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JUVENTUDE
Uma gente colorida desembarca em Brasília para dar voz à juventude
Janaína Pinheiro Martins
Eles e elas pensam longe, querem mais. O futuro como indivíduo é pouco. Estão preocupados em mudar o mundo, melhorar a vida das pessoas e salvar o planeta. E acreditam que isso é mais possível garantindo direitos para a juventude.
De malas prontas para desembarcar em Brasília para a 4ª Conferência Nacional de Juventude, trazem na bagagem as propostas que inscreveram na plataforma digital do governo federal Brasil Participativo. Foram eleitos delegadas e delegados na etapa digital da conferência, em uma escolha com vários critérios.
Elas e eles vão gritar o que querem para a juventude hoje, amanhã e depois de amanhã. Sabem que precisam gritar bem alto para o governo federal ouvir, mas para ecoar também no Congresso Nacional e no Judiciário onde as causas dos jovens brasileiros vão aportar.
“O meu corpo é político”
Olhar o corpo negro é política na vida de Janaína, uma mulher preta, jovem, bisexual que busca participar da construção de políticas públicas com centralidade na negritude do país. Ela nasceu no berço da política e aprendeu a andar na caminhada dos pais de militância na esquerda. A rua onde mora, em Ribeirão das Neves (MG), tem o nome dessa história: conquista, resultado da luta por moradia em uma ocupação dos anos 1980. Janaína Pinheiro Martins enxerga na referência familiar as suas mãos firmes para carregar tantas bandeiras. Da juventude, do MST, do movimento de mulheres, da igualdade racial, do movimento LGBTQIA+. Com essa bagagem, a nevense desembarcou em Brasília como delegada de duas conferências. Eleita na etapa digital da 4ª Conferência Nacional de Juventude e na etapa estadual da 6ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. A assistente social cogita voltar para casa pronta para encarar o seu grande desafio de 2024, a campanha eleitoral para vereadora da sua cidade, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Janaína começa por encarar e tentar derrubar o estigma de um município com nove presídios e dois lixões. E planeja levar aos debates sobre a juventude propostas de estratégias para engajar jovens de 15 a 20 anos que estão fora da política e podem ser despertados para a luta por direitos.
“Senti que devia ser professor quando eu vi que estava conseguindo passar conhecimento para os meus alunos”
Enquanto cursa o sexto semestre de letras, Guilherme dá aulas de inglês. Abriu mão de uma vaga em engenharia de materiais na universidade federal em Recife, para enfrentar quatro horas de ônibus para ir e voltar da universidade, no campus Mata Norte, em Nazaré da Mata, interior de Pernambuco. O domínio das palavras, a oratória firme e alegre não deixam dúvida de que fez a escolha certa. O jovem nasceu e cresceu na periferia de Recife, neto de agricultores que alimentavam os seis filhos à base de melancia com farinha. O pai é autônomo do comércio e a mãe, técnica de enfermagem. Primeiro da família a cursar uma faculdade, Guilherme José Barros é beneficiário de programa do governo federal de bolsa para início à docência. Com a experiência em sala de aula, acredita que a juventude precisa de educação na idade certa. A participação na 4ª Conferência Nacional de Juventude começou quando descobriu a etapa digital pela internet. Depois, foi pensar e elaborar uma proposta de saúde mental para a juventude. Guilherme não quer apenas prevenção do suicídio, quer acolhimento nos serviços de saúde do SUS para todos que sofrem com qualquer condição mental. Com esse querer, colocou os seus alunos, os professores da faculdade, amigos, parentes e conhecidos numa campanha que conquistou 8.696 votos para a sua proposta. Guilherme desembarca em Brasília preocupado se conseguirá falar bem com jovens do país inteiro que, como ele, estão agarrados à causa de uma vida de mais direitos para a juventude.
“O meu partido é o planeta”
Ativista climática, Natalia Tsuyama Cócolo fez a sua primeira ação em defesa do planeta em 2018 e não parou mais. Ela se apresenta como amarela e conta ter sido a primeira mestiça de uma família de japoneses. Isso não a apartou das tradições e rituais orientais que desde logo percebeu serem diferentes das outras crianças. Da cultura ancestral herdou a obrigação de levar a educação muito a sério; 8,00 era a nota mínima estipulada pela mãe. Natalia repete o padrão oriental no ativismo que preenche quase 100% do tempo que teria vago. Das brincadeiras na casa rural dos avós na infância, Natalia levou para o ativismo o amor pela terra e a sensibilidade pelo contato com os animais. E das águas do cerrado emerge a luta da jovem contra o machismo e o colapso climático. Ponto focal da casa Cerrado da Associação de Jovens Engajamundo e membro da Coalização Feminista por justiça climática da ONU Mulheres, não vincula preferências políticas e partidárias à luta pelo meio ambiente. Especialista em políticas públicas no governo de Minas Gerais, ela sabe que a dedicação a suas causas é com o privilégio de um emprego público, que poucos ativistas têm. Eleita na etapa digital da Conferência Nacional de Juventude com a proposta de educação climática nas escolas públicas, Natalia chega a Brasília para se juntar a outros jovens ativistas e defender a criação do CONJUCLIMA - Conselho Nacional de Juventude pela Ação Climática e Meio Ambiente.
