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Tecnologia criou "alimentação imaterial" que não reduz a fome, diz entidade internacional
Tecnologia criou "alimentação imaterial" que não reduz a fome, diz entidade internacional
Três fenômenos interligados relacionados à alimentação marcam a época atual: desmaterialização, digitalização e financeirização. Eles estão transformando os alimentos – componentes fundamentais da vida, da identidade e das relações sociais – em mercadoria imaterial e em fonte de dados, “abrindo uma caixa de Pandora em favor do lucro das grandes empresas transnacionais e dos super-ricos”. As afirmações constam do relatório “Quando os Alimentos se Tornam Imateriais: Contradições de Uma Era Digital”.
O documento, acrescido de um novo suplemento, foi lançado pelo Observatório do Direito à Alimentação e Nutrição nesta terça-feira (16), por ocasião do Dia Mundial da Alimentação. O objetivo é analisar o impacto das tecnologias no que comemos e em como comemos, além da forma como se produzem os alimentos. No trabalho, os autores alertam que, nas últimas décadas, bens públicos como a água, a educação e a saúde, que são pilares dos direitos humanos, têm sido cada vez mais transformados em mercadorias comercializáveis.
“Os alimentos, evidentemente, são comercializados há séculos, mas a recente desregulamentação do mercado levou à sua completa mercantilização. Este processo contribuiu para a desapropriação dos recursos produtivos, que afeta as comunidades camponesas, prejudica o ambiente e modifica as nossas dietas, tornando-as cada vez mais inadequadas. A fragilidade do quadro regulamentar tem gerado um distanciamento cada vez maior entre o que é considerado legal e o que é realmente sustentável e coerente com os direitos humanos”, adverte o relatório.
Renda e subnutrição
Em poucas décadas, as desigualdades entre os mais ricos e pessoas em pobreza extrema têm aumentado. Os que constituem o 1% mais rico da população mundial têm mais riqueza que o resto de todo o planeta e apenas oito pessoas possuem uma riqueza equivalente à da metade da população mundial.
Neste cenário, após alguns anos em declínio, o número de pessoas com subnutrição no mundo subiu para 815 milhões, 38 milhões a mais do que em 2015. O relatório destaca que os sistemas alimentares estão cada vez mais concentrados nas mãos de poucas empresas e que essa é uma tendência sem precedentes na história da humanidade.
Sistema alimentar agroindustrial
Para o Observatório, o fracasso do sistema alimentar agroindustrial já é amplamente reconhecido, até mesmo pelo Fórum Econômico Mundial e por outros agentes que, no passado, promoveram a Revolução Verde. “Apesar de terem sido muito criticadas recentemente, essas mesmas organizações e agentes afirmam agora ter uma nova ‘solução’, conhecida como a Quarta Revolução Industrial. Tal mentalidade, dita ‘inovadora’, propõe uma fusão de tecnologias que está a eliminas fronteiras entre as esferas física, digital e biológica”.
A nova era de tecnologia emergente, no entanto, não diminuiu as taxas de fome e má nutrição, nem melhorou a distribuição da riqueza. Tampouco garantiu a igualdade de acesso aos recursos naturais. “De fato, foi criada uma grande variedade de ferramentas e serviços, mas com que finalidade? E quem foram os seus beneficiários?”, questiona o Observatório. “Diante desta nova narrativa, devemos todos empenhar-nos para enfrentar as ameaças que estão por vir”, recomenda o relatório Quando os Alimentos se Tornam Imateriais.
Acesse o relatório
Veja o suplemento Observatório do Direito à Alimentação e à Nutrição
Fonte: Consea com informações do Observatório do Direito à Alimentação e Nutrição