Aprendendo a Exportar
O Brasil no início da segunda revolução industrial (1871 a 1880)
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PANORAMA DO SEGUNDO REINADO NOS ANOS INICIAIS DA SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 1871 – 1880 A década de 1870, com a Segunda Revolução Industrial consolidada quase que simultaneamente em vários países, a exemplo da Alemanha, Estados Unidos, França, Itália, Suíça, Bélgica e Japão, conhece uma mudança estrutural no sistema internacional que leva a Inglaterra a perder seu status de predominância como parque industrial do mundo. Em 1873, a economia mundial sofre sob a Grande Depressão marcada pela queda dos preços e superprodução ao que se segue uma retração na produção e concentração da propriedade. Os preços do comércio exterior caem, com um breve intervalo, até 1896. Surge, nesse período, o sistema conhecido com Imperialismo. Essa crise provoca uma onda de emigração da Europa para outros continentes. Politicamente, a criação do Império Alemão, em 1871, faz surgir uma grande potência na Europa que consolida seu processo de industrialização e ocupa o vácuo de poder existente na Europa Central. Esses eventos possibilitam à Alemanha exercer um potencial hegemônico que contribui substancialmente para quebrar o equilíbrio de poder existente e levar à formulação do Sistema Internacional Europeu, marcado nos anos 1870 pelos seus diversos tratados secretos firmados pela Alemanha, que desenham um sistema de alianças idealizado por Bismarck na tentativa de isolar a França, que por seu turno não assimila a derrota da guerra contra a Alemanha (1870/1). Desde então, a Europa passa a viver sobre um “estado de vigilância permanente”. Estado esse que é um prenúncio da formação de blocos antagônicos que vão gerar tensões e conflitos, primeiro na periferia do sistema, depois em seu centro. Na América do Sul uma guerra remodela o mapa político. A Guerra do Pacífico de 1879-1881. O Chile combate o Perú e a Bolívia. Vencedor, o Chile anexa porções do território do Peru e da Bolívia. A perda territorial da Bolívia a deixa sem acesso ao oceano Pacífico. A perda de território para o Chile gerou traumas nos dois países batidos na guerra que repercutem até o tempo presente. Além do significado dos fatores políticos, marcam igualmente os anos 1870 as modificações nos setores produtivos. O século XIX é um período de grandes transformações que ocorrem em muitos setores, mormente nos meios de produção, transporte, comunicações e nas condições de vida de pelo menos uma parcela mais favorecida da população. As inovações ocorridas nas décadas anteriores, como por exemplo, a máquina a vapor, a hélice marítima, a ampla utilização do carvão mineral nas indústrias, os novos processos siderúrgicos, a adoção de novas técnicas e métodos de trabalho, resultaram no aumento da produtividade, na diminuição dos custos operacionais e na revitalização do mercado mundial, o que proporcionou riqueza e poder para as nações líderes deste processo. O extraordinário crescimento da industrialização é debitário de diversos fatores, mas, sem dúvida, um vetor basilar é o progresso no campo científico e tecnológico. Nessa seara registra-se o aprimoramento de algumas descobertas e invenções, ilustrativamente citam-se as invenções das placas fotográficas secas, que tornam possível as fotos duráveis, por Maddox (1871); o belga Zénobe Gramme fabrica, em 1871, a primeira máquina considerada realmente construída com os princípios do dínamo moderno; Henry Drapar inventa a fotografia espectral astronômica e consegue pela primeira vez realizar o espectrograma de uma estrela (1872); Nikolaus Otto desenvolve o motor a quatro tempos (1876); Thomas Edison, nos Estados Unidos, inventa o telefone (1877) e a lâmpada (1879); e a primeira locomotiva elétrica é inventada por Werner Siemens, na Alemanha (1879). James Alfred Ewing inventa o gerador eletrostático (1880). Em 1880, Philipp von Jolly mede a variação do peso em relação à altitude. O desenvolvimento siderúrgico tem prosseguimento com a aplicação dos processos Siemens-Martin. A produção do aço em escala industrial descortina uma nova era na construção civil que incorpora o conceito de estruturas metálicas e leva a construção dos prédios que querem tocar o céu, de vãos de larguras extraordinárias. Enfim, proporciona a verticalização das construções, fato que muda o estilo de vida principalmente nas grandes cidades. Na década de 1870, três fatores básicos da segunda revolução industrial gradativamente convergem para a produção industrial – o aço, a eletricidade e o petróleo. Este último passa a ter importância maior principalmente depois da invenção do motor movido a gasolina (uma invenção de 1860) e do motor a quatro tempos, desenvolvido por Nikolaus Otto em 1776. Devido ao aumento da produção industrial e, conseqüente, acúmulo de capital, ocorre a proliferação de instituições bancárias e maior oferta de crédito para as empresas, que investem e aperfeiçoam seus processos de produção, desenvolvem novos produtos e aumentam suas vendas. Panorama nacional. Na década de setenta, as exportações brasileiras continuam concentradas em poucos produtos, os principais são café, açúcar, algodão, couros, borracha, cacau, mate e fumo, que representam 94,9% de tudo o que o Brasil exporta entre 1871 e 1880. O café é o principal