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SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
O significado do Dia Mundial da Alimentação
No Dia das Mulheres, pedimos por direitos, igualdade e fim da violência. No Dia dos Povos Indígenas, reivindicamos terra, território e o direito de ser o que se é. No Dia da Igualdade Racial luta-se por igualdade e justiça contra qualquer forma de discriminação e intolerância étnica-racial. No Dia Mundial da Alimentação continuamos a alertar para que a fome não seja naturalizada e que seja globalmente erradicada a partir de esforços coletivos – dos governos e da sociedade civil – para que todas as pessoas, sem exceção, tenham acesso à comida de verdade.
Já não basta repetir que produzimos alimentos suficientes para toda a população mundial. Já não nos serve a distribuição de calorias per capita para afirmar a viabilidade de garantir segurança alimentar e nutricional para todas e todos. Por isso, reforçamos a urgência da mudança de paradigma dos sistemas alimentares para que produzam alimento saudável, acessado e consumido de maneira sustentável e que permita a vida hoje e no futuro e a sobrevivência do planeta. Precisamos de produção de alimentos que não esgote e contamine a natureza. Que as pessoas que produzem os alimentos não adoeçam e possam viver com dignidade. Que o direito à terra e território, a proteção dos nossos biomas e da biodiversidade não sejam sentenças de morte.
Neste Dia Mundial da Alimentação continuamos enfrentando o desafio de ser fácil e barato comprar alimento fresco e saudável em todas as comunidades. Que sejam respeitadas e protegidas todas as manifestações dos diferentes modos de preparar, consumir e celebrar os alimentos pois são tradução das histórias dos tempos, dos lugares e das pessoas.
Alimentar-se é requisito essencial da vida. Negar a fome, lucrar com produtos que adoecem os corpos e o planeta, festejar recordes de safras que deixam rastro de pobreza e devastação é indigno.
A alimentação é um direito e a história da humanidade é contada pelas lutas para garantir este direito, pelo grito calado de quem sofre e o olhar desviado de quem ignora.
Hoje é o dia de reconhecer que todos os compromissos globais de combate à fome têm, ao longo dos anos, fracassado. É necessário o reconhecimento que a fome é o resultado mais cruel das desigualdades e, portanto, enfrentá-la requer o compromisso profundo e duradouro dos governos e do sistema de governança global para enfrentar os interesses não declarados para a sua manutenção.
Há de se resgatar as obrigações dos Estados, promover a paz e articular os recursos necessários para erradicar a fome e garantir alimentação saudável.
No Brasil temos um processo a ser fortalecido para a implementação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional que tem a desafiadora missão de articular setores de governo em diálogo legítimo com a sociedade civil representada nos Conselhos de Segurança Alimentar e Nutricional.
Apenas um processo coletivo, solidário e humanizador que fortaleça as vivências, vozes e saberes, que se inspire e ancore em experiências populares de transformação da realidade fará que o Dia Mundial da Alimentação possa ser de fato comemorado algum dia.
*Elisabetta Recine é docente da Universidade de Brasília e presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), conselho de participação social que assessora o Presidente da República.