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Dia Internacional da Mulher
Desafios da mulher no mercado de trabalho: desigualdade de gênero e racismo persistem

Foto: Arquivo MTE
As mulheres enfrentam maiores dificuldades para progredir em suas carreiras, recebem salários inferiores aos dos homens em cargos equivalentes e têm menos proteção social, o que evidencia uma discriminação de gênero e dificulta sua saída da pobreza extrema. Esses temas foram debatidos no XVI Seminário da Rede de Observatórios do Mercado de Trabalho, realizado ontem (13), sob a coordenação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com transmissão online pelo YouTube e participação de especialistas da área. O evento discutiu o tema "Mulheres no Mercado de Trabalho", em alusão ao Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março.
A subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do MTE, Paula Montagner, coordenou o seminário e ressaltou a importância de retomar discussões sobre inclusão e igualdade salarial entre homens e mulheres.
Flávia Moura Rocha Parente Muniz, representante da ONU Mulheres no Brasil, apresentou dados globais sobre o tema. Segundo a ONU, apenas 63% das mulheres entre 25 e 54 anos estão empregadas, contra 91% dos homens. Nos países de baixa renda, 91% das mulheres trabalham na informalidade, sem proteção social ou direitos trabalhistas garantidos. No entanto, desde 1995, o número de países que adotaram leis contra a discriminação de gênero no ambiente de trabalho aumentou de 58 para 162. “Esses países já possuem algum tipo de legislação para combater a desigualdade de gênero”, destacou Flávia, acrescentando que, apesar dos avanços, as mudanças ainda são insuficientes.
Atualmente, cerca de 2 bilhões de meninas e mulheres no mundo não têm nenhuma proteção social e realizam, em média, 2,5 vezes mais trabalhos não remunerados do que os homens, principalmente em atividades de cuidado – chegando a até cinco vezes mais horas em algumas regiões. “Se as mulheres dedicam cinco horas a mais a tarefas de cuidado, que beneficiam toda a sociedade, isso gera uma desigualdade que impacta seu desenvolvimento e limita seu potencial”, alertou Flávia. Segundo a ONU, investimentos em políticas de cuidado poderiam gerar até 300 milhões de empregos até 2035, com 78% das vagas ocupadas por mulheres.
No Brasil, os desafios seguem a mesma tendência global. Entre 2012 e 2019, a participação feminina no mercado de trabalho subiu de 51,55% para 54,33%. No entanto, com a pandemia de COVID-19, essa taxa caiu para 52,7% em 2024. “A recuperação pós-pandemia tem sido lenta, e a participação feminina ainda não voltou aos níveis pré-pandêmicos”, afirmou Cristina Pereira Viecelli, economista do Dieese.
A desigualdade de gênero no mercado de trabalho se agrava quando se analisa a questão racial. Mulheres negras enfrentam taxas de desemprego e subutilização da força de trabalho mais altas. Em 2024, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a taxa de desocupação foi de 4,4% para homens brancos, 5,8% para mulheres brancas e 9,3% para mulheres negras.
As diferenças salariais também são evidentes: enquanto um homem branco recebe, em média, R$ 8.849,00, uma mulher negra ganha menos da metade desse valor (R$ 3.964,00), e uma mulher não negra recebe R$ 5.478,00. A maior desigualdade salarial ocorre em cargos de nível superior e funções de liderança. “Por isso, políticas de igualdade salarial são fundamentais para trazer mais transparência às empresas e reduzir essa prática discriminatória”, destacou Cristina.
Outro obstáculo enfrentado pelas mulheres é a segregação ocupacional. No Brasil, a presença feminina nas áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) ainda é baixa, tanto na educação quanto no mercado de trabalho. Mariana Eugênia de Almeida, analista técnica de Políticas Sociais do MTE, apresentou um estudo sobre essa questão.
Segundo a pesquisa, as mulheres estão concentradas em cursos superiores voltados para a área de cuidados e são minoria nas áreas STEM, com pouca evolução nos últimos 12 anos. Em 2010, elas representavam 29,2% dos formandos em carreiras STEM; em 2022, esse percentual subiu apenas para 30,3%. Já na área de cuidados – que inclui saúde, bem-estar, serviços domésticos e alimentação – as mulheres representavam 76,8% dos formandos em 2010, e esse número caiu levemente para 75,9% em 2022.
“Entre 2003 e 2021, todas as áreas registraram crescimento no emprego formal no Brasil. No entanto, o setor STEM cresceu menos e, para as mulheres, o crescimento foi ainda menor”, explicou Mariana. “Nas áreas de cuidados, elas estão mais presentes, com salários mais baixos, mas com maior estabilidade”, acrescentou.
A igualdade salarial e a inclusão são essenciais para garantir diversidade, melhores condições de trabalho e políticas públicas eficazes. Para que homens e mulheres tenham melhores condições de trabalho, é fundamental que seus filhos tenham acesso a creches e escolas e que familiares dependentes recebam cuidados adequados, seja em casa ou em instituições especializadas.
Assista ao debate aqui.
Pesquisa sobre mulheres em STEM
Apresentação mulheres no mercado de trabalho
Publicação da ONU Mulheres: Progress on the Sustainable Development Goals: The gender snapshot 2024 | Publications | UN Women – Headquarters