produto e corresponde a 56,4% das exportações realizadas, em segundo lugar vem o açúcar com 11,9%. O algodão, apesar da grande diminuição ocorrida em relação à década anterior, em que ocupou o segundo lugar entre os produtos exportados, ainda representa um percentual significativo de 9,5%, correspondentes à terceira posição. Nos anos vindouros, o café aumentará ainda mais a sua participação na pauta de exportações do país. A maior demanda externa por café é plenamente atendida pelo aumento da produção brasileira, que ocorre principalmente devido à expansão da lavoura. O aumento da área plantada é favorecido pela implantação de novas ferrovias, predominantemente no interior da província de São Paulo, o que viabiliza a incorporação de novas áreas produtoras com terras férteis e topografia favorável. Por volta de 1876, a lavoura do café chega a Ribeirão Preto onde a produção dos cafeeiros bate recordes de produtividade devido à elevada fertilidade da terra roxa da região. Na região Cafeeira de Minas Gerais, a Estrada de Ferro Leopoldina é instalada a partir de 1874 e, somada à Estrada de Ferra D. Pedro II, passa a servir uma fértil região de produção agrícola. No final da década, por volta de 1880, a produção nacional de café será de cerca de 8,5 milhões de sacas, praticamente a metade de toda a produção mundial. O imperador é movido por uma grande curiosidade cultural e científica. Com objetivo de conhecer outros países, estabelecer contatos e inteirar-se de novidades aplicáveis ao Brasil, em 1871 D. Pedro II realiza a sua primeira grande viagem internacional à Europa e Egito. Prefere viajar em caráter particular às suas próprias expensas, como D. Pedro de Alcântara. Na ausência do imperador a Regência do Império é assumida pela Princesa Isabel. O lento processo de eliminação do regime escravista no Brasil dá mais um pequeno passo em 28 de setembro de 1871, quando é aprovada a Lei do Ventre Livre. Preparada pelo Gabinete do Visconde do Rio Branco e pelo Gabinete Moderador, determina a liberdade para os filhos de escravas nascidos após aquela data, o que, no entanto, não é suficiente para amainar o ânimo dos abolicionistas. Além disso, os ideais republicanos continuam proliferando. Em 18 de abril de 1873, realiza-se a convenção do Partido Republicano Paulista em Itú, na Província de São Paulo. O Brasil procura manter-se atualizado em relação à ciência e inovações industriais que ocorrem. Neste sentido, o Regulamento Consular de 1872 determina que os representantes consulares brasileiros informem regularmente sobre “as máquinas de nova invenção e melhoramentos do processo industrial, advindos nos outros países, que convenham e se aplique no Império”. O telégrafo, as ferrovias, depois o telefone passam a ser utilizados no Brasil pouco tempo depois de sua invenção, entretanto, devido à extensão e características do território, ausência de mão-de-obra especializada e falta de capital, o Brasil não consegue aproveitar plenamente as potencialidades destes novos meios. O capital internacional, principalmente o inglês, é amplamente utilizado pelo Brasil, que procura atraí-lo para investimentos em obras de infra-estrutura, transportes e, por intermédio de empréstimos, equilibrar suas finanças e honrar os compromissos de sua dívida externa. Nas finanças internacionais vigora o padrão ouro, ancorado na libra esterlina como padrão de troca. O Brasil procura conectar-se através do telégrafo e novas rotas marítimas com os demais países. A primeira conexão internacional de telégrafo é com a Europa, realizada por intermédio de cabo submarino por onde trafegam os sinais elétricos em código Morse, sistema utilizado para codificar e transmitir as mensagens. A instalação deste cabo que liga o Brasil a Portugal é iniciada por Mauá em 1872 e a sua inauguração ocorre em 1874. Em 1875, também, é inaugurada uma linha de vapores ligando Manaus a Liverpool, na Inglaterra. As ferrovias contribuem muito para o desenvolvimento do país no decorrer destes anos. Possibilitam a incorporação de novas áreas agrícolas, o surgimento de novas cidades, o aumento da população e do comércio e viabilizam o transporte dos produtos de exportação até os portos. Para citar alguns exemplos, em 1872 a Companhia de Estradas de Ferro Santos-Jundiaí estende suas linhas até Campinas, é inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que posteriormente incorporará a Itauana e terá seus trilhos estendidos na direção do Rio Paranapanema. É organizada, também, a companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que em 1885 chegará a Ribeirão Preto. A primeira indústria têxtil considerada moderna no país é instalada em 1872 pelo Barão de Piracicaba em São Paulo. Esta indústria tem trinta teares adquiridos na Inglaterra e nela trabalham sessenta funcionários. Alguns anos depois seu filho instala na região algodoeira de Itú, no interior da Província de São Paulo, uma indústria bem maior com 350 teares provenientes da Inglaterra. Nesta época a cidade de São Paulo tem pouco mais de trinta mil habitantes, uma pequena parcela da população do país, pois o primeiro censo nacional realizado em 1872, informa que o Brasil tem um total de 8.930.478 habitantes, dos quais ainda 1.510.806 são escravos. No que se refere à população estrangeira 60% está concentrada na região sudeste. A Província de São Paulo abriga