Notícias
12.12.2013 - Zapatistas foram precursores da utilização da internet para mobilizações sociais, diz especialista
Doutor em Comunicação e professor da UFRJ, onde coordena o Laboratório de Pesquisa em Comunicação Distribuída e Transformação Política, Henrique Antoun considera que o movimento Zapatista foi o precursor da utilização da internet para mobilizações políticas e sociais. O acadêmico participou da conferência “As Redes, As Ruas e As Políticas Públicas”, na 12ª edição da Oficina para Inclusão Digital e Participação Popular. O painel também contou com a presença do secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República, Diogo Sant’ana.
Henrique Antoun, que escreveu e disponibilizou na internet o livro “A internet e a rua: ciberativismo e mobilização nas redes sociais”, recordou da guerrilha indígena travada no interior do México nos anos 1990, nas montanhas Chiapas ao comentar os protestos de junho deste ano no Brasil.
“Em 1997, um comunicado do subcomandante Marcos, do Exército Zapatista de Libertação Nacional, era traduzido em dezenas de línguas em alguns minutos. O Zapatismo não parou de crescer e se tornou o primeiro movimento global de protesto. Tinham apoiadores em toda parte, da Argentina ao Japão”, explicou.
Para o professor, a utilização de uma internet ainda incipiente pelos zapatistas “marcou a construção de parcerias e colaboração livres e independentes, que é o espírito da web que vemos renascer em meados deste ano: multiplicidade de grupos distintos, com interesses diferentes, convergindo em uma mesma movimentação livre”, resumiu.
O professor Henrique Antoun considera que a tática Black Bloc é um recurso adotado por alguns militantes na tentativa de atrair a atenção da mídia aos protestos. “Black Bloc é uma tática para forçar a notícia”, definiu.
Ele entende que, no Rio de Janeiro, as manifestações surgiram como uma reação a políticas excludentes em diversos aspectos. “No Rio, há quase 20 anos se tem uma política em que a rua é o lugar mais execrado e perigoso. Por outro lado, a classe média tem terror por pobre. É uma política de governo que entrega a rua à milícia, ao traficante e a qualquer tipo de poder que não o obrigue a trabalhar”, criticou.
Para o acadêmico, esse fenômeno, associado ao que identifica como “culto pela marca” – incentivado pela mídia – gera os templos de segurança da classe média: os shoppings centers. “É o único lugar que uma mãe de classe média deixa seu filho ir. E assim nasce o coxinha”, comparou.
Entretanto, Antoun avalia que o mesmo processo de idolatria pelas marcas que gera o “coxinha” acaba gerando também outros tipos. “O poder que promove essa subjetividade coxinha promove outras duas subjetividades: o traficante e o policial, que também são tarados por marca. É o bandido fardado e o bandido sem farda”, opina.
Para ele, os black blocs resistem a esses processos e reivindicam para si uma cidade que não se submeta às empreiteiras e “à paz eleitoral da grande política”. O professor aponta, ainda, que a juventude que foi às ruas em junho e julho “é filha do PT”. “Não conheceram outro governo que não o do PT e querem ir adiante”.
Secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República, Diogo Sant’ana considera que o governo federal tem a “obrigação institucional e a tarefa política” de se relacionar com os movimentos sociais brasileiros – missão que é incumbida à pasta que comanda junto com o ministro Gilberto Carvalho.
Ao analisar os protestos de junho, Diogo afirma que identificou neles uma disputa por diversas narrativas que tentassem explicá-lo. “O principal e forte recado passado ao governo foi de que os métodos e a participação social na política, como são feitos hoje, não satisfazem mais. Os mecanismos tradicionais de representação política estão superados”, avaliou.
Para o secretário-executivo, as manifestações “quebraram a lógica central da participação política no país”, que, segundo ele, estão centradas em torno de organizações consolidadas e de uma ação coletiva por meio de partidos, sindicatos e conselhos, por exemplo. “Isso se alterou completamente e incidiu não só sobre os novos atores que foram às ruas, mas sobre os atores tradicionais dos movimentos sociais já consolidados, que não tiveram hegemonia nos protestos”, refletiu.
Fonte: Sul 21