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Evento debate as tecnologias nucleares com foco no bem-estar social
A Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE/SGPR) promoveu, nesta quinta-feira (29), o evento Tecnologias Nucleares aplicadas ao bem-estar social . Reunidos no Auditório do Anexo I do Palácio do Planalto, os participantes puderam conhecer melhor os benefícios das tecnologias nucleares, como a descontaminação segura dos alimentos, a irradiação em substituição aos pesticidas nas lavouras e a produção de radiofármacos para o diagnóstico e o combate ao câncer.
O objetivo do evento foi promover o debate sobre as tecnologias nucleares tendo em vista as potencialidades para a melhoria da saúde da população, para o combate ao desperdício de alimentos e consequente aumento da competitividade de produtos agropecuários brasileiros. Outro tema abordado durante o evento foi a cooperação Brasil/Argentina no setor.
A importância da divulgação dos benefícios das tecnologias nucleares para a sociedade foi ressaltada, na abertura do evento. O Secretário de Coordenação de Sistemas do Gabinete de Segurança Institucional, Contra-Almirante Antônio Capistrano de Freitas Filho, elogiou a iniciativa da SAE. “É preciso desmistificar o uso das tecnologias nucleares para que a sociedade enxergue seus benefícios. O Brasil assumiu o compromisso do uso dessas tecnologias exclusivamente para fins pacíficos, o que está inserido em nossa Constituição Federal”, afirmou.
O Secretário de Tecnologias Aplicadas do Ministério da Ciência Tecnologia, Inovações e Comunicações, Mauricio Ribeiro Gonçalves, ressaltou que o Brasil é um dos poucos países com domínio sobre o ciclo de tecnologias nucleares. “É uma área estratégica. O Brasil detém a 6ª reserva de urânio do mundo e isso deve ser utilizado para proporcionar o bem-estar e riqueza para a nosso país”, afirmou. Segundo Ribeiro Gonçalves, é importante que a sociedade conheça os benefícios do setor, que vão além da produção de energia. “Essas tecnologias ajudam no avanço da medicina nuclear, da indústria, da agricultura, melhorando a qualidade de vida da população. O Brasil utiliza a tecnologia nuclear na esterilização de alimentos e de materiais cirúrgicos com efeitos benéficos para todos”, explanou.
O Secretário Especial de Assuntos Estratégicos, Maynard Marques de Santa Rosa, reafirmou a satisfação em promover o debate acerca da utilização das tecnologias nucleares para o bem-estar social. “Esse evento tem o propósito de desmistificar o tema. A SAE tem pela frente duas tarefas essenciais, que são o planejamento e a agenda estratégica do Presidente da República, que contempla sete programas prioritários de governo, uma agenda que ficou reprimida por muitas décadas. Debater os benefícios e os desafios a serem superados pelo setor nuclear com fins pacíficos tem como propósito conscientizar para mitigar barreiras existentes em prol do bem-estar de nossa sociedade”, ressaltou.
Segurança alimentar e autossuficiência na produção de radiofármacos utilizados no diagnóstico e no tratamento do câncer foram destaque ao longo do seminário. O Diretor de Estudos e Prospecção da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luis Rangel, destacou a importância do combate a patógenos e doenças associadas a alimentos por meio da utilização da irradiação. “Doenças associadas a alimentos contaminados matam cerca de 2 milhões de pessoas anualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, a Anvisa estima que 400 mil casos de intoxicação alimentar ocorrem, por ano, no País”, alertou. Segundo Rangel, o mercado de exportação de produtos agropecuários representa muitas possibilidades para os produtores brasileiros, principalmente o mercado asiático. “É preciso investir na tecnologia de irradiação de alimentos no País, o que poderá ampliar o mercado externo. Temos grandes produtores, grandes pesquisadores, mas poucos irradiadores”, afirmou.
O especialista em medicina nuclear do Instituto Nacional do Câncer, de São Paulo, Luis de Souza Machado Neto, destacou o impacto no custo do tratamento de pacientes por meio do diagnóstico precoce proporcionado pelo uso de radiofármacos. “Os medicamentos estão cada vez mais avançados e um diagnóstico preciso significa uma economia final de 30 mil dólares por paciente tratado, pois muitos não necessitam de cirurgia”, afirmou. De acordo com o especialista, o Brasil ainda depende de radiofármacos produzidos no exterior. “Ainda somos muito dependentes da exportação, o que tem de mudar, pois temos potencial e tecnologia para isso. O que falta é o investimento em treinamento e a aproximação com a iniciativa privada”, concluiu.
O evento Tecnologias Nucleares aplicadas ao bem-estar social contou com a presença de cerca de 180 inscritos, entre servidores públicos, representantes do setor privado, da Academia e sociedade civil.
Tecnologias nucleares: algumas aplicações
Irradiação de alimentos – combate ao desperdício e substituição de agrotóxicos:
- A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que entre 1/4 e 1/3 dos alimentos produzidos anualmente para consumo humano, no mundo, se perde ou é desperdiçado - o equivalente a 1.3 bilhão de toneladas, o que inclui, segundo a Organização, “cerca de 30% dos cereais, entre 40 e 50% das raízes, frutas, hortaliças e sementes oleaginosas, 20% da carne e produtos lácteos e 35% dos peixes”.
- A tecnologia de irradiação de alimentos é uma alternativa para a redução significativa desse desperdício, uma vez que é eficaz na descontaminação de micro-organismos que contribuem para a deterioração e para a contaminação dos produtos. Segundo a FAO, a irradiação de qualquer alimento, até determinada dose, não traz risco toxicológico.
- Tal tecnologia tem ajudado a ampliar o mercado de vários países exportadores de frutas, como Índia e Tailândia, concorrentes do Brasil no mercado internacional. O Brasil, cuja base da exportação em grande medida depende do setor agroexportador, poderá se beneficiar ampliando seu mercado pela oferta de produtos de maior qualidade e durabilidade.
- A irradiação, por não deixar resíduos, pode ser utilizada, também, no controle de pragas em substituição ao agrotóxico utilizado nas lavouras. Além de trazer benefícios ao meio ambiente, em grande medida impactado pelo uso de pesticidas, a irradiação das lavouras representa vantagem para consumidores pela descontaminação dos alimentos e pela ausência de químicos prejudiciais à saúde.
Produção de radioisótopos e de radiofármacos – benefícios para a saúde e para a economia:
- Em 2018, o Brasil deu o primeiro passo para a construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), empreendimento capaz de tornar o Brasil autossuficiente na produção de radiofármacos utilizados no tratamento de doenças como o câncer.
- Desde 2009, o País enfrenta dificuldades no abastecimento de radioisótopos e de radiofármacos devido à paralisação do reator canadense, responsável pelo abastecimento de todo o mercado brasileiro e de 40% do mercado mundial.
- O Brasil, desde então, busca outros fornecedores internacionais para garantir o atendimento de cerca de dois milhões de procedimentos médicos que dependem dos radiofármacos, sendo 24% deles realizados pelo SUS.
- A produção desses medicamentos pelo Brasil significaria uma economia de U$18 milhões ao ano aos cofres públicos com impacto direto na ampliação da rede de abastecimento com ganhos significativos para a sociedade. A previsão é que o fornecimento de radiofármacos dobre de 1,5 milhão para 3 milhões.
- O Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) é um empreendimento cuja execução está sob a responsabilidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), por meio da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), que coordena os trabalhos de desenvolvimento realizados por meio de seus Institutos de Pesquisas. O empreendimento está localizado em Iperó, SP.