apenas 7,6% dos estrangeiros e a região sul 15,8%. Entretanto, a partir de 1872 crescerá muito a entrada de estrangeiros em São Paulo, principalmente italianos, espanhóis e portugueses, até que mais de 40% da população estrangeira no país estará concentrada em São Paulo no início do século XX. Em janeiro de 1872 é assinado em Assunção, um Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Paraguai, em que fica garantida ao Brasil a posse do território entre os rios Apa e Branco. Apesar da Guerra do Paraguai ter terminado em 1870 e as relações diplomáticas entre os participantes do conflito estarem em processo de normalização, a guerra provoca reflexos de longo prazo no Brasil. O Exército Brasileiro, em função da guerra, adquire um maior senso de corporação, os militares passam a desejar voz mais ativa na política, na administração do estado e tornam-se um terreno fértil para o cultivo e a disseminação das idéias positivistas, o que suscitará em atritos entre o governo Imperial e parte dos oficiais do Exército. Alguns episódios mais graves ocorridos neste contexto ficaram conhecidos como as Questões Militares. Anos depois o exército desempenhará um papel definitivo para o fim do império e proclamação da República. Em 1872, também, tem início um processo de desgaste entre o governo imperial e a Igreja Católica, que ficou conhecido por Questão Religiosa. Sua origem está relacionada ao fato de que, neste período, muitos sacerdotes participavam, também, da maçonaria, o que passa a ser reprimido pela alta hierarquia da Igreja. Os bispos de Olinda e do Pará mandam interditar as irmandades religiosas que se recusassem a expulsar os maçons. As irmandades e outras instituições civis recorrem ao governo, que por força da legislação vigente ordena que os bispos retirem o interdito em 15 dias. Como não é obedecido, condena os dois bispos a quatro anos de prisão com trabalhos forçados. Posteriormente é concedida anistia, mas este episódio contribui para reforçar as teses da separação entre igreja e estado e da liberdade de culto. As relações comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos são bastante favorecidas em 1872, com a eliminação por parte daquele país do pagamento de taxas para importações de café de qualquer procedência. É um fato importante para o Brasil, pois no ano seguinte tem início um processo de depressão econômica mundial, que agrava-se a partir de 1876 e provoca a queda do preço dos produtos brasileiros no mercado mundial. Este processo de depressão econômica dura até por volta de 1897 e faz com que os detentores do capital nacional passem a olhar com mais atenção os setores da indústria e serviços. A partir de 1875 ocorre um aumento nas atividades manufatureiras, principalmente indústrias têxteis, o que faz com que ao final do período imperial possam ser contabilizados 636 estabelecimentos fabris. No que se refere à política aduaneira, em 1874 é implantada a Tarifa Rio Branco, que realiza a uniformização dos direitos de importação em 40% e concede isenção geral para máquinas e insumos benéficos às atividades agrícolas. O açúcar brasileiro está cada vez menos competitivo no mercado externo. O sistema brasileiro de produção, baseado no trabalho escravo e engenhos primitivos encontra dificuldades para concorrer com o açúcar de beterraba produzido na Europa e com o açúcar de cana produzido nas Antilhas, Cuba e Filipinas. O governo tenta estimular a adoção de processos mais eficientes de industrialização da cana e, em 1875 aprova a Lei no 2.687, por intermédio da qual garante juros vantajosos, por volta de 7% ao ano, para estimular a instalação de engenhos centrais baseados no uso de “aparelhos e processo modernos”. Em 1877 foi inaugurado o primeiro engenho central em Macaé no Rio de Janeiro e no ano seguinte entram outros em funcionamento no Paraná, em São Paulo e na Bahia. Mas, em geral, além da falta de capital para investimentos, os senhores de engenhos são resistentes às inovações e à mudanças no sistema de produção baseado no braço escravo, de modo que, muito lentamente a máquina a vapor e os novos métodos de produção passam a integrar o processo de produção do açúcar no Brasil. As exportações de algodão do Brasil declinam muito durante esta década. O Ceará, que até então é um forte produtor deste produto, a partir de meados da década passa a sofrer mais com a seca e a lavoura no estado é muito prejudicada. Além disso, os Estados Unidos voltam a concorrer no mercado externo de algodão e, por terem condições mais competitivas, deslocam o produto brasileiro. Entre 1877 e 1880 a seca no nordeste intensifica-se e praticamente devasta o Ceará. Provoca milhares de mortes e o deslocamento de um grande contingente da população, que em busca da sobrevivência migra para a Amazônia, onde encontram alguma oportunidade na extração da borracha e meios de sobrevivência na pródiga natureza local. O regime escravista dificulta o estabelecimento de relações mais produtivas de trabalho e desestimula a vinda de imigrantes para o Brasil, um dos últimos países do ocidente em que ainda existe a escravidão. Em 1878 Joaquim Nabuco escreve em seu livro O Abolicionismo: “Porque a escravidão, assim como arruína economicamente o país, impossibilita o seu progresso material, corrompe-lhe o caráter, desmoraliza-lhe seus elementos constitutivos, tira-lhe a energia e