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Representantes da Sociedade Civil entregam relatórios dos Diálogos Amazônicos a presidentes na Cúpula da Amazônia
- Foto: Seaud/ Presidência da República
Anunciados pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, seis representantes da sociedade civil da região amazônica entregaram seis relatórios aos presidentes que participam da Cúpula da Amazônia. Os documentos foram elaborados a partir das discussões feitas em um evento exclusivo para isso: Os Diálogos Amazônicos, que aconteceram em Belém, entre os dias 4 e 6 de agosto. Quase 30 mil pessoas participaram das discussões dos Diálogos, divididas em cinco plenárias-síntese, três plenárias transversais e mais de 400 atividades auto-organizadas.
Esta foi a primeira vez que as populações que habitam a região tiveram direito a voz em um encontro da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica – OTCA. Cada um dos seis representantes teve direito a cinco minutos para explanar sobre o tema do relatório entregue.
O presidente Lula destacou a importância e o ineditismo da iniciativa de ouvir as populações da região e do recebimento, pelos presidentes, dos relatórios feitos a partir das discussões. “Os companheiros e companheiras que falarão a seguir, trarão mensagens importantes das sessões plenárias dos Diálogos Amazônicos, além das plenárias, centenas de atividades organizadas pela sociedade civil debateram a região e o bioma em toda sua complexidade. Nós vamos convidar todos a ouví-los com atenção ", ressaltou o presidente Lula.
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, fez questão de enfatizar o compromisso do Governo Federal em ouvir as pessoas antes de tomar decisões e afirmou: “é compromisso do nosso governo ouvir a população, abrindo o canal de diálogo com nosso povo para a tomada de decisões mais relevantes de nossas políticas públicas. Os Diálogos Amazônicos partiram daí. Dessa necessidade de conhecer mais ainda a realidade dos povos da Amazônia, da gente da floresta, trazida e contada por eles próprios”. O ministro garantiu também que nenhuma decisão sobre os destinos das pessoas da Amazônia será tomada sem ouví-los. “´Nada sobre nós, sem nós’ costumam repetir os movimentos sociais”, acrescentou.
MOMENTO HISTÓRICO
O boliviano Pablo Solón entregou o relatório referente à plenária que teve como tema “Como pensar a Amazônia para o futuro a partir da ciência, tecnologia, inovação e pesquisa acadêmica e transição energética”. Ele começou parabenizando o Brasil pela realização dos Diálogos Amazônicos, mas também reivindicando a proteção de, pelo menos, 80% da Amazônia até 2025. “Isso requer parar o desmatamento das florestas e reabilitar as terras arrasadas pelo fogo e pela monocultura”, afirmou Pablo.
Manuela Salomé Villafuerte Merino, do Equador, falou sobre o tema debatido na plenária I: “A participação e a proteção dos territórios, dos ativistas, da sociedade civil e dos povos das florestas e das águas no desenvolvimento sustentável da Amazônia - Erradicação do trabalho escravo no território”.
“Durante anos reivindicamos que nossas agendas fossem ouvidas pelos espaços governamentais da região andino-amazônica. Enfrentamos ofensivas militaristas, militarização dos territórios, destruição das formas de vida comunitárias, integrais e tradicionais, condições que perpetuam a violência exercida contra os povos amazônicos, tendo as mulheres negras e indígenas como as mais atingidas” afirmou Manuela.
Eslin Landaeta, venezuelano, também cumprimentou o governo brasileiro pela iniciativa dos Diálogos e entregou o relatório referente aos debates da plenária transversal que abordou o tema “Amazônias Negras: Racismo Ambiental, Povos e Comunidades Tradicionais”. Ele pediu a criação de um observatório que acompanhe a qualidade de vida da população da Amazônia, bem como a regularização de quilombos e terras indígenas. “Gostaria de pedir a todos os países que nos ajudem a cuidar do meio ambiente” disse Eslin, ressaltando o valor do papel das populações negras como agentes destacados da sociobiodiversidade da Amazônia.
A colombiana Ruth Consuelo Chaparro, falando sobre as discussões da plenária IV que tratou sobre mudança do clima, agroecologia e as sociobioeconomias da Amazônia: manejo sustentável e os novos modelos de produção para o desenvolvimento regional, disse que a natureza já declarou a emergência climática na Amazônia. “É uma honra formar parte desse momento histórico convocado pela natureza. A natureza nos convida a repensar o rumo, a forma de habitar e a nossa forma de governar esses territórios. Agora esperamos que os governos declarem essa emergência”, alertou Chaparro.
O brasileiro, Pablo Neri, entregou o relatório produzido a partir da plenária II, que abordou “ Saúde, soberania e segurança alimentar e nutricional na região amazônica: ações emergenciais e políticas estruturantes”.
“A terra para nós é sagrada nas mãos de quem trabalha a terra, há muitos a humanidade sabe o caminho da abundância e da saúde genuína. A Amazônia é exemplo disso. A fome na Amazônia é política.” afirmou Pablo, denunciando a monocultura e os agrotóxicos na região.
Para entregar o relatório da plenária V, que abordou o tema “Os povos indígenas das Amazônias: um novo projeto inclusivo para a região”, foi escolhido o indígena brasileiro Toya Manchineri. Para ele, a realização da Cúpula da Amazônia em Belém permitiu a participação de 800 lideranças indígenas e alertou que “o futuro da Amazônia passa pelo direito à participação, pelo respeito aos nossos conhecimentos ancestrais e proteção ampla dos povos indígenas em isolamento voluntários".
A entrega dos relatórios foi o ápice do momento histórico em que se transformaram os Diálogos Amazônicos e a Cúpula da Amazônia, ao incluir a participação da sociedade civil e suas contribuições nos debates finais do encontro dos presidentes da região e de países convidados.