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03.06.2011 - Artigo: "De presidente para presidente" (Selvino Heck)
Selvino Heck
Assessor Especial da Secretaria-Geral da Presidência da República
Dois de junho de dois mil e onze: dia para entrar e ficar na história do Brasil. Foi assim que se sentiram as centenas de pessoas de todo Brasil presentes ao ato de lançamento do Plano Brasil Sem Miséria no Palácio do Planalto pela presidenta Dilma Roussef. E choraram quando ouviram Marize Rodrigues, presidente da Cooperativa de Costura Osasco, dizer carinhosamente para a presidenta Dilma: “Estou falando de presidente para presidente.”
Marize ingressou no Bolsa Família, Programa Fome Zero, em 2003. A partir daí, integrou o Projeto Oficina Escola: “Por meio do Bolsa Família, tive acesso a vários outros serviços. Terminei o ensino médio e estou estudando inglês.” Com 15 mulheres cooperadas, a Cooperativa de Costura Osasco confecciona sacolas em tecido 100% algodão, os uniformes escolares da rede municipal, camisetas e uniformes de empresas. Marize diz com orgulho: “Eu era apenas uma dona de casa. Hoje estou em Brasília, representando várias mulheres e outros trabalhadores. Isso não é para qualquer um. Nossa cooperativa foi formalizada em 2007. Hoje temos um espaço próprio. Crescemos bastante. Várias de nossas cooperadas estão cursando administração, informática”.
Nas palavras da presidenta Dilma, “nós estamos aqui, hoje, para juntos abrirmos de uma vez a grande porta de entrada no século XXI. O governo do presidente Lula produziu um avanço espetacular porque descobriu que, enquanto o Brasil deixasse de fora essa imensa força construtiva que é seu povo, não se transformaria em uma grande nação. O Brasil provou ao mundo que a melhor forma de crescer era distribuindo renda e provou também que a melhor política de desenvolvimento era o combate à pobreza”.
O Brasil está na contramão do mundo de hoje. Enquanto a Europa e os países ricos se debatem numa crise econômica que produz desemprego, fome e miséria, e suas populações empobrecidas e temerosas do futuro acampam nas praças e são reprimidas nas ruas, como na Grécia, como em Barcelona, a presidenta Dilma recebe em palácio populações em situação de rua, movimentos sociais de luta pela moradia, catadores de material reciclável e diz: “Como muito bem disse a ministra Tereza Campello, não são estatísticas, são pessoas com vidas vividas, com experiências e com sonhos. Sem eles, nosso futuro estaria irremediavelmente comprometido. Sem eles nós ficaríamos imobilizados no passado e no ciclo vicioso do país crescer, interromper o crescimento e não ter sustentabilidade. Foram precisos quatro séculos para que o combate à pobreza se convertesse de fato em uma política prioritária de governo”.
Os pobres e trabalhadores do Brasil estão deixando de ser apenas bucha de canhão. Nas palavras da presidenta Dilma, “a população pobre, a nossa população pobre, os nossos pobres já foram acusados de tudo, inclusive de serem responsáveis pela sua própria pobreza. O pobre no Brasil sempre foi o grande invisível, o desnecessário. O jamais incluído. A população pobre raramente foi vista da maneira que deveria ser enxergada. Ela tem de ser enxergada como construtora do futuro, integrada por seres capazes de construir sua própria riqueza, capazes de construir sua própria dignidade”.
Mas, nas palavras da presidenta, “sempre houve brasileiros brilhantes, destemidos, corajosos que remaram contra essa maré de insensibilidade e indiferença. Dos abolicionistas do século XIX aos movimentos sociais e sindicais do final do século XX; dos escritores modernistas, dos pensadores sociais dos anos 30 aos intelectuais contemporâneos: dos políticos reformadores do século XX, passando pelas lideranças socialmente comprometidas dos dias atuais. O Plano Brasil sem Miséria ecoa um pouco e ecoa muito a voz dessas pessoas. Ecoa a voz de Nabuco, de Gilberto Freyre, de Manoel Bonfim, de Sérgio Buarque de Holanda, de Josué de Castro, de Anísio Teixeira, de Paulo Freire, de Caio Prado Júnior, de Florestan Fernandes, de Darcy Ribeiro. E de Portinari, e de Betinho, e de Lula. Eles reduziram a cinzas, a pó, as teorias fatalistas sobre a pobreza no Brasil”.
As palavras emocionantes de Marize Rodrigues refletem uma história vivida e um compromisso de governo, reafirmado pela presidenta Dilma: “Não aceito o fatalismo de que a pobreza existe e existirá sempre em todas as sociedades. Isso não é realismo, é cinismo. Estou certa de que devemos e podemos construir nosso caminho para uma sociedade sem miséria, e acredito que nenhum de nós pode fugir dessa luta. O Brasil sem Miséria é o Estado brasileiro chegando, o Estado brasileiro dizendo que está pronto para combater a pobreza. É um compromisso profundo com os mais pobres e a classe média”.
Bendito o povo em que uma presidenta de cooperativa pode ser o exemplo vivo de que o cuidado do governo com seu povo, a auto-organização e a consciência das trabalhadoras e trabalhadores levam a ser gente, sujeitas e sujeitos de direitos, cidadãs e cidadãos. Bendita a sociedade em que uma costureira, que até há pouco sobrevivia e sustentava seus quatro filhos com o Bolsa Família, chega no Palácio e, em alto e bom som, diante de todas as autoridades da República, fala de “presidente para presidente”.