a resolução, rebaixa a política, habitua-o ao servilismo, impede a imigração, desonra o trabalho manual, retarda a aparição das indústrias, promove a bancarrota, desvia os capitais do seu curso natural, afasta as máquinas, exercita o ódio entre as classes, produz a aparência ilusória de ordem, bem-estar e riqueza, a qual encobre os abismos da anarquia moral, de miséria e destruição, que de Norte a Sul margeiam todo o nosso futuro.” Os abolicionistas, empenhados em mudar esta situação intensificam suas ações, principalmente nas cidades, onde são realizadas quermesses, comícios, eventos beneficentes, conferências. Além disso, são fundados jornais, clubes e associações abolicionistas. As diversas nações procuram estabelecer regras para proteção da propriedade industrial e uniformizar padrões técnicos, comerciais e outros, por intermédio de convenções e acordos. Neste contexto é estabelecido em 1874 em Berna o Tratado que fundou a então designada União Geral dos Correios, por 20 países europeus, os Estados Unidos, O Egito, ao qual o Brasil adere em 1878. O estabelecimento de padrões uniformes, gerais e reconhecidos para os pesos e medidas é indispensável para o comércio, equipamentos industriais, militares e para a engenharia e ciência. Em 20 de maio de 1875 é realizada na França, em Paris, a Convenção Internacional de Metro, que resulta no estabelecimento de um escritório internacional de Pesos e Medidas. Em julho deste mesmo ano é celebrada em São Petersburgo entre quinze países europeus e a Pérsia a Convenção Telegráfica Internacional. O Brasil adere à Convenção em 1877. No que se refere à propriedade industrial, a França promove em 1880 uma conferência para estabelecer uma União Internacional para a Proteção da Propriedade Industrial, da qual o Brasil participa juntamente com outros quinze países. Em 1876 D Pedro II parte para sua segunda viagem internacional, que realiza novamente em caráter particular. Inicia sua viagem pelos Estados Unidos e depois segue viagem para a Europa, Rússia, Constantinopla, Atenas, Líbano, Síria e Palestina, e na volta ainda passa pelo Egito e Itália. Nos Estados Unidos inaugura, juntamente com o presidente Grant, a Centennial International Exhibition de Filadélfia, comemorativa do centenário da independência americana e que contou com cerca de 60 mil expositores e dez milhões de visitantes. A Participação do Brasil, nesta feira, é realizada com especial cuidado e grandes despesas. Este é um momento que marca a melhoria das relações entre o Brasil e os Estados Unidos, país que então absorve a maior parte das exportações brasileiras. D. Pedro, apreciador da ciências e das invenções encanta-se com uma máquina que fala, é o telefone, recém inventado Alexander Graham Bell. Pouco tempo depois, em 1877 o Brasil instala seus primeiros telefones. Trata-se de uma iniciativa de D Pedro II, que ao voltar de sua viagem adota a nova tecnologia, antes mesmo que a maioria dos países da Europa. Em 27 de maio de 1876 José Maria da Silva Paranhos Júnior, o futuro Barão do Rio Branco e personagem que se tornará proeminente de nossa diplomacia é nomeado cônsul brasileiro em Liverpool, na Inglaterra. As fronteiras no sul sempre foram movimentadas, existe uma proximidade cultural e um histórico secular de relacionamento das populações fronteiriças. São condições que facilitam o comércio, o intercâmbio e, também, o contrabando. Para tentar minorar esta prática, em 22 de novembro de 1879 é criada a Tarifa Assis Figueiredo, que reduz as tarifas de importação nas fronteiras do sul, como uma tentativa de diminuir o contrabando. Os esforços para viabilizar uma alternativa de mão de obra agrícola em substituição aos escravos continuam, assim em 1879 o Brasil envia uma missão à China com objetivo de estimular a vinda de imigrantes ao Brasil. A missão é chefiada por Artur Silveira da Mota, Barão de Jaceguai. No ano seguinte, também, é celebrado um Tratado de Amizade Comércio e Navegação entre o Brasil e a China. A Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1879 começa a formar engenheiros, metalúrgicos e geólogos, mão de obra especializada da qual o Brasil é muito carente. O pessoal ali formado, juntamente com os militares introduzem novas técnicas para a fabricação do ferro. A partir de 1880 ocorre o incremento da exploração da borracha na região Amazônica. As plantações de fumo e cacau começam a expandir na Bahia, ao passo que a pecuária desenvolve-se no Triângulo Mineiro, região que posteriormente se tornará referência no país para a disseminação de gado com melhores qualidades zootécnicas. O Nordeste, prejudicado pelas secas e pela crise na lavouras tradicionais de exportação é a região que menos desenvolve neste período, razões que contribuem para torná-la fornecedora de imigrantes para as demais regiões do país. No mundo ocorreram muitos fatos importantes nesta década, para citar alguns, a Alemanha foi unificada, foi criado o primeiro motor a explosão, foi inventada a lâmpada elétrica, o princípio da vacina foi descoberto, algumas leis de proteção ao trabalhador começam a ser implementadas na Inglaterra. No Brasil, a balança comercial resultou em um superávit de 34,5 milhões de libras esterlinas no período de 1971 a 1880, diversas ferrovias foram implantadas, muitas regiões do país foram conectadas pelo telégrafo e novas áreas agrícolas de