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24.01.2011 - Discurso de posse do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República
Quero informar inicialmente que o mundo dá tantas voltas que eu volto ao meu início de profissão agora – ajudante de produção. Quero ajudar a produção do governo da presidenta Dilma.
É difícil estar aqui na frente neste momento, meus queridos amigos e amigas. Eu queria, em primeiro lugar, poder levar um abraço muito carinhoso a cada uma e a cada um de vocês, aqui presentes. Estou com medo de cometer uma gafe por que não estou muito acostumado às longas nominatas. Eu não quero mencionar ninguém, mas quero dizer o quanto é importante para mim olhar esta sala, para o Dulci, para esta sala tão plena de afeto, de corações que estão aqui nos acompanhando.
Vocês não podem imaginar como é bom tê-los aqui neste momento. Os nossos queridos ministros, os ex-ministros, os atuais, os nossos parlamentares, nossos queridos líderes dos movimentos sociais, da sociedade civil, sindicalistas, líderes do movimento popular, religiosos, os nossos empresários, um carinho muito especial pela presença dos funcionários aqui do Palácio do Planalto.
Eu sempre tenho dito nos últimos tempos que nunca na minha vida consegui encontrar um ambiente de trabalho tão formidável, tão fraterno, por incrível que pareça, como aqui neste palácio que, aparentemente, seria uma corte cheia de intrigas. Mas não, desde os companheiros ministros, desde o presidente até os funcionários deste prédio que cuidam da sua manutenção, de tudo, a eles uma profunda gratidão pela presença aqui.
A vocês amigos que vieram de longe, ou de perto, para este momento, aos meus familiares, à minha esposa Flor, aos meus cinco filhos, respectivos namorados, namoradas, eu queria iniciar esta fala com enorme manifestação de gratidão e de benção para fazer jus ao cardeal que o Dulci mencionou, mas, como coroinha, eu queria pedir benção e agradecer demais a Deus, em primeiro lugar, por nos permitir estar aqui vivendo este momento. Eu considero isso aqui, na verdade, esta assembléia, um grande momento de celebração, celebração da vida, celebração da fraternidade. Então, por toda essa caminhada, quero agradecer aos meus pais, meu pai que está no céu, aos meus educadores, à minha irmã que também já foi, à minha irmã Márcia que está aqui, que nos honrou com brilhante mandato à frente do Ministério do Desenvolvimento Social, e que passou agora, num gesto belíssim,o para a nossa querida Tereza; aos meus filhos e aos companheiros. E vou pedir licença a vocês para fazer uma homenagem particular a Zilah Abramo, que está aqui, para, na pessoa dela, homenagear os companheiros de luta. A Zilah é um símbolo para todos nós.
Ontem a nossa presidenta homenageava aqueles que tombaram no caminho. Eu não queria, neste momento, esquecer de todos eles e de todos aqueles que nos ajudaram ao longo dessa luta, da construção dos movimentos sociais, da construção da resistência democrática, da construção do movimento sindical, do partido dos trabalhadores, dos partidos de esquerda. Quero lembrar de companheiros que ficaram pelo caminho, dos companheiros que foram humilhados ao longo da história pela sua crença, pela sua ideologia, pela sua força, os companheiros que foram desempregados, os companheiros que perderam seus empregos, suas famílias e perderam tudo o que tinham para construir e nos permitir chegar onde chegamos. Lembro aqui do Juca Quiabo, lembro aqui do Antônio, do Roberto, de companheiros metalúrgicos, cujo olhar não conseguia compreender a demissão que eles sofreram depois da greve de 79 em Curitiba. É graças a eles e a tantos outros que nós estamos aqui neste momento.
A minha gratidão e a minha benção, naturalmente, é enorme em relação ao nosso querido presidente Lula. Eu fiz questão, junto com o Dulci, minutos antes de iniciarmos a cerimônia, de ligar para o nosso presidente. Aliás, o fiz a mando da presidenta Dilma que, de manhã, perguntou – “Gilbertinho você ligou para o Lula hoje? Trata de ligar para ele”. Manifestei a ele nossa gratidão. Foi um privilégio, e vocês podem imaginar o tamanho, a densidade, a imensidão de trabalhar nesses oito anos com o presidente Lula, nove, contando-se a campanha. E quero dizer a vocês, a ele, que muito mais do que servi-lo, ele serviu ao povo brasileiro, serviu a todos nós, e ele me sustentou nas horas mais difíceis. Eu não esqueço que o presidente poderia ter se livrado de mim em momentos críticos que passei, mas jamais vou esquecer quando voltei do segundo depoimento na CPI e ele tinha atrasado uma viagem me esperando, sentado na minha sala para dizer: “Gilbertinho, vamos tomar uma cachacinha para você esquecer essas coisas e poder tocar a vida para frente”. Isso eu jamais vou esquecer, e por esse homem eu posso morrer.
Uma gratidão imensa naturalmente à presidenta Dilma, que demonstra sua confiança convocando a mim e a outros companheiros para este trabalho tão honroso que é ser ministro do seu governo, o que eu faço com muito orgulho. A conversa da Dilma comigo foi muito simples e muito rápida. Ela falou: “Gilbertinho, eu preciso de você ao meu lado para dizer as verdades, para me falar das coisas como elas acontecem, e preciso de você para me trazer a sensibilidade e o sofrimento do povo e dos movimentos sociais”. Este é o mandato que espero honrar e cumprir.
