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24.01.2014 - Gilberto Carvalho debate crise do capitalismo e luta pela democracia real no FST
Na ocasião, o ministro disse que “a sessão deste ano do Fórum se reveste de uma importância particular em função do momento que estamos vivendo no Brasil e no mundo, de aprofundamento da crise do capitalismo, de surgimento de novas formas de mobilização até então não previstas por todos nós, num momento em que teremos no país grandes eventos que vão atrair a atenção do mundo e mexer naturalmente com a nossa população, como a Copa do Mundo, e num momento em quem o povo brasileiro será convidado a fazer uma nova escolha do ponto de vista do projeto que queremos para o país, através das eleições”.
Carvalho lembrou que já no Fórum Social Temático de 2012 “aventávamos para a necessidade de abertura da nossa capacidade de captar as ondas novas que surgiam na sociedade, particularmente da emergência de novos setores que não apenas mudavam economicamente, mas que essa mudança econômica geraria naturalmente outras consequências. De fato, em 2013, fomos impactados por aquele processo. Foi um momento importante porque já falávamos da necessidade de uma abertura tanto dos movimentos sociais quanto dos governos para esse novo que se prenunciava e que efetivamente, à nossa revelia, aparentemente, acabou acontecendo de maneira mais forte”.
Ainda a respeito das manifestações sociais iniciadas em junho de 2013, Carvalho acrescentou que “nós fizemos a inclusão, mas dentro do modelo do capitalismo, do consumo, e isso gerou um estresse, um desconforto, que apareceu nas manifestações de junho. De nossa parte, houve um susto, ficamos perplexos, nós, governo, e também os movimentos tradicionais. Tudo isso gerou uma sensação equivocada de nossa parte de que não era possível entender esse movimento”.
O ministro falou sobre as conquistas já alcançadas pelos últimos governos, como a criação do Orçamento Participativo e a consolidação de diversas formas de participação social. “Optamos por combinar esses dois instrumentos – estar na luta social e ocupar espaços institucionais – com a gestão difícil do aparelho de Estado inóspito, feito para outros fins, fruto de uma construção da elite. Nós praticávamos quase que um contorcionismo para tentar colocá-lo a serviço das massas, para inverter prioridades e realizar experiências de democratização, pequenas, relativas, crescentes, mas fundamentais”. Para o ministro, as conquistas foram importantes, como o processo de inclusão social e de distribuição de renda mas, na opinião dele, ainda insuficientes. “Nós temos que nos orgulhar disso, ao mesmo tempo em que reconhecemos a absoluta insuficiência desse processo e queremos avançar muito mais”, afirmou.
A respeito do fenômeno dos “rolezinhos”, Gilberto Carvalho afirmou “que o desconforto que esse fenômeno acaba causando e a reação maluca de repressão e das medidas judiciais para impedir a ida desses meninos da periferia aos shoppings é apenas o início de um processo de esgarçamento do atual sistema para dar conta de todo esse processo de mobilidade social que nós estamos gerando. Não adianta ter medo, nem querer se apropriar desses processos novos”, disse.
Carvalho ressaltou a importância do fortalecimento da relação entre governo e sociedade civil. “Nós temos que romper as barreiras e conversar, nos aproximar dos nossos movimentos, com humildade, buscando entender, se dando conta de que provavelmente esta é mais uma onda dentro da dialética do vai e do vem, num crescimento das novidades, e nos abrirmos para juntos construirmos uma síntese. Ou fazemos isso ou não construiremos nada de importante no país. Mas eu aposto que, de novo, o que vale é a gente retomar a velha e bela democracia. É um convite para a gente radicalizar no sentido de aumentar, ampliar os nossos espaços de democracia participativa efetiva e não apenas consultiva; decidir que passos temos que dar para consolidar, reinventar as novas formas de manifestação cultural e estimulá-las, sem medo. Fomos muito criticados e continuamos sendo, por sermos excessivamente moderados nesse processo, mas o fato concreto é que, em que pese todas as limitações, até aqui avançamos substancialmente na construção de uma democracia real. Mas ainda falta muito e esse muito não será fruto de uma posição radicalizada perante a vanguarda,. É evidente que na pluralidade nossa haja aqueles que nos batem e dizem: precisam avançar mais, está errado. Isso é importante, faz parte da democracia, da essência da relação entre governo e sociedade civil, onde a tensão é necessária, senão essa relação se torna ou chapa branca ou de negação total”, ressaltou.
Gilberto Carvalho concluiu sugerindo que, ao longo deste ano, “se faça um processo de reflexão, juntando a sociedade civil desses países, sobretudo da América Latina, para realizar encontros, seminários, juntando a sociedade civil e os diversos governos, para analisarmos o que aconteceu nesses anos de democracia popular instalada, analisando tudo o que significou avanço e limitações, num processo amplo, demorado e contínuo, buscando um aprendizado mútuo com tudo o que está acontecendo em nossos países”.
Além do ministro Gilberto Carvalho, também fizeram parte da Mesa o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro; Bernard Cassen (França); Wilhelmina Trout (MMM/África do Sul); e Chico Whitaker (São Paulo). A mediação foi feita por Salete Camba.
FST 2014 – O Fórum Social Temático é um evento promovido por organizações e movimentos sociais ligados ao processo do Fórum Social Mundial. O FSTemático2014 traz o tema “Crise Capitalista, Democracia, Justiça Social e Ambiental” e é organizado por um grupo de centrais sindicais, movimentos e organizações sociais brasileiras e internacionais em articulação com o Conselho Internacional do FSM. O FST representa um espaço aberto de encontro para o aprofundamento da reflexão, do debate democrático de ideias, da formulação de propostas, da troca livre de experiências e de articulação para ações de entidades e movimentos da sociedade civil que discutem temas como o neoliberalismo, capital e imperialismo.