grande fertilidade foram incorporadas ao sistema produtivo do país. 1871 – 1880 PANORAMA DO SEGUNDO REINADO NOS ANOS INICIAIS DA SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL. A década de 1870, com a Segunda Revolução Industrial consolidada quase que simultaneamente em vários países, a exemplo da Alemanha, Estados Unidos, França, Itália, Suíça, Bélgica e Japão, conhece uma mudança estrutural no sistema internacional que leva a Inglaterra a perder seu status de predominância como parque industrial do mundo. Em 1873, a economia mundial sofre sob a Grande Depressão marcada pela queda dos preços e superprodução ao que se segue uma retração na produção e concentração da propriedade. Os preços do comércio exterior caem, com um breve intervalo, até 1896. Surge, nesse período, o sistema conhecido com Imperialismo. Essa crise provoca uma onda de emigração da Europa para outros continentes. Politicamente, a criação do Império Alemão, em 1871, faz surgir uma grande potência na Europa que consolida seu processo de industrialização e ocupa o vácuo de poder existente na Europa Central. Esses eventos possibilitam à Alemanha exercer um potencial hegemônico que contribui substancialmente para quebrar o equilíbrio de poder existente e levar à formulação do Sistema Internacional Europeu, marcado nos anos 1870 pelos seus diversos tratados secretos firmados pela Alemanha, que desenham um sistema de alianças idealizado por Bismarck na tentativa de isolar a França, que por seu turno não assimila a derrota da guerra contra a Alemanha (1870/1). Desde então, a Europa passa a viver sobre um “estado de vigilância permanente”. Estado esse que é um prenúncio da formação de blocos antagônicos que vão gerar tensões e conflitos, primeiro na periferia do sistema, depois em seu centro. Na América do Sul uma guerra remodela o mapa político. A Guerra do Pacífico de 1879-1881. O Chile combate o Perú e a Bolívia. Vencedor, o Chile anexa porções do território do Peru e da Bolívia. A perda territorial da Bolívia a deixa sem acesso ao oceano Pacífico. A perda de território para o Chile gerou traumas nos dois países batidos na guerra que repercutem até o tempo presente. Além do significado dos fatores políticos, marcam igualmente os anos 1870 as modificações nos setores produtivos. O século XIX é um período de grandes transformações que ocorrem em muitos setores, mormente nos meios de produção, transporte, comunicações e nas condições de vida de pelo menos uma parcela mais favorecida da população. As inovações ocorridas nas décadas anteriores, como por exemplo, a máquina a vapor, a hélice marítima, a ampla utilização do carvão mineral nas indústrias, os novos processos siderúrgicos, a adoção de novas técnicas e métodos de trabalho, resultaram no aumento da produtividade, na diminuição dos custos operacionais e na revitalização do mercado mundial, o que proporcionou riqueza e poder para as nações líderes deste processo. O extraordinário crescimento da industrialização é debitário de diversos fatores, mas, sem dúvida, um vetor basilar é o progresso no campo científico e tecnológico. Nessa seara registra-se o aprimoramento de algumas descobertas e invenções, ilustrativamente citam-se as invenções das placas fotográficas secas, que tornam possível as fotos duráveis, por Maddox (1871); o belga Zénobe Gramme fabrica, em 1871, a primeira máquina considerada realmente construída com os princípios do dínamo moderno; Henry Drapar inventa a fotografia espectral astronômica e consegue pela primeira vez realizar o espectrograma de uma estrela (1872); Nikolaus Otto desenvolve o motor a quatro tempos (1876); Thomas Edison, nos Estados Unidos, inventa o telefone (1877) e a lâmpada (1879); e a primeira locomotiva elétrica é inventada por Werner Siemens, na Alemanha (1879). James Alfred Ewing inventa o gerador eletrostático (1880). Em 1880, Philipp von Jolly mede a variação do peso em relação à altitude. O desenvolvimento siderúrgico tem prosseguimento com a aplicação dos processos Siemens-Martin. A produção do aço em escala industrial descortina uma nova era na construção civil que incorpora o conceito de estruturas metálicas e leva a construção dos prédios que querem tocar o céu, de vãos de larguras extraordinárias. Enfim, proporciona a verticalização das construções, fato que muda o estilo de vida principalmente nas grandes cidades. Na década de 1870, três fatores básicos da segunda revolução industrial gradativamente convergem para a produção industrial – o aço, a eletricidade e o petróleo. Este último passa a ter importância maior principalmente depois da invenção do motor movido a gasolina (uma invenção de 1860) e do motor a quatro tempos, desenvolvido por Nikolaus Otto em 1776. Devido ao aumento da produção industrial e, conseqüente, acúmulo de capital, ocorre a proliferação de instituições bancárias e maior oferta de crédito para as empresas, que investem e aperfeiçoam seus processos de produção, desenvolvem novos produtos e aumentam suas vendas. Panorama nacional. Na década de setenta, as exportações brasileiras continuam concentradas em poucos produtos, os principais são café, açúcar, algodão, couros, borracha, cacau, mate e fumo, que representam 94,9% de tudo o que o Brasil exporta entre 1871 e 1880. O café é o principal produto e corresponde a 56,4% das exportações realizadas, em segundo