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Relatório da ONU aponta aumento da fome e da obesidade na América Latina
Incidência da fome na América Latina e Caribe volta a crescer, e em ritmo mais acelerado, de acordo com novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional 2018, 39,3 milhões de pessoas passam fome na região. A outra face do mesmo problema também assusta: 250 milhões de pessoas estão com excesso de peso. Entre 2015 e 2016, o número de pessoas com fome aumentou em 200 mil. Entre 2016 e 2017, o aumento foi de 400 mil.
O relatório aponta também que a fome, a desnutrição, a falta de micronutrientes, o sobrepeso e a obesidade têm maior impacto em pessoas de baixa renda, mulheres, povos indígenas, afrodescendentes e famílias rurais. Na América Latina, 8,4% das mulheres vivem em insegurança alimentar grave, em comparação com 6,9% dos homens.
Desde 2014, Argentina, Bolívia e Venezuela registraram aumentos no número de pessoas desnutridas. O maior aumento ocorreu na Venezuela: mais 600 mil pessoas apenas entre 2014-2016 e 2015-2017.
A Venezuela tornou-se um dos países com o maior número de pessoas desnutridas na região (3,7 milhões, 11,7% da população), juntamente com o Haiti (5 milhões, 45,7% da população) e México (4,8 milhões, 3,8% da população). Brasil, Cuba e Uruguai são os três países da região com porcentagens de fome abaixo de 2,5% de sua população.
Para responder à crescente desnutrição, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) convocam as nações para implementar políticas públicas que combatam a desigualdade e promovam sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis.
Desigualdade e desnutrição infantil
Segundo o Panorama, as desigualdades sociais e econômicas se refletem no déficit de crescimento de crianças. Em Honduras, o problema afeta 42% das crianças em famílias de baixa renda e apenas 8% das crianças de famílias de renda mais alta. Na Guatemala, a diferença é maior: o déficit de crescimento afeta 66% das crianças mais pobres e 17% das crianças de famílias de renda mais alta.
A desnutrição infantil também é maior na população indígena. No Equador, 42% das crianças indígenas vivem com desnutrição crônica, em comparação com 25% da média nacional (dados de 2012). Na Guatemala, o déficit de crescimento afetou 61% das crianças indígenas em 2014-2015 e apenas 34% das crianças não indígenas.
Crianças em áreas rurais também têm indicadores piores do que aqueles que vivem em áreas urbanas. Em Belize, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Peru e Suriname, as taxas de déficit de crescimento nas áreas rurais excedem em mais de 50% as taxas observadas nas áreas urbanas.
Obesidade
A obesidade se tornou a maior ameaça nutricional na América Latina e no Caribe. Quase um em cada quatro adultos é obeso. O sobrepeso afeta 7,3% (3,9 milhões) de crianças menores de 5 anos de idade, um número que excede a média mundial de 5,6%, indica o Panorama.
“A obesidade está crescendo incontrolavelmente. Todos os anos adicionamos 3,6 milhões de pessoas obesas a esta região. 250 milhões de pessoas vivem com excesso de peso, 60% da população regional. A situação é chocante”, disse o representante regional da FAO, Julio Berdegué.
“Embora a desnutrição persista na região, particularmente em populações vulneráveis, devemos considerar a obesidade e o excesso de peso, que também afetam esses grupos. Uma abordagem multissetorial é necessária, uma que garanta o acesso a uma alimentação equilibrada e saudável e aborde simultaneamente outros fatores sociais que também impactam essas formas de desnutrição, como o acesso à educação, à água, ao saneamento básico e aos serviços de saúde”, disse a dra. Carissa F. Etienne, diretora da OPAS/OMS.
Clique aqui para ler o relatório na íntegra (em espanhol)
Fonte: Centro de Excelência contra a Fome