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Qualificação, Emprego e Renda
Ministério do Trabalho e Emprego debate avanços e desafios da inteligência artificial no mundo do trabalho
Foto: Luiza Frasão / MTE
O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) e as iniciativas de outros países para mensurar os impactos dessa tecnologia foram os temas centrais da segunda reunião do Grupo de Trabalho sobre IA, instituído pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O debate aconteceu na última quinta-feira (29), na sede do órgão em Brasília, reunindo representantes da área acadêmica e do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que vieram apresentar o PBIA.
O objetivo do GT é conhecer o impacto da IA no trabalho e gerar informações que permitam que a tecnologia possa ser colocada a serviço de todos e não apenas de alguns. Segundo a coordenadora do GT, subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho, do MTE, Paula Montagner, o PBIA será utilizado como referência nas estratégias a serem debatidas e elaboradas. Inicialmente, o GT focaria nas demandas internas, mas devido à abrangência da IA na sociedade e à velocidade das mudanças, houve uma ampliação dos objetivos. “Percebeu-se que é necessário que o debate seja em rede, com estudos e outros elementos para entender os impactos da IA no mundo do trabalho, tanto no privado como no público”, explicou a subsecretária.
Paula Montagner também destacou que o mundo do trabalho formal tem um papel importante para a negociação entre representações sindicais de empresas e de trabalhadores, o tema mais presente é o dos salários e das condições de trabalho, mas precisamos saber como dar voz ao trabalho na inclusão dessas tecnologias tão poderosas. “Nos debates do G20 foram iniciados debates para que trabalhadores, empresas e governo busquem pontos comuns na valorização das novas tecnologias para desenvolver o Brasil”, afirmou a subsecretária.
Entre os desafios apontados no PBIA estão a formação e retenção de talentos e a perda de empregos. Na avaliação da coordenadora-geral de Transformação Digital, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Eliana Cardoso Emediato de Azambuja, que está à frente do PBIA, a estratégia de capacitação é a mais importante para garantir pessoas qualificadas para trabalhar na infraestrutura que será instalada. Ela explica que essa capacitação em IA e tecnologia deve ser em todos os níveis, desde o básico até especialistas, como mestres e doutores que realizam pesquisas. “É isso que permitirá dar um salto por meio da tecnologia, como já está acontecendo na maioria dos países”, destacou Eliana.
Para que isso aconteça, ela acredita que o caminho seja a parceria público-privada, citando a Escola do Trabalhador 4.0 como exemplo. Em conjunto, o MTE e a Microsoft disponibilizaram 5.5 milhões de vagas em cursos online na área de tecnologia, do nível básico ao avançado.
Estudo de caso da Alemanha
Além de investir em capacitação, é essencial que o Estado proteja os trabalhadores que perderam seus empregos devido à AI, enquanto são requalificados para retornarem ao mercado de trabalho. Segundo Marcelo Augusto Graglia, coordenador do grupo de pesquisa Transformação Digital e Sociedade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e do Observatório do Futuro do Trabalho, a Alemanha tem desenvolvido uma estratégia interessante nessa transição, integrando os cadastros dos trabalhadores das áreas de saúde e trabalho. Dessa forma, esses trabalhadores recebem o apoio psicológico, enquanto estão em processo de requalificação e de recolocação no mercado de trabalho, tendo o Estado uma visão integral das pessoas. “Há alguns anos, a Alemanha também aumentou o período que os trabalhadores recebem o benefício social, que é equivalente ao nosso Seguro-Desemprego”, destacou o pesquisador.
Graglia citou ainda o caso em que uma empresa alemã fechou uma fábrica de roupas esportivas na China, com 1.200 funcionários, e abriu uma nova na Alemanha, mais tecnologia e menos poluente, permitindo a sua instalação mais próxima da cidade, o que facilitou o deslocamento dos trabalhadores. No entanto, nessa nova fábrica, o número de funcionários foi reduzido para 90.
Ele também destacou a dicotomia existente no Brasil: embora mais pessoas tenham entrado no mercado de trabalho formal, com melhores salários, ainda há mais de 7 milhões de desempregados. Por outro lado, a área tecnológica fechou o ano passado com mais de 300 mil vagas em aberto, devido à falta de trabalhadores qualificados. “Não vamos conseguir desenvolver tecnologia no país se não tivermos gente qualificada”, salientou o pesquisador.
Outro ponto sensível é a fuga de profissionais brasileiros para outros países. Ele mencionou que a China enfrentou essa mesma situação e reverteu o processo implementando políticas públicas que trouxeram de volta um milhão de cientistas que estavam trabalhando em outros países.
Debate Social
Caroline Nascimento Pereira, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), do MCTI, defende que investir no PBIA é crucial para garantir infraestrutura e a soberania do país, além de proteger os trabalhadores. Ela argumenta que a IA já é uma realidade e, se não tivermos um plano nacional, uma estratégia, as empresas brasileiras terão que comprar essa tecnologia no exterior, se automatizando e as pessoas ficarão desempregadas igual “ter um plano desses é garantir de certa forma a proteção do país”.
Ao final da reunião, Paula Montagner destacou que a sociedade entende que a tecnologia não é apenas um produto científico, mas também uma questão social que envolve diversos atores. Segundo ela, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) recomenda que esse seja um diálogo participativo, para que a IA se torne inclusiva e abusos cometidos pela não regulação desses novos tipos de trabalho possam ser controlados. “Precisamos aprender a dialogar com a sociedade sobre essas transformações, para que todos compreendam que há vantagens e desvantagens e para que possamos encontrar formas coletivas de proteção”, concluiu Paula.
As reuniões do Grupo de Trabalho sobre Inteligência Artificial são quinzenais. Confira a íntegra da reunião aqui.