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Ministro de Temer minimiza demissões de dois colegas e defende aumento de servidores
Geddel diz que não teme Lava-Jato: ‘Sei o que eu fiz no verão passado’
Entrevista ao Jornal O Globo - por Simone Iglesias e Júnia Gama 05/06/2016
Responsável pela articulação com o Congresso, o ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, defende aumentos de servidores, minimiza as demissões de dois colegas e garante não temer Lava-Jato.
Por que dar reajuste para o funcionalismo em um momento de redução de gastos?
Quem governa se desgasta, ou então não governa. Não foi da noite para o dia. Esperava-se que a votação ocorresse só na semana que vem. Esse reajuste foi proposto desde o governo passado, foram feitas várias mesas de negociações e está embutido no déficit real de R$ 170 bilhões.
Por que o próprio líder do governo na Câmara, deputado André Moura, foi pego de surpresa?
Ele não foi pego de surpresa. Havia uma dúvida se votava na semana que vem ou nesta semana. Conversando com os líderes, vi que tínhamos quórum e condições de fazer. Vota logo, limpa a pauta, encerra esse assunto.
Este reajuste não é uma sinalização ruim enquanto milhares de pessoas estão desempregadas?
Seria, se isso fosse uma invenção de agora, se não estivesse no Orçamento, contabilizado, se fosse uma negociação que tivesse começado agora. Muito pior seria, a uma altura dessa do campeonato, você, pura e simplesmente, rasgar negociações e gerar todo o clima de instabilidade no funcionalismo público e nas relações com outros poderes. Governar é isso: avaliar o custo e benefício.
Pesaram as pressões feitas pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e do procurador-Geral da República, Rodrigo Janot?
Pesou a pressão de todo o funcionalismo público. Governar também é administrar pressões, mas pesou, sobretudo, a convicção da equipe econômica de que isso não aumentaria em nada os problemas que o país tem.
O fato de Lewandowski presidir o julgamento do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff pesou na decisão do governo?
Eu prefiro nem compartilhar da insinuação que está embutida nesta pergunta de que Lewandowski, com a responsabilidade que tem, pudesse ter uma outra posição em razão do aumento do Judiciário.
O PSDB não concordou com reajuste. Há problemas com os aliados fundamentais para a governabilidade?
Nenhum problema. O PSDB traz posições, debate, esteve com o ministro da Fazenda. Ao fim e a cabo, foi convencido e votou. O PSDB é um partido aliado, não é um partido que tenha renunciado ao seu direito de criticar posições. Não é o monobloco. Este governo não se acha dono da verdade, nem acha que o Congresso tem que ser o carimbador de posições propostas pelo governo.
O PSDB votou, mas disse que, com isso, não apoiará aumento de impostos.
Isso é um assunto para mais adiante. Ninguém está discutindo aumento de imposto agora.
Técnicos do governo dizem que para fechar as contas é preciso aprovar aumento de impostos. Ou seja, o governo tem isso no horizonte.
O governo tem tudo no horizonte que seja necessário para tirar o Brasil do buraco que o governo afastado colocou, como esse déficit de R$ 170 bilhões, uma inflação de dois dígitos, com descrédito internacional, com falta de investimentos por falta de credibilidade dos investidores, com empresas fechando portas, com PIB caindo.
Houve um trabalho do governo para antecipar o calendário do impeachment. É medo de Dilma voltar?
Não, não. É o desejo de que o país saia deste sistema de interinidade, porque esta indefinição não é boa para o Brasil, não é boa para tomadas de posição, para economia, para sinalizações que precisam ser dadas para os investidores internacionais e nacionais. Portanto, é uma definição necessária para que o Brasil avance.
O senhor acha que Dilma tem condições de reverter votos no Senado e voltar a presidir o país?
Eu acho que a presidente Dilma cometeu crime de responsabilidade, o que ficou patente no relatório aprovado pela comissão de impeachment. A investigação neste período no Senado só vai consolidar essa ideia.
É possível um acordo para novas eleições?
Esta hipótese de a presidente Dilma reverter votos, mudar posição dos senadores, é zero. Não há hipótese de se reconstruir um governo em torno de quem perdeu as condições de governança porque cometeu crime de responsabilidade, porque não teve a capacidade de gerir o país, nem de construir uma maioria sólida. E também não existe essa história de convocar novas eleições. Isso não é um ato de vontade, o Parlamento precisa mudar a Constituição. Isto é coisa de golpista. Propor novas eleições como saída daquilo que a Constituição indica como o rito a seguir é golpe.
O governo concorda com a convocação de um plebiscito, como setores do PT sugerem?
Se quiserem propor plebiscito, proponham um plebiscito. O governo não vai propor plebiscito porque tem a noção de que está cumprindo o que determina a Constituição.
O governo tem pouco mais de duas semanas e já perdeu dois ministros. Isso o enfraquece?
Porque perdeu dois ministros? Em absoluto. O presidente Itamar Franco, que assumiu numa circunstância parecida e foi tido como um presidente que marcou a história brasileira, trocou quantos ministros da Fazenda?
