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Pesquisas apontam que as desigualdades persistem no mundo do trabalho
Foto: Matheus Damascena - ASCOM/MTE
As desigualdades de gênero no mundo do trabalho persistem, sendo necessário olhar os indicadores de forma territorial, além de aproveitar os recursos da Inteligência Artificial para diminuir essas brechas ao invés de aumentá-las. Duas pesquisas com essas temáticas foram apresentadas na última rodada de discussão da 2ª Reunião Técnica do Grupo de Trabalho sobre Emprego, do G20 Brasil, realizada em Brasília (DF), no dia 28, que teve como objetivo combater às desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho.
A Inteligência Artificial avança a passos largos sobre o mundo do trabalho e tem provocado mudanças nas competências e habilidades exigidas. Em pesquisa realizada em parceria com a Unesco, Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apontou que 55% dos homens têm acesso à internet, enquanto esse número fica em 48% quando se trata das mulheres. Esses dados foram apresentados pela especialista em trabalho do BID por Lívia Gouvêa Gomes.
Segundo Lívia, algumas profissões femininas que têm mais competências interpessoais e socioemocionais, vem sendo menos ameaçadas pela IA.“Tradicionalmente as mulheres concentram-se em prestações de cuidados. Por outro lado, as mulheres predominam em ocupações de apoio e serviços com potencial de automação mais baixo. E estão sub representadas em cargos administrativos que representam 70% das ocupações que tem maior risco de automação. As mulheres também estão sub representadas em cargos mais complexos que aumenta o risco de melhora”, explica Lívia Gouvêa.
No entanto, o impacto da IA não é tão óbvio e uniforme no mercado de trabalho, o que, conforme Lívia, isso depende muito do contexto, como posição social e, de uma forma mais ampla, envolve questões econômicas e culturais, tanto das mulheres como nos países onde estão.
O certo é que a procura por competências digitais têm crescido e as mulheres têm menos habilidades na área de tecnologia da informação e de comunicação, menos letramento digital. Em 2019, conforme a pesquisa em questão, as mulheres tinham 35% menos probabilidade de usar a tecnologia da informação. “As mulheres estão sub representadas na área da tecnologia da informação. Então é necessário políticas e programas para fechar essas disparidades de competências digitais e preparar essas mulheres”, destacou Lívia Gouvêa.
Brasil: é necessário analisarmos os indicadores por território
Recentemente, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) concluiu o primeiro Relatório de Igualdade Salarial, que mostra a diferença de salário médio entre mulheres e homens no Brasil, a partir de informações fornecidas por empresas com mais de 100 empregados. Esses dados foram apresentados pela subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho, Paula Montagner. Nele, observa-se que as mulheres, no país, ganham 80,6% do salário pago aos homens. O relatório também mostra dados por estado, o que permite ver a desigualdade territorial.
“As falas que assisti ontem e hoje, a maioria indica o rendimento médio, a remuneração média, que homens e mulheres têm. Ou, então, a remuneração mediana, praticamente todos chamam atenção para isso”, fala Paula.
O questionário aplicado, conforme Paula Montagner, apontou que, no Brasil, 52% das empresas grandes têm plano de cargos e salários, mas dentro da territorialidade isso tem uma variação enorme, que vai de 42% a 60%. Também foi perguntado se essas empresas faziam política para mulheres, mulheres negras, mulheres chefes de família com filhos, população LGBTQI+ e se tinham atividades para pessoas com deficiência.
“Chamo atenção que poucas empresas têm políticas para a contratação de mulheres, 33% indicaram ter. Ao se analisar territorialmente, observa-se que em alguns estados, com baixa densidade demográfica, apenas 25% das empresas responderam ter esse tema como parte das suas ações, enquanto, em outros com maior densidade, esse percentual é de 40%”, ressalta.
Outra pergunta foi sobre as políticas de contratação para a população LGBTQI+. Nesse quesito a média geral é de 20%, sendo que em estados com maior visibilidade se chega a 28, 29%. Já para políticas de contratação de mulheres negras, a média é de 26%, variando territorialmente entre 19% e 35%.
“Vejam que a diversidade também é uma diversidade territorial. Então falar dessas informações e ver apenas dos dados médios do país, tem o seu valor, mas precisamos avançar para falar também do ponto de vista territorial. Nós estamos conseguimos avançar para que em todos os territórios, todas as mulheres e todos os homens estejam envolvidos, aqui, no esforço que estamos fazendo para acelerar os processos de igualdade salarial”, avaliou Paula Montagner.