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24.03.2011 - Fala do ministro Gilberto Carvalho na abertura da 24ª reunião do Conjuve
Brasília, 17 de março de 2011
Bom dia a todos vocês e aos companheiros da mesa.
Nesta primeira mensagem, quero lhes trazer uma palavra tranqüilizadora. Rondou, em um dado momento, que o governo da presidenta Dilma seria muito diferente do presidente Lula. A imprensa, na ânsia e no objetivo claro de desconstruir a imagem do companheiro Lula, começou a incensar a figura da presidenta Dilma como uma pessoa, agora sim, técnica, gestora e comedida, enquanto o outro era um falastrão que andava pelo país, governava pouco para, junto com isso, passar a ideia de que os compromissos que o presidente Lula tinha com as massas, com os setores populares, não estariam sendo levados em conta pela nova presidenta.
Primeiro, não há qualquer hipótese de se abrir uma lacuna entre Lula e Dilma. A presidenta Dilma tem uma relação com o ex-presidente Lula que vai muito além do que se imagina, no sentido da sua fidelidade, do seu afeto, do reconhecimento ao papel histórico do presidente Lula, numa relação pessoal muita estreita. Tanto que a cada quinze dias eles se encontram para um jantar, um almoço, uma conversa.
E a presidenta Dilma ouve muito o Lula, embora guarde, de fato, sua autonomia, o que também é necessário, e o estilo que lhe é próprio. Eu sempre digo que o projeto é o mesmo e a companheira Dilma só poderá fazer o belo governo que, se Deus quiser, ela vai fazer, porque sucedeu o Lula, porque encontrou uma base muito diferente daquela que o ex-presidente Lula encontrou em 2003.
Trata-se, portanto, de aprofundar, de ir além, de conseguir avançar marcas, avançar políticas, mas em um mesmo projeto, na mesma perspectiva, com um estilo particular, diferente. Até mesmo porque o Lula é um Pelé da política que aparece a cada cem anos, talvez, na história do país. Então, é um caso muito especifico, pela sua história, pelo seu acúmulo, por tudo aquilo que ele significou e construiu ao longo de sua trajetória.
Segundo, porque a Dilma é uma pessoa extremamente capacitada. Quem a subestimou na eleição, vocês viram o que aconteceu, quebrou a cara, porque achavam que ela ia gaguejar nos debates, que ela não ia conseguir se aproximar das massas. Da mesma forma em relação aos movimentos sociais. A Dilma, até por necessidade, e mais, por convicção, vai manter com os movimentos uma relação absolutamente estável, intensa, organizada, permanente, chamando à participação mais do que nós o fizemos nos últimos oito anos, exatamente porque ela tem consciência da importância dessa participação efetiva.
Eu já disse a todos os companheiros com quem me reuni, e já falei com vários movimentos, seja com as centrais sindicais, seja com o MST, seja com a Via Campesina, seja com a Contag, com o movimento de mulheres, e ainda faltam muitos para continuar conversando, que a presidenta não quer uma relação episódica com os movimentos, apenas para atender a uma demanda provocada por uma manifestação em frente ao Palácio do Planalto ou um processo de reivindicação ocasional. Nós queremos ter uma relação permanente para tratar das pautas, que são longas e difíceis, pois a divida social que nós temos no país é imensa. E os movimentos têm, sim, que protestar, que reivindicar, que bater no governo.
E nós queremos tratar essas pautas de forma permanente, e não queremos apenas atender as pautas, queremos também chamar os movimentos para se pronunciar e contribuir com o projeto do nosso governo. Portanto, vamos adotar um padrão de participação que avance muito mais do que já fizemos até agora, até pelas condições históricas, para que os movimentos desempenhem o papel de sujeitos dentro do governo.
Isso vale, evidentemente para os movimentos estudantis e da juventude, dos quais queremos, de maneira particular, uma participação efetiva no projeto de governo que foi apresentado à sociedade, que foi votado. Nós temos um PPA que está sendo construído e queremos não apenas fazer o debate inicial, mas o acompanhamento de todo o ciclo orçamentário.
Enfim, tomaremos todas as medidas para que os movimentos tenham, de fato, um papel presente e diferenciado dentro do governo. Daí a importância da questão da juventude, da questão da Secretaria Nacional de Juventude e do Conjuve.
Vocês sabem que o governo estabeleceu quatro Fóruns, que são instâncias internas ao governo para o estabelecimento, cobrança e monitoramento de metas. A presidenta determinou a existência de quatro Fóruns: um que é o Fórum da Infraestrura, que vai cuidar de toda a questão do PAC, naquilo que diz respeito naturalmente à infraestrutura; o Fórum de Desenvolvimento Econômico, que diz respeito à questão da política industrial, da política agrícola e agrária do nosso governo e toda a questão do crescimento do nosso PIB. Um outro é o Fórum de Combate à Miséria, coordenado pela ministra Tereza Campelo, que é uma espécie de câmara social que vai trabalhar forte em torno das políticas sociais, em torno de um eixo central que é o programa de combate e erradicação da miséria, e, finalmente, o Fórum chamado Direitos e Cidadania, que tem a ver conosco, que é o Fórum que vai trabalhar exatamente essa relação com a sociedade e estabelecer políticas que façam com que o governo seja o indutor, o estimulador da organização, da participação e da autonomização da sociedade, das organizações e do cidadão.