lugar vem o açúcar com 11,9%. O algodão, apesar da grande diminuição ocorrida em relação à década anterior, em que ocupou o segundo lugar entre os produtos exportados, ainda representa um percentual significativo de 9,5%, correspondentes à terceira posição. Nos anos vindouros, o café aumentará ainda mais a sua participação na pauta de exportações do país. A maior demanda externa por café é plenamente atendida pelo aumento da produção brasileira, que ocorre principalmente devido à expansão da lavoura. O aumento da área plantada é favorecido pela implantação de novas ferrovias, predominantemente no interior da província de São Paulo, o que viabiliza a incorporação de novas áreas produtoras com terras férteis e topografia favorável. Por volta de 1876, a lavoura do café chega a Ribeirão Preto onde a produção dos cafeeiros bate recordes de produtividade devido à elevada fertilidade da terra roxa da região. Na região Cafeeira de Minas Gerais, a Estrada de Ferro Leopoldina é instalada a partir de 1874 e, somada à Estrada de Ferra D. Pedro II, passa a servir uma fértil região de produção agrícola. No final da década, por volta de 1880, a produção nacional de café será de cerca de 8,5 milhões de sacas, praticamente a metade de toda a produção mundial. O imperador é movido por uma grande curiosidade cultural e científica. Com objetivo de conhecer outros países, estabelecer contatos e inteirar-se de novidades aplicáveis ao Brasil, em 1871 D. Pedro II realiza a sua primeira grande viagem internacional à Europa e Egito. Prefere viajar em caráter particular às suas próprias expensas, como D. Pedro de Alcântara. Na ausência do imperador a Regência do Império é assumida pela Princesa Isabel. O lento processo de eliminação do regime escravista no Brasil dá mais um pequeno passo em 28 de setembro de 1871, quando é aprovada a Lei do Ventre Livre. Preparada pelo Gabinete do Visconde do Rio Branco e pelo Gabinete Moderador, determina a liberdade para os filhos de escravas nascidos após aquela data, o que, no entanto, não é suficiente para amainar o ânimo dos abolicionistas. Além disso, os ideais republicanos continuam proliferando. Em 18 de abril de 1873, realiza-se a convenção do Partido Republicano Paulista em Itú, na Província de São Paulo. O Brasil procura manter-se atualizado em relação à ciência e inovações industriais que ocorrem. Neste sentido, o Regulamento Consular de 1872 determina que os representantes consulares brasileiros informem regularmente sobre “as máquinas de nova invenção e melhoramentos do processo industrial, advindos nos outros países, que convenham e se aplique no Império”. O telégrafo, as ferrovias, depois o telefone passam a ser utilizados no Brasil pouco tempo depois de sua invenção, entretanto, devido à extensão e características do território, ausência de mão-de-obra especializada e falta de capital, o Brasil não consegue aproveitar plenamente as potencialidades destes novos meios. O capital internacional, principalmente o inglês, é amplamente utilizado pelo Brasil, que procura atraí-lo para investimentos em obras de infra-estrutura, transportes e, por intermédio de empréstimos, equilibrar suas finanças e honrar os compromissos de sua dívida externa. Nas finanças internacionais vigora o padrão ouro, ancorado na libra esterlina como padrão de troca. O Brasil procura conectar-se através do telégrafo e novas rotas marítimas com os demais países. A primeira conexão internacional de telégrafo é com a Europa, realizada por intermédio de cabo submarino por onde trafegam os sinais elétricos em código Morse, sistema utilizado para codificar e transmitir as mensagens. A instalação deste cabo que liga o Brasil a Portugal é iniciada por Mauá em 1872 e a sua inauguração ocorre em 1874. Em 1875, também, é inaugurada uma linha de vapores ligando Manaus a Liverpool, na Inglaterra. As ferrovias contribuem muito para o desenvolvimento do país no decorrer destes anos. Possibilitam a incorporação de novas áreas agrícolas, o surgimento de novas cidades, o aumento da população e do comércio e viabilizam o transporte dos produtos de exportação até os portos. Para citar alguns exemplos, em 1872 a Companhia de Estradas de Ferro Santos-Jundiaí estende suas linhas até Campinas, é inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que posteriormente incorporará a Itauana e terá seus trilhos estendidos na direção do Rio Paranapanema. É organizada, também, a companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que em 1885 chegará a Ribeirão Preto. A primeira indústria têxtil considerada moderna no país é instalada em 1872 pelo Barão de Piracicaba em São Paulo. Esta indústria tem trinta teares adquiridos na Inglaterra e nela trabalham sessenta funcionários. Alguns anos depois seu filho instala na região algodoeira de Itú, no interior da Província de São Paulo, uma indústria bem maior com 350 teares provenientes da Inglaterra. Nesta época a cidade de São Paulo tem pouco mais de trinta mil habitantes, uma pequena parcela da população do país, pois o primeiro censo nacional realizado em 1872, informa que o Brasil tem um total de 8.930.478 habitantes, dos quais ainda 1.510.806 são escravos. No que se refere à população estrangeira 60% está concentrada na região sudeste. A Província de São Paulo abriga apenas 7,6% dos estrangeiros e a região sul 15,8%. Entretanto, a partir