Preciso agradecer e pedir benção também para os meus companheiros do Gabinete Pessoal, que nesses oito anos foram companheiros de incrível dedicação e generosidade, e agradecer de modo muito particular ao meu querido Dulci, companheiro, amigo e irmão, e aos servidores da Secretaria-Geral, a quem tenho a dificílima tarefa de tentar substituir e dar curso a essa missão cumprida ao longo desses oito anos. Eu quero manifestar um profundo respeito a cada funcionário da Secretaria-Geral, com quem espero continuar contando. Quero dizer para vocês, sem rasgar nenhuma seda, que eu acho que a maioria das pessoas não conhece a dimensão e a profundidade da pessoa e do trabalho do ministro Dulci.
Todo esse papel, todo esse desenvolvimento, todo esse orgulho que nós temos, hoje, da grande participação popular, social e cidadã no governo do nosso presidente Lula, nesses oito anos, devemos ao trabalho discreto, mas profundo, consequente e efetivo, do ministro Dulci e da sua equipe. Ele demonstra sabedoria inclusive no momento de deixar a sua função, de dar por concluído seu trabalho, e transmitindo uma herança que, como eu disse, dificilmente vou conseguir, tenho consciência disso, manter no mesmo nível. O trabalho da Secretaria-Geral, já muito bem descrito aqui pelo Dulci, é essencialmente um trabalho de ponte. E quero me dirigir aos movimentos sociais aqui representados, empresários, sindicalistas, companheiros do campo e da cidade, aos movimentos que lutam pelos direitos das minorias, aos movimentos que lutam pela afirmação de cidadania, aos movimentos dos catadores, aos moradores de rua e a todos os outros. O meu compromisso com vocês é o compromisso de continuar tentando fazer a ponte, é uma ponte que precisa estar alicerçada e fincada nos dois lados das margens, uma ponte com muita ligação com vocês, com muito diálogo, por isso, as nossas portas continuarão abertas, como estavam até agora. Diga-se, de passagem, que um dos orgulhos dessa nossa gestão foi que as portas deste palácio, como nunca antes na história deste país, se abriram para que todos pudessem aqui entrar.
Graças a Deus, não houve movimento, não houve manifestação, não houve pessoa individual que viesse aqui que não fosse recebida, e recebida com carinho, nem sempre atendidos em suas demandas. Por isso o nosso trabalho é um trabalho necessariamente tenso, porque nós trabalhamos com a demanda reprimida, com a demanda armazenada durante séculos pela população brasileira e a possibilidade de dar conta dessa demanda. Mas não faltou o diálogo e o diálogo não faltará. Nós continuaremos, Dulci, honrando a tua presença, honrando a presença da sua equipe, procurando fazer essa ponte, procurando construir parcerias, procurando chamar a sociedade, chamar os movimentos, chamar as ONGs.
Nós temos consciência da crise pela qual passa hoje o movimento cidadão no Brasil, no sentido do seu financiamento e da sua continuidade. Vamos trabalhar para resolver e dar estabilidade a esses movimentos. Nós queremos chamá-los, como foi dito pelo Dulci, não apenas para atender às suas reivindicações, mas para que sejam parceiros nossos na construção deste projeto que continua com a presidenta Dilma. Portanto, não queremos de vocês apenas o atendimento de reivindicações, nós queremos de vocês uma participação efetiva. E para isso os desafiamos e abrimos as nossas portas e o nosso coração. E essa tarefa é uma tarefa que sozinho eu não vou dar conta, minha equipe não dará conta. Eu quero desde já convocar e pedir o apoio e o diálogo de cada um de vocês aqui presentes, para fazermos um trabalho na Secretaria-Geral que seja exitoso no sentido de aprofundar a nossa democracia, para que ela seja cada vez mais, de fato, participativa.
Eu assumo, companheiros e companheiras, neste momento, esta tarefa de Ministério, lembrando o meu velho latim – a palavra ministro vem de monus, e monus é serviço. Eu assumo com muita simplicidade este serviço. E não é à toa que eu falei do ajudante de produção, que quero ser para a presidenta Dilma e para o nosso governo. Mas assumo também, com a mesma emoção que assumi pela primeira vez o meu primeiro engajamento social, quando deixei o seminário e me inscrevi como operário numa fábrica da Companhia Providência, em Curitiba, e fui morar na favela. Ali começamos um trabalho que hoje a presidenta Dilma coloca para nós como tarefa fundamental – a erradicação total da miséria no Brasil. Esse compromisso que a presidenta Dilma anunciou ontem como compromisso central do seu mandato nos deixa muito confortáveis, nos deixa muito empolgados e nos dá razão para a luta desses anos.
Eu quero concluir lembrando uma passagem da minha vida, quando fui morar na favela e era frequente as crianças morrerem. Eu as acompanhava até o cemitério e, na tradição do nosso povo, a gente jogava um punhado de terra no caixãozinho. Os atestados de óbito eram quase sempre os mesmos lá em Curitiba – broncopneumonia e desnutrição. A cada punhado de terra que eu jogava, eu me lembro disso, eu fazia um juramento para mim mesmo e para Deus: de que eu não ia descansar até o ultimo dia da minha vida enquanto não acabasse com aquela situação, enquanto crianças tivessem morrendo com aqueles males. Eu quero convidar todos vocês para que juntos nós renovemos esse juramento, que lutemos juntos até o último dia para que a miséria termine neste país, para que se instale a fraternidade, para que se instale a justiça.
Muito obrigado e, com muita força, vamos juntos à luta.