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Potências Negras discute a tecnologia como ferramenta de inclusão social
Como a produção de tecnologia e inovação pode impactar a vida das pessoas invisíveis e vulnerabilizadas? Como as pessoas excluídas da cadeia produtiva, em função de raça e território, podem se beneficiar da tecnologia? Questões desafiadoras como essas foram colocadas no Grupo de Trabalho Potências Negras, do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), que esteve reunido durante toda a quarta-feira, 09/10, na sede do Banco do Brasil, em Brasília (DF). O evento contou com falas de Alcielle Santos, Ana Fontes, Mônica Veloso e Jeovani Salomão, além de Tiago Nicácio, diretor de Programa do Conselhão, Caetana Franarin, da Fecomércio, Christian Tadeu, da Federação Assespro, e professor Ivan Siqueira.
A proposta do Potências Negras é evidenciar o uso da tecnologia como estratégia de reparação para as consequências da escravidão. A diáspora forçada trouxe conhecimento técnico e social que foi explorado, mas também produziu tecnologias sociais essenciais para a resistência negra. A estrutura do quilombo, por exemplo, integra saberes ancestrais e modernos, promovendo equilíbrio social.
O Potências Negras, formado por cerca de 40 mulheres negras do CDESS, defende políticas públicas voltadas para raça e gênero. Rosangela Hilário, coordenadora do projeto e assessora do Conselhão, salientou que essas políticas precisam ser pensadas fora dos gabinetes, levando em conta as tecnologias sociais criadas por quem vive na margem.
Durante o encontro, foi discutido o impacto da Inteligência Artificial (IA) no mercado de trabalho. A conselheira Mônica Veloso ressaltou a importância de debater o Plano Brasileiro de IA de forma ampla e democrática, com o intuito de evitar a ampliação das desigualdades que a IA pode gerar. Além disso, Christian Tadeu de Souza Santos, presidente da Federação das Associações das Empresas Brasileiras da Tecnologia da Informação (Assespro), destacou que as empresas de tecnologia têm responsabilidade social e devem atuar de forma alinhada com a justiça social e a equidade racial.
Perfil do setor
O setor de tecnologia, que empregou 1.200 pessoas em 2023, está concentrado no Sul e Sudeste, com maioria branca e masculina (51% brancos e 31% negros – desses, 221 mil são homens e 151 mil mulheres). Os dados foram apresentados por Sérgio Sgobbi, diretor-executivo da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom). Ele mostrou ainda que o setor de tecnologia é bastante lucrativo, representando 6,5% do PIB (cerca de R$ 710 bilhões em 2023), um crescimento de 6,3% em relação a 2022. A diferença salarial entre homens e mulheres no setor de TI é de 37%, enquanto no Brasil é de 20%.
Os desafios são muitos. A Brasscom aponta que o Brasil precisará gerar 420 mil vagas no setor de TI até 2025, mas o país forma apenas 53 mil profissionais por ano. A proposta central do evento é que a produção tecnológica seja uma ferramenta de inclusão para as periferias, combatendo a exclusão e promovendo o desenvolvimento de pessoas negras e periféricas em áreas de inovação.
Tecnologia como ponte, não barreira
Christian Tadeu, da Assespro, defende que a tecnologia seja uma ponte e não uma barreira. Para isso, é necessário um esforço conjunto entre governo, empresas e comunidades. A criação de políticas públicas e ações intersetoriais que priorizem a equidade racial é fundamental para transformar territórios periféricos em polos de inovação. Essas ações precisam ser concretas, visando aumentar a empregabilidade e a qualificação de pessoas negras no setor tecnológico.
Além disso, o evento contou com apresentações culturais, como a do projeto "Jovem de Expressão", que há 17 anos atua em Ceilândia (DF), oferecendo oficinas artísticas e cursos educacionais para jovens da periferia. De acordo com a conselheira Cláudia Maciel, uma das precursoras, mesmo com os desafios de qualquer projeto social, o "Jovem de Expressão" orgulha-se de ter 50 jovens formados na UnB, que ingressaram na universidade graças ao cursinho da instituição.
Próximos encontros
Serão quatro encontros para tratar de Tecnologia. Esse de Brasília, para provocações; um em Recife, onde o grupo conhecerá as boas práticas; outro no Rio de Janeiro, para tratar de tecnologia social e o último em São Paulo onde será elaborado um documento para ser entregue ao presidente Lula no pleno de 2025.