A presidenta Dilma, ao instalar o Fórum Direitos e Cidadania, foi muito clara. Ela disse “nós não podemos imaginar que governo seja apenas uma soma de ações. Governar não é apenas fazer muitas pontes, muitas estradas, assim como não é apenas multiplicar as políticas sociais. Governar é mais do que isso, é também trabalhar com a sociedade um projeto global de país”. E isso tem tudo a ver com a questão da simbologia, dos valores, da cultura. Ela nos indagava, por exemplo, qual será o destino dessa nova classe média que estamos construindo, possibilitando sua expansão neste momento no país. Se essa classe média vai caminhar para além dos benefícios que já conquistamos, que são importantíssimos e decisivos porque fazem parte dessa dívida que o país tinha com diversos setores. Portanto, ou a classe média segue na direção de uma reprodução da velha classe, no sentido do egoísmo pessoal e de categoria, do consumismo puro e da competição, ou vamos conseguir trabalhar políticas e formas que nos permitam vislumbrar novos valores, de solidariedade, fraternidade e de crescimento sustentado para o país.
Isso, companheiros e companheiras, tem tudo a ver conosco, com vocês, com o trabalho da juventude. E aí quero lhes dizer uma coisa com muita clareza: a Conferência de Políticas Públicas de Juventude é muito importante. No entanto, a Conferencia é apenas um instrumento. O que nos interessa mesmo, para valer, é definir quais as políticas que vamos conseguir, de fato, praticar ao longo deste ano, ao longo dos próximos quatro anos, em relação ao jovem. E aqui me refiro tanto ao jovem que está à beira do abismo, que está naquela situação limítrofe entre a busca de um trabalho, a busca de um estudo, a busca de uma afirmação pessoal e profissional e a marginalização, a exclusão completa, na qual está presente, evidentemente, toda a questão das drogas, do crack. Uma juventude que precisamos socorrer de imediato, que não pode mais esperar. Mas queremos falar também para a juventude de classe média, a juventude estudantil, do Prouni, e até a juventude que, de certa forma, é filha da elite, de cujos quadros podemos tirar muita gente que se engaja em projetos voluntários.
Estou lembrando do tempo da minha juventude, quando tínhamos uma vantagem em relação à juventude de hoje: tínhamos um inimigo claro, definido, que era a ditadura militar. Então, o engajamento era muito mais simples, era muito mais retilíneo, era muito mais claro. Hoje os valores, a própria construção da democracia, nos coloca uma posição totalmente nova. Eu vejo com muita tristeza o que acontece hoje com a falta de motivação de luta da juventude, a dificuldade que temos para mobilizar os jovens para uma causa clara. Felizmente crescem as bandeiras e nós temos uma grande alternativa, no meu entender, que é essa missão que a presidenta nos deu, e ai eu me encho de orgulho ético, nesse aspecto, que é a questão do combate à miséria.
O fato desta geração atual poder realizar o que a anterior não conseguiu, que é a erradicação final e definitiva da miséria em tudo o que ela significa, e eu não falo apenas da miséria da falta de pão, da falta de alimento, da falta de trabalho, mas também da miséria de valores, da miséria do egoísmo, da miséria do consumismo absurdo, da miséria da competitividade e assim por diante.
Então, é dado a nós essa tarefa e eu, como membro do governo, lhes digo que me dá muito orgulho pertencer a um governo que estabelece essa causa como bandeira central. Eu espero e tenho certeza que essa bandeira, quando apresentada com muita clareza para os nossos jovens, poderá significar, de um lado, um grande benefício de salvação para um setor da juventude, mas pode significar, para outra parte da juventude, uma razão de vida, uma razão de engajamento, uma razão de entrega. E é isso que queremos fazer, é isso que temos que fazer.
Eu digo a vocês que fico triste quando vejo jovens reproduzindo valores do aparelhismo que a minha geração viveu, fico triste quando vejo jovens perdendo o seu tempo em disputas de tendência dentro dos partidos ou das organizações. O que a juventude precisa é de motivação, ter uma causa pela qual lutar, senão vira aparelhista mesmo e reproduz, infelizmente, os mesmos problemas que tivemos, com disputas mesquinhas, pequenas, pelos aparelhos.
