outro aspecto crucial para a propulsão econômica da Central Mineira que é a sua localização.
A BR-040 é um dos mais importantes corredores logísticos do Brasil e liga o Centro-Oeste ao Sudeste e a Central Mineira está no coração desta rodovia. Isso a quem produz na região um rápido acesso tanto à Grande Belo Horizonte, quanto ao Noroeste de Minas e Triângulo Mineiro que fazem limite com o estado de Goiás. Paralelamente, uma grande presença de vicinais que se conectam à rodovia aumenta a capilaridade desta malha, permitindo que os produtos de Marcílio cheguem à mesa dos brasileiros. Vantagem, porém, que depende das boas condições da malha.
Com 56 anos, Marcílio José vive em Paraopeba, uma das 30 cidades que integram a Central Mineira. Para a maioria das entregas, ele usa um carro branco com caçamba que tem, sempre dirigindo pela BR-040. Muitas vezes, mais de uma vez por dia. “Essa BR é por onde escoam nossos produtos, os produtos da região. Se ela melhorar vai ser bom para todo mundo. Por exemplo, minha filha está vendendo lá em BH hoje. Se acabar o milho, ela pode me ligar e eu colho aqui, consigo levar a tempo ainda hoje. No outro dia, corre o risco do preço baixar porque já deu tempo de chegar milho de outro estado”, conta.
O trecho da BR-040 que passa pela Central Mineira integra a chamada Rota dos Cristais. Com 594,80 quilômetros ela forma a BR-040/GO/MG. Nasce na cidade de Cristalina, em Goiás, e segue até Belo Horizonte, capital de Minas. Esse trecho vai a leilão nesta quinta-feira (26), na Bolsa de Valores de São Paulo, com uma previsão de investimentos que chega aos R$12,096 bilhões (Capex e OPEX). Recursos essenciais para o desenvolvimento de uma região que desponta como a nova fronteira agrícola do país.
A maioria dos produtos escoados pela rodovia são perecíveis e carecem de cuidado no transporte. Muitos deles têm baixo valor agregado, o que tornou a baixa tarifa de pedágio uma das condições impostas pelo Ministério dos Transportes no edital do leilão. Como são alimentos voltados ao consumo interno, base da cesta básica que vai à mesa do brasileiro, qualquer tensão na infraestrutura ao longo do percurso logístico pode resultar em inflação dos preços.
Essa lógica que impacta diretamente tanto na vida de produtores da agricultura familiar quanto das fazenda de médio e grande porte. A produção leiteira ainda é uma das principais fontes de geração de riqueza no oeste mineiro, que compete com os novos negócios do ramo agrícola.
Melhorias à vista
Para suportar os mais de 14 mil veículos diários que cruzam a BR-040/GO/MG, é preciso mais manutenção e menos tapa-buraco. “Investiram muito pouco na estrada”, observa Marcílio. Agora, o trabalho de restauração e preservação ficará a cargo da empresa que vencer o leilão. Pelo contrato a empresa deverá prestar serviços de recuperação, manutenção, conservação, implantação de melhorias e ampliação de capacidade de fluxo da rodovia por 30 anos.
Mais de 4,2 milhões de pessoas serão beneficiadas direta e indiretamente, especialmente as que residem nos municípios ao longo da estrada como Cristalina, Paracatu, Lagoa Grande, João Pinheiro, São Gonçalo do Abaeté, Curvelo e Paraopeba, onde Marcílio reside.
Nos primeiros anos de concessão terá início a um conjunto de obras que incluem a duplicação 9,9 km da rodovia e a construção de 342,9 km de faixa adicional e 61,6 km de vias marginais. Também devem ser erguidas 43 passarelas de pedestres, executadas 18 passagens de fauna, instalados dois pontos de Parada de Descanso.
Já entre as inovações trazidas pelo projeto estão o critério menor tarifa associado a curva de aporte; a implementação de uma tarifa diferenciada para pistas dupla e simples; desconto de 5% para pagamento eletrônico; descontos progressivos de acordo com a frequência de uso da rodovia favorecendo quem precisa pegar a estrada diariamente; e alocação de 1% da receita bruta em infraestrutura resiliente.
Assessoria Especial de Comunicação
Ministério dos Transportes