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Nutrição saudável exige produção de alimento com justiça e equidade, diz presidenta do Consea
Elisabetta Recine: “Não dá para um nutricionista olhar somente o prato, sem ver tudo que está por trás da comida que está no prato, como em que terra o alimento está sendo plantado, as sementes usadas, as condições de trabalho de quem está plantando, o mecanismo de produção e distribuição, como a comida chega na prateleira e à nossa mesa”.
A alimentação saudável depende de um sistema complexo, onde vários fatores relevantes devem ser considerados. Os nutricionistas precisam conhecer cada elemento do atual sistema alimentar, que resulta em uma poderosa concentração econômica e política e praticamente determina o que as pessoas podem comer ou não comer.
O alerta foi feito nessa quarta-feira (18), pela presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Elisabetta Recine, ao participar da abertura do 25º Congresso Brasileiro de Nutrição (Conbran 2018), em Brasília.
O encontro deve reunir até sábado (21) cerca de 4 mil pessoas, entre profissionais de nutrição, saúde, professores, pesquisadores e representantes da sociedade civil e de governo.
Vários representantes do Consea participarão durante os três dias de encontro em diversas atividades.
Nutrição também é conhecer origem da comida
“Não dá para um nutricionista olhar somente o prato, sem ver tudo que está por trás da comida que está no prato. Como, por exemplo, em que terra o alimento está sendo plantado, quais as sementes usadas, quais as condições de trabalho de quem está plantando, as consequências dessa atividade, o mecanismo de produção e distribuição, como a comida chega na prateleira e à nossa mesa”, acrescentou.
Para a presidenta do Consea, tais processos fazem parte da nutrição tanto quanto uma cadeia molecular que se estuda ou pesquisa nas faculdades. E estão presentes em qualquer atividade do profissional, seja em um consultório de nutrição esportiva, na escola, em um centro de saúde, na casa de uma família ou em um restaurante onde são planejadas as refeições de milhares de pessoas por dia.
“Enquanto nós, nutricionistas, não reconhecermos que esse mundo é um só, que a lógica que rege a produção de alimentos e a alimentação adequada é uma só e precisa ser boa para todos, estaremos fazendo nosso trabalho pela metade”, afirmou.
O sistema alimentar precisa estar calcado na coerência do direito humano, da segurança alimentar e nutricional, da alimentação adequada, da saúde e da equidade, arrematou.
Mas garantiu estar otimista quanto a essa perspectiva. “Vemos hoje uma sociedade civil cada vez mais vigorosa, que está articulando quem planta a comida, quem produz e quem fala sobre a comida, quem orienta sobre a comida, as pessoas em geral”.
A poderosa agenda da alimentação
Diante de uma plateia lotada no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, que muitas vezes aplaudiu sua fala, Elisabetta Recine contou ter algumas vezes, no passado, se questionado sobre a profissão que escolhera. No entanto, o questionamento foi totalmente superado pela importância e a candência de temas considerados, em todos os lugares do mundo, como um dos mais importantes da atualidade.
“Precisamos ter consciência de quão poderosa é a agenda da alimentação”, enfatizou.
Citou como exemplo a rotulagem de alimentos. “Por que vemos a indústria mundial tão preocupada com essa questão no Brasil? Porque muita gente da sociedade civil, profissionais competentes da área de nutrição e de saúde deste país estão pleiteando a obrigatoriedade da rotulagem frontal, como existe no Chile, que mostre claramente a má-qualidade de produtos [cheios de gordura, óleo, sal e açúcar], que estão sendo vendidos como alimentos nas prateleiras dos supermercados brasileiros”.
É um desafio grande e está apenas começando, admitiu. “Mas é uma luta pela equidade, pelo bem de todos. Espero que estejamos todos juntos nela. Cabe a cada um de nós, no trabalho, na cidade, no campo, como profissionais, como brasileiros, pleitear um país melhor”.
Clique aquipara ver a programação do Conbran 2018.
Reportagem: Ivana Diniz Machado
Fonte: Ascom/Consea