de 1872 crescerá muito a entrada de estrangeiros em São Paulo, principalmente italianos, espanhóis e portugueses, até que mais de 40% da população estrangeira no país estará concentrada em São Paulo no início do século XX. Em janeiro de 1872 é assinado em Assunção, um Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Paraguai, em que fica garantida ao Brasil a posse do território entre os rios Apa e Branco. Apesar da Guerra do Paraguai ter terminado em 1870 e as relações diplomáticas entre os participantes do conflito estarem em processo de normalização, a guerra provoca reflexos de longo prazo no Brasil. O Exército Brasileiro, em função da guerra, adquire um maior senso de corporação, os militares passam a desejar voz mais ativa na política, na administração do estado e tornam-se um terreno fértil para o cultivo e a disseminação das idéias positivistas, o que suscitará em atritos entre o governo Imperial e parte dos oficiais do Exército. Alguns episódios mais graves ocorridos neste contexto ficaram conhecidos como as Questões Militares. Anos depois o exército desempenhará um papel definitivo para o fim do império e proclamação da República. Em 1872, também, tem início um processo de desgaste entre o governo imperial e a Igreja Católica, que ficou conhecido por Questão Religiosa. Sua origem está relacionada ao fato de que, neste período, muitos sacerdotes participavam, também, da maçonaria, o que passa a ser reprimido pela alta hierarquia da Igreja. Os bispos de Olinda e do Pará mandam interditar as irmandades religiosas que se recusassem a expulsar os maçons. As irmandades e outras instituições civis recorrem ao governo, que por força da legislação vigente ordena que os bispos retirem o interdito em 15 dias. Como não é obedecido, condena os dois bispos a quatro anos de prisão com trabalhos forçados. Posteriormente é concedida anistia, mas este episódio contribui para reforçar as teses da separação entre igreja e estado e da liberdade de culto. As relações comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos são bastante favorecidas em 1872, com a eliminação por parte daquele país do pagamento de taxas para importações de café de qualquer procedência. É um fato importante para o Brasil, pois no ano seguinte tem início um processo de depressão econômica mundial, que agrava-se a partir de 1876 e provoca a queda do preço dos produtos brasileiros no mercado mundial. Este processo de depressão econômica dura até por volta de 1897 e faz com que os detentores do capital nacional passem a olhar com mais atenção os setores da indústria e serviços. A partir de 1875 ocorre um aumento nas atividades manufatureiras, principalmente indústrias têxteis, o que faz com que ao final do período imperial possam ser contabilizados 636 estabelecimentos fabris. No que se refere à política aduaneira, em 1874 é implantada a Tarifa Rio Branco, que realiza a uniformização dos direitos de importação em 40% e concede isenção geral para máquinas e insumos benéficos às atividades agrícolas. O açúcar brasileiro está cada vez menos competitivo no mercado externo. O sistema brasileiro de produção, baseado no trabalho escravo e engenhos primitivos encontra dificuldades para concorrer com o açúcar de beterraba produzido na Europa e com o açúcar de cana produzido nas Antilhas, Cuba e Filipinas. O governo tenta estimular a adoção de processos mais eficientes de industrialização da cana e, em 1875 aprova a Lei no 2.687, por intermédio da qual garante juros vantajosos, por volta de 7% ao ano, para estimular a instalação de engenhos centrais baseados no uso de “aparelhos e processo modernos”. Em 1877 foi inaugurado o primeiro engenho central em Macaé no Rio de Janeiro e no ano seguinte entram outros em funcionamento no Paraná, em São Paulo e na Bahia. Mas, em geral, além da falta de capital para investimentos, os senhores de engenhos são resistentes às inovações e à mudanças no sistema de produção baseado no braço escravo, de modo que, muito lentamente a máquina a vapor e os novos métodos de produção passam a integrar o processo de produção do açúcar no Brasil. As exportações de algodão do Brasil declinam muito durante esta década. O Ceará, que até então é um forte produtor deste produto, a partir de meados da década passa a sofrer mais com a seca e a lavoura no estado é muito prejudicada. Além disso, os Estados Unidos voltam a concorrer no mercado externo de algodão e, por terem condições mais competitivas, deslocam o produto brasileiro. Entre 1877 e 1880 a seca no nordeste intensifica-se e praticamente devasta o Ceará. Provoca milhares de mortes e o deslocamento de um grande contingente da população, que em busca da sobrevivência migra para a Amazônia, onde encontram alguma oportunidade na extração da borracha e meios de sobrevivência na pródiga natureza local. O regime escravista dificulta o estabelecimento de relações mais produtivas de trabalho e desestimula a vinda de imigrantes para o Brasil, um dos últimos países do ocidente em que ainda existe a escravidão. Em 1878 Joaquim Nabuco escreve em seu livro O Abolicionismo: “Porque a escravidão, assim como arruína economicamente o país, impossibilita o seu progresso material, corrompe-lhe o caráter, desmoraliza-lhe seus elementos constitutivos, tira-lhe a energia e a resolução, rebaixa a política, habitua-o ao servilismo, impede a