Portanto, o desafio que quero trazer para vocês é esse. Vamos pensar grande, vamos pensar a Conferência, sim, mas enquanto espaço para essa elaboração, e não um espaço para saber que tendência dominará o encontro, quem terá mais voto. Eu quero saber é o que vamos elaborar, que tipo de salvação vamos trazer para esses jovens. Se for para isso, vocês terão todo o apoio da Secretaria-Geral, as portas estarão abertas para o que precisarem. Mas não me venham com essa coisa de aparelhismo. A nossa tarefa é urgente, não podemos perder um minuto, pois se trata de salvar vidas, salvar o destino de pessoas e de salvar o país.
Não podemos querer para amanhã apenas um Brasil melhoradinho, um Brasil um pouquinho melhor. Outro dia fui fazer um debate para um pessoal bastante radical, sobre a questão ambiental, e eles criticaram tudo quanto é forma de energia hidrelétrica. Então eu falei: pessoal, tudo bem, mas eu não posso dizer isso para aqueles que estão lá na ponta, precisando do Luz para Todos, um benefício que vai mudar a vida das pessoas, que não vamos levar luz para eles porque vamos esperar a produção de energia eólica.
Claro que isso não significa que eu tenha que apoiar termelétrica nem hidroelétrica que inundem tudo. Não é isso. Mas essa conquista que estamos dando ao povo brasileiro, pela qual o presidente Lula tanto se empenhou, que era o emprego, o direito às três refeições por dia, essas condições mínimas, básicas, de ter uma casa, de ir para a universidade, como no caso do ProUni, tudo isso foi muito importante. Nunca poderemos subestimar isso. Mas queremos mais, é para isso que temos um novo governo, foi para isso que valeu a pena brigar para continuar o projeto. Precisamos de um projeto pelo qual o país se enamore, pelo qual a juventude se apaixone e vá à luta pela mudança da qualidade das nossas relações, da maneira como se organiza a economia no país. Nós conseguimos fazer uma distribuição de renda importante, mas os bancos nunca lucraram tanto. E tomara que continuem lucrando. Mas espera aí, vamos começar a distribuir mais, vamos avançar nesses aspectos, na distribuição da justiça, no acesso aos bens e assim por diante.
É esse o desafio e o Conjuve precisa nos ajudar. Eu quero dizer humildemente a vocês que não entendo nada de política de juventude, eu nunca trabalhei com isso, eu quero aprender com vocês, com a Secretaria Nacional de Juventude. Quando eu escolhi a Severine Macedo para ser a secretária, eu quis fazer uma homenagem à juventude mulher e à juventude rural, além das qualidades próprias dela. Assim que terminarmos de montar a Secretaria Nacional de Juventude vamos fazer um planejamento estratégico, vamos chamar o Gabriel Medina e outras pessoas do Conselho – porque não dá para fazer com todo mundo –, vamos definir um projeto ambicioso para a Secretaria, e, se for um projeto realmente ambicioso, com medidas concretas, ele terá apoio total não só do ministro da Secretaria-Geral, mas também da presidenta Dilma. Não tenho dúvida disso.
Faremos tudo o que pudermos para que a Conferência seja o elemento mobilizador desse projeto. Contem com a Secretaria-Geral no que for necessário em termos de recursos, teremos dificuldades em função dos cortes no Orçamento, mas vamos brigar por isso. Vamos fazer uma Conferência muito ampla, porque, é evidente, o grande benefício da Conferência é a democratização do debate até a ponta, na sua capilaridade última da sociedade. É isso que nós queremos. Eu acredito muito que um novo projeto para o Brasil não virá de um cientista, de um laboratório, de alguns intelectuais que pensam saber tudo ou de um pequeno grupo dentro do governo.
Este projeto que estamos realizando, hoje, no Brasil, vocês sabem, foi fruto de uma enorme trajetória de lutas que se acumulou através de um processo de reflexão sobre a prática. Nós aprendemos lá atrás com o Paulo Freire e com tantos companheiros que nos assessoraram e nos iluminaram, que era fundamental não importar uma teoria de fora, mas elaborar um projeto, uma teoria política que fosse fruto de uma reflexão sobre cada processo de luta. Por isso nós juntamos intelectuais, sindicalistas, gente que veio das pastorais sociais das igrejas, companheiros que vieram da academia, da luta armada, da resistência à ditadura, e esse conjunto de companheiros conseguiu teorizar, elaborar um processo que deu no que deu depois de um longo período de lutas, que passou pela Constituinte, pelo impeachment, por três campanhas eleitorais, chegou na quarta e elegeu o presidente Lula.
Ocorre que esse projeto vai se esgotando, grande parte de suas bandeiras nós conseguimos, graças a Deus, realizar com o companheiro Lula, agora a presidenta Dilma tem mais quatro anos, mas e depois? Então, é urgente que a gente elabore um novo projeto e a única forma de elaborá-lo é por meio desse processo. Portanto, eu vejo a Conferência Nacional de Juventude como um desses instrumentos, onde, a partir da luta dos jovens, das dificuldades que eles enfrentam na prática, a gente consiga elaborar, coletivamente, uma alternativa para a juventude e para o Brasil.