“Os mais velhos me diziam para priorizar o estudo. Eu fiz o contrário, priorizei a militância”
A militância brota por onde ele passa. Os telefonemas, as mensagens,as conversas não param. A política é sede e fome que não sacia. Patrick Cesário de Souza Silva remexe o corpo na risada para falar da falta de limite na arte de militar dia e noite. É da coordenação nacional do Coletivo Luta, uma organização de juventude petista. O militante se autodeclara pardo e conta que faz a luta política pela juventude preta pobre periférica. Com uma longa história de participação social, essa é a sua primeira Conferência Nacional de Juventude. Eleito na etapa digital, não queria chegar sozinho para o debate de tantas propostas. Para convidar e mobilizar a juventude, enviou mensagens no WhatsApp para milhares de jovens, petistas e não petistas, e organizou uma reunião de discussão política preparatória com 49 delegados e delegadas. “É para que todo mundo chegue em Brasília sabendo bem o que está indo fazer. Sabendo bem o papel de uma conferência, a importância de uma conferência, entendendo que isso não é turismo. Não é para ir pra Brasília passear. A gente tem uma responsabilidade.” Para essa viagem, Patrick mergulhou na leitura e procurou saber mais sobre a juventude. Estudou o Plano Nacional de Juventude, o Estatuto da Juventude, uma série de documentos e o Plano Municipal de Prevenção à Letalidade Juvenil de Belo Horizonte, cidade onde mora. E não reclama, garante que faz tudo com muita alegria.
“Quero deixar para os meus filhos uma floresta sustentável, com vida e fértil, de muita fartura, onde possa respirar o ar puro, sem poluição e sem desmatamento, onde possa viver em harmonia e dignidade”
O jovem pai indígena do Povo Kambeba tem dois filhos e luta para vingar as suas palavras. Edson Kambeba abraçou as causas indígenas há dois anos quando resolveu buscar a sua identidade étnica e percebeu o quanto é devastador para os povos indígenas serem desfigurados da sua cultura. Assim nasceu o militante e ativista da causa socioambiental e dos direitos dos povos originários do Amazonas. A luta pelo meio ambiente e pelas causas indígenas tornou-se central na sua vida. Edson Kambeba atua para dar visibilidade à cultura indígena e aos costumes tradicionais. Para mostrar o município de Coari, onde mora, virou repórter indígena e criou o Canal Coari. O sonho é cursar faculdade de jornalismo e aprender sobre comunicação. Edson Kambeba faz parte de diversas organizações voltadas aos povos indígenas e ao meio ambiente e mudanças climáticas. O militante deixou o seu território em viagem de barco até Manaus para embarcar no voo para Brasília. Saiu com a cabeça cheia de ideias, pretendendo estar unido a outros ativistas nas reivindicações para a 4ª Conferência Nacional de Juventude. O comunicador defenderá a participação política das juventudes indígenas na agenda de clima e meio ambiente, políticas públicas de assistência social para os jovens das aldeias de base do Amazonas, e a proposta de criação do Conselho Nacional de Juventudes pela Ação Climática e Meio Ambiente.
“Sou a pessoa que está sempre disposta a ser auxílio na vida de alguém”
A vida partidária é recente, mas com uma expectativa muito grande de crescimento pessoal, profissional e político. Ela considera estar aprendendo muito e tem um olhar voltado a questões para as quais não tinha atenção. Ana Beatriz Melo da Silva tem agenda dupla na capital federal. Assinar a ficha de filiação ao partido para ingressar oficialmente no PSB Jovem e fazer a sua estreia na participação social, como delegada na 4ª Conferência Nacional de Juventude. A estudante de psicologia abriu caminho para Brasília com uma proposta de saúde mental para a juventude. Na soma dos pontos, Ana Beatriz foi a mulher mais votada da Região Norte. A amazonense faz parte de uma delegação do PSB com nove delegados e delegadas. Ela conta com empolgação a satisfação por fazer parte do grupo e por ter a oportunidade de conhecer figuras importantes do PSB nessa viagem. Com alegria, mostra que a política tem transformado a sua vida ao colocar ideias e pessoas ao redor. Enquanto faz faculdade, trabalha com comunicação em redes sociais e faz uma ação voluntária no grupo “Mudadores de Rua”, com a população em situação de rua em Manaus.
4ª Conferência Nacional de Juventude no Brasil Participativo