imigração, desonra o trabalho manual, retarda a aparição das indústrias, promove a bancarrota, desvia os capitais do seu curso natural, afasta as máquinas, exercita o ódio entre as classes, produz a aparência ilusória de ordem, bem-estar e riqueza, a qual encobre os abismos da anarquia moral, de miséria e destruição, que de Norte a Sul margeiam todo o nosso futuro.” Os abolicionistas, empenhados em mudar esta situação intensificam suas ações, principalmente nas cidades, onde são realizadas quermesses, comícios, eventos beneficentes, conferências. Além disso, são fundados jornais, clubes e associações abolicionistas. As diversas nações procuram estabelecer regras para proteção da propriedade industrial e uniformizar padrões técnicos, comerciais e outros, por intermédio de convenções e acordos. Neste contexto é estabelecido em 1874 em Berna o Tratado que fundou a então designada União Geral dos Correios, por 20 países europeus, os Estados Unidos, O Egito, ao qual o Brasil adere em 1878. O estabelecimento de padrões uniformes, gerais e reconhecidos para os pesos e medidas é indispensável para o comércio, equipamentos industriais, militares e para a engenharia e ciência. Em 20 de maio de 1875 é realizada na França, em Paris, a Convenção Internacional de Metro, que resulta no estabelecimento de um escritório internacional de Pesos e Medidas. Em julho deste mesmo ano é celebrada em São Petersburgo entre quinze países europeus e a Pérsia a Convenção Telegráfica Internacional. O Brasil adere à Convenção em 1877. No que se refere à propriedade industrial, a França promove em 1880 uma conferência para estabelecer uma União Internacional para a Proteção da Propriedade Industrial, da qual o Brasil participa juntamente com outros quinze países. Em 1876 D Pedro II parte para sua segunda viagem internacional, que realiza novamente em caráter particular. Inicia sua viagem pelos Estados Unidos e depois segue viagem para a Europa, Rússia, Constantinopla, Atenas, Líbano, Síria e Palestina, e na volta ainda passa pelo Egito e Itália. Nos Estados Unidos inaugura, juntamente com o presidente Grant, a Centennial International Exhibition de Filadélfia, comemorativa do centenário da independência americana e que contou com cerca de 60 mil expositores e dez milhões de visitantes. A Participação do Brasil, nesta feira, é realizada com especial cuidado e grandes despesas. Este é um momento que marca a melhoria das relações entre o Brasil e os Estados Unidos, país que então absorve a maior parte das exportações brasileiras. D. Pedro, apreciador da ciências e das invenções encanta-se com uma máquina que fala, é o telefone, recém inventado Alexander Graham Bell. Pouco tempo depois, em 1877 o Brasil instala seus primeiros telefones. Trata-se de uma iniciativa de D Pedro II, que ao voltar de sua viagem adota a nova tecnologia, antes mesmo que a maioria dos países da Europa. Em 27 de maio de 1876 José Maria da Silva Paranhos Júnior, o futuro Barão do Rio Branco e personagem que se tornará proeminente de nossa diplomacia é nomeado cônsul brasileiro em Liverpool, na Inglaterra. As fronteiras no sul sempre foram movimentadas, existe uma proximidade cultural e um histórico secular de relacionamento das populações fronteiriças. São condições que facilitam o comércio, o intercâmbio e, também, o contrabando. Para tentar minorar esta prática, em 22 de novembro de 1879 é criada a Tarifa Assis Figueiredo, que reduz as tarifas de importação nas fronteiras do sul, como uma tentativa de diminuir o contrabando. Os esforços para viabilizar uma alternativa de mão de obra agrícola em substituição aos escravos continuam, assim em 1879 o Brasil envia uma missão à China com objetivo de estimular a vinda de imigrantes ao Brasil. A missão é chefiada por Artur Silveira da Mota, Barão de Jaceguai. No ano seguinte, também, é celebrado um Tratado de Amizade Comércio e Navegação entre o Brasil e a China. A Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1879 começa a formar engenheiros, metalúrgicos e geólogos, mão de obra especializada da qual o Brasil é muito carente. O pessoal ali formado, juntamente com os militares introduzem novas técnicas para a fabricação do ferro. A partir de 1880 ocorre o incremento da exploração da borracha na região Amazônica. As plantações de fumo e cacau começam a expandir na Bahia, ao passo que a pecuária desenvolve-se no Triângulo Mineiro, região que posteriormente se tornará referência no país para a disseminação de gado com melhores qualidades zootécnicas. O Nordeste, prejudicado pelas secas e pela crise na lavouras tradicionais de exportação é a região que menos desenvolve neste período, razões que contribuem para torná-la fornecedora de imigrantes para as demais regiões do país. No mundo ocorreram muitos fatos importantes nesta década, para citar alguns, a Alemanha foi unificada, foi criado o primeiro motor a explosão, foi inventada a lâmpada elétrica, o princípio da vacina foi descoberto, algumas leis de proteção ao trabalhador começam a ser implementadas na Inglaterra. No Brasil, a balança comercial resultou em um superávit de 34,5 milhões de libras esterlinas no período de 1971 a 1880, diversas ferrovias foram implantadas, muitas regiões do país foram conectadas pelo telégrafo e novas áreas agrícolas de grande fertilidade foram incorporadas ao sistema produtivo do país. |