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Parcerias com a Sociedade Civil
Sessão de pesquisa 01 - Desafios e dilemas da filantropia
- Foto: José Gonçalo
A sessão "Desafios e Dilemas da Filantropia", realizada no segundo dia de programação, reuniu pesquisadores e representantes de iniciativas sociais para refletir sobre o panorama da filantropia e do investimento social no Brasil. A sessão foi coordenada por Fernando Nogueira, diretor executivo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), e Fábio Deboni, diretor de programa do CIAT.
Desenvolvimento Institucional de OSC no Brasil: um retrato inédito das oportunidades e lacunas existentes
Camila Stefanelli, coordenadora executiva da Plataforma Conjunta, apresentou um artigo que antecipa dados de um estudo a ser lançado pela própria plataforma em setembro deste ano. O material analisa as ofertas de apoio ao desenvolvimento institucional de organizações da sociedade civil (OSC) no Brasil, destacando jornadas formativas e oportunidades de recursos financeiros. Utilizando uma amostra de 232 iniciativas mapeadas, a pesquisa identificou 145 ofertas de jornadas formativas e 87 voltadas para recursos financeiros. Entre todas as ofertas, predominam aquelas focadas em capacitação técnica, especialmente em temas de justiça social e direitos humanos.
O estudo também revela que a maioria das oportunidades de financiamento oferecem recursos flexíveis, permitindo que as OSC escolham como utilizá-los de acordo com suas necessidades. "Entretanto, a duração limitada dos apoios, com quase 40% das oportunidades durando apenas 12 meses, pode comprometer a sustentabilidade a longo prazo das OSC", alertou Camila, completando que, entre as iniciativas mapeadas, apenas 3% recebeu apoio por mais 12 meses, e que dois em cada três apoios não são renovados. Para a coordenadora executiva da Conjunta, dados como esses reforçam a importância de apoios contínuos, focados no desenvolvimento institucional efetivo das organizações, além da necessidade de maior transparência e equidade nas ofertas de capacitação e financiamento.
Investimento social privado e filantropia institucionalizada: reflexões a partir do Censo GIFE
Patricia Kunrath Silva, coordenadora de conhecimento do GIFE, apresentou o artigo "Investimento Social Privado/Filantropia Institucionalizada e sua relação com as OSC", baseado no Censo GIFE 2022-2023. O estudo revelou que os associados do GIFE investiram cerca de R$ 4,8 bilhões em iniciativas sociais, destinando uma parte significativa desse montante às OSC.
No entanto, entre as 137 organizações associadas que responderam à pesquisa, apenas 44 manifestaram apoio institucional desvinculado de iniciativas específicas. "Isso transmite a ideia de que as OSC não estão atuando nesse lugar ou que ainda enfrentam dificuldade em separar o apoio institucional das atividades que realizam", opinou Patricia. Outra preocupação identificada foi a dificuldade de monitorar e avaliar as iniciativas, refletindo uma lógica de controle que muitas vezes não é aplicada aos próprios investidores.
Mostrando coincidências com a fala de Camila Stefanelli, Patricia destacou a necessidade de um apoio mais robusto e contínuo para as OSC, especialmente por sua relevância para toda a sociedade. "Durante a crise pandêmica, as organizações de investimento social privado recorreram às organizações da sociedade civil para chegar nos territórios", lembrou ela.
Intermediários e centros de pesquisa em filantropia: novos atores na paisagem do Terceiro Setor brasileiro
Marcelo Stella, coordenador de projetos sociais no Instituto Phi, discutiu a emergência de intermediários e centros de pesquisa em filantropia no Brasil. Marcelo explorou a trajetória histórica dessas instituições, destacando a consolidação da filantropia e as tensões envolvidas nesse processo. Ele explicou que intermediários, como o Instituto Phi, facilitam a confiança entre doadores e beneficiários, monitorando e avaliando as doações. Marcelo também abordou a desigualdade na produção de conhecimento sobre o terceiro setor. “Os Estados Unidos controlam a maioria dos programas relacionados ao Terceiro Setor. São 240 no mundo inteiro e, só nos Estados Unidos, são 189”.
A sessão encerrou com reflexões sobre a necessidade de um apoio mais contínuo e flexível para as OSC, a importância de monitorar e avaliar as iniciativas de maneira mais eficiente e a necessidade de maior diversidade e inclusão no campo da filantropia.