Não pelos motivos de hoje, que são denúncias de corrupção.
Quando o doutor Fabiano foi nomeado ministro da Transparência vocês sabiam que tinha gravação dele? Não, porque se soubessem teriam denunciado. Então, como o presidente iria saber?
Jucá já estava sendo investigado na Operação Lava-Jato e disto o presidente sabia.
O presidente deixou bastante claro que não considerava investigação por si razão para afastar alguém e, sim, um eventual tornar-se réu. Foi uma decisão do presidente.
O senhor teme ser o próximo alvo da Lava-Jato?
Nenhuma chance, nenhuma chance. Eu sei o que eu fiz no verão passado.
A Veja diz que o senhor será citado por Marcelo Odebrecht.
Não estou surpreso com essa citação porque todas as vezes em que me dirigi aos senhores Emílio Odebrecht e Léo Pinheiro para solicitar recursos de campanha, o fiz com clareza e dentro da lei. Os recursos recebidos estão devidamente contabilizados. Nunca tratei de assunto menor com eles.
O que o senhor acha desta opção de Temer de escolher ministros que são alvo de inquéritos?
Eu acho que é uma opção do presidente da República. Tira e bota (outro ministro) e a vida segue. Isso não prejudica em nada.
Como o governo está tratando da questão do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha? Do que o senhor tratou quando esteve com ele na última quarta-feira?
Fui ao Eduardo Cunha fazer uma visita de cortesia e de solidariedade. Foi afastado da presidência da Câmara e eu não tinha estado com ele ainda. Achei que era meu dever fazer uma visita de solidariedade. Não fui encontrá-lo em nenhuma cafua ou pé de escada. Fui encontrá-lo na casa dele exatamente para que vocês soubessem e não dar nenhuma conotação de sigilo ou de segredo. Tem gente que vai ver a Dilma no Palácio da Alvorada, e eu achei que era meu dever encontrar um ser humano e prestar minha solidariedade no momento dificuldade que ele está. Foi uma visita de dez minutos, não conversei política nem nada.
Não é ruim para o governo ter o secretário de Governo visitando Cunha, que é réu na Lava-Jato?
Ruim por quê? Você acha que se eu fosse amigo do José Dirceu eu teria algum constrangimento de visitá-lo ainda que ele estivesse preso? Ruim é a covardia, ruim é escamotear. Eu faria isso com qualquer pessoa.
Há relatos de que Cunha continua interferindo nas questões da Câmara como, por exemplo, indicando para líder o deputado André Moura.
Ele não indicou o André Moura. Quem indicou André Moura foram as assinaturas de 15 líderes da base aliada. Eduardo Cunha não está entre os que assinaram, e ele não tratou comigo deste tema.
André Moura é investigado por tentativa de homicídio.
Então vocês, em vez de reclamarem comigo, reclamem com o povo de Sergipe que, sabendo deste inquérito, o elegeu e o colocou no Parlamento. Ele é um deputado no exercício pleno de seus direitos.
Ele tem posições muito conservadoras. É coautor de projeto que dificulta o aborto em casos de estupro e defende restrições aos direitos homossexuais.
Eu não tenho o direito de patrulhar o exercício do mandato de ninguém. Cada um apresente os seus projetos. O que ele não vai ter é apoio para projetos dele que o governo divirja.
Assim como Moura, o centrão de partidos que sustentam o governo Temer tem uma agenda conservadora. Até que ponto o governo vai dar apoio a essa pauta?
O governo Temer não é sustentado por centrão nenhum. O governo Temer tem um conjunto de partidos que o apoia, entre os quais, PPS, PSDB, DEM e tudo o mais. O governo não é responsável por pautas que ele não cria, que ele não remete à Câmara. Pautas conservadoras ou não conservadoras têm que ser tratadas no Congresso Nacional.
Como resolver a situação de Waldir Maranhão na Presidência da Câmara? Ele está no cargo, mas não preside. Há alguma articulação para resolver isso?
Para ter um novo nome, o cargo teria que estar vago. O cargo não está vago porque Eduardo Cunha não renunciou à Presidência da Câmara. Isso não é uma questão de articulação. Ninguém articulou a renúncia de Jânio Quadros. Renúncia é um ato unilateral.
Essa solução “rainha da Inglaterra” resolve para o governo? Está bom assim?
Não é questão de estar bom, é questão de não ter o que fazer. O governo não tem o que fazer.
O seu gênio é descrito por paramentares como difícil e bastante explosivo para liderar as negociações com o Congresso. Como recebe essas críticas?
O tempo fez com que meu pavio, que é curto, demore mais tempo para pegar. Portanto, eu não diria que eu sou explosivo, eu diria que sou afirmativo, verdadeiro. O que mais me irritava na vida era quando as pessoas não entendiam que “não” também é solução e me enrolavam e, com isso, eu enrolava os outros. Eu prefiro dizer com clareza: quando pode, pode e (quando) não pode, não pode. e ficar em paz porque não enganei ninguém.