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Parcerias com a Sociedade Civil
Painel 14 - Filantropia Transformadora: abrindo caminhos para uma alocação de recursos mais inclusiva e democrática
- Foto: Léu Britto
No painel "Filantropia Transformadora: Como Tornar Mais Democrática a Destinação de Recursos Privados para Organizações da Sociedade Civil (OSC)?", coordenado por Erika Sanchez do Instituto ACP e conselheira do Conselho Nacional de Fomento e Colaboração (Confoco), especialistas de diversas organizações se reuniram para discutir estratégias e desafios na democratização da filantropia no Brasil. O painel destacou a importância da gestão compartilhada de recursos e a necessidade de uma abordagem inclusiva para fortalecer as OSC.
Os Desafios e Potenciais da Filantropia no Brasil
Carola Matarazzo, do Movimento Bem Maior, abriu a discussão destacando o cenário de desigualdade no país, onde 1% da população detém mais de 73% da riqueza. Ela enfatizou que o progresso econômico não se traduz automaticamente em desenvolvimento social, apontando para a necessidade de uma pauta cívica robusta e o papel vital do terceiro setor na representação da sociedade civil. Carola destacou que, apesar do aumento das doações emergenciais, há uma lacuna na filantropia estratégica, que precisa ser abordada para promover mudanças sistêmicas.
Jonathas Azevedo, da Rede Comuá, trouxe à tona o conceito de filantropia comunitária e justiça social, ressaltando a importância de fortalecer a democracia através do protagonismo das comunidades. Ele discutiu a prática de uma filantropia decolonial, que reconhece os recursos internos das comunidades e valoriza o trabalho de movimentos sociais, OSC, coletivos e ativistas. Azevedo reforçou a necessidade de apoio ao fortalecimento institucional das organizações, indo além das simples listas de verificação e focando nas pessoas e na estrutura das instituições.
A Importância da Desburocratização e da Filantropia Estratégica
Allyne Andrade, do Fundo Brasil, argumentou pela desburocratização dos processos filantrópicos, criticando a filantropia tradicional que é frequentemente controlada por elites, defendeu ainda a criação de comitês externos para a decisão sobre a alocação de recursos, promovendo um acompanhamento flexível e oferecendo formação opcional às organizações. Ela destacou a importância de uma filantropia que não impõe agendas, mas que se adapta às necessidades das comunidades apoiadas.
Cassio França, do GIFE, explicou que o principal agente de transformação social é o Estado, mas que a filantropia pode ser um player importante na construção de um novo pacto social no Brasil. Ele comparou o cenário brasileiro com o dos Estados Unidos, ressaltando que, enquanto as corporações norte-americanas doam bilhões anualmente, há um potencial inexplorado no Brasil para um maior investimento social por parte das famílias ricas e corporações.
A Visão Internacional e os Desafios da Filantropia
Anna Christina Nascimento, da Fundação Porticus, trouxe a perspectiva internacional, destacando a flexibilidade e a capacidade das OSCs internacionais de se adaptarem a diferentes contextos culturais e socioeconômicos. Ela sublinhou a importância de trabalhar em rede e de fortalecer organizações de base, além de fomentar a cocriação de estratégias e métricas de impacto.
Marcio Black, do Instituto Beja, finalizou o painel com uma reflexão sobre a concentração de poder. Ele argumentou que, para haver uma verdadeira transformação, é necessário discutir e enfrentar as questões de poder político, financeiro e social, incluindo a inclusão de grupos historicamente marginalizados como negros, mulheres, indígenas e quilombolas.
O painel concluiu com um apelo à colaboração entre diversos setores, a valorização dos saberes dos territórios e a necessidade de processos de seleção mais inclusivos. Foi enfatizado que os recursos filantrópicos devem ser irrestritos e que a cocriação entre doadores e OSC é essencial para o sucesso de projetos transformadores. A transferência de poder e o fortalecimento institucional são vistos como elementos cruciais para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
O III Seminário Internacional MROSC continua a ser um espaço para o debate sobre o papel das OSCs e a importância de parcerias transformadoras para um futuro sustentável e justo.
O III Seminário Internacional MROSC aconteceu entre 31 de julho e 02 de agosto. Confira a cobertura completa em www.gov.br/secretariageral/pt-br/dialogos/parcerias/seminario