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Não há limite seguro para uso de agrotóxicos, diz professora em audiência na Câmara
Experiências mostram que é impraticável seguir todas as medidas que supostamente poderiam garantir uso seguro de agrotóxicos e que envolvem etapas relacionadas ao uso, compra, transporte, armazenamento, preparo e aplicação, descarte das embalagens e lavagem das roupas: Arquivo ABA
As medidas para o uso seguro dos agrotóxicos são inúmeras, complexas e caras, afirmou nesta terça-feira (11), a professora e pesquisadora Irene Cardoso, representante da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Ela participou de nova audiência pública, realizada pela Comissão Especial da Política de Redução de Agrotóxicos (PNaRA), conforme o Projeto de Lei 6670/16.
O objetivo da audiência foi debater questões relativas a modelo agrícola dominante. A proposta é contrapor as virtudes produtivistas e custos fiscais e socioambientais. O debate atende a requerimento de diversos parlamentares.
“As medidas que supostamente poderiam garantir o uso seguro de agrotóxicos envolvem seis etapas relacionadas ao uso, compra, transporte, armazenamento, preparo e aplicação, descarte das embalagens e lavagem das roupas contaminadas. O agricultor não tem como seguir todas essas medidas – nem se ele quiser, se for capacitado ou fiscalizado, o que geralmente não ocorre. Então, o uso seguro é apenas uma forma que as indústrias conseguiram para transferir a responsabilidade para quem aplica”, disse a professora.
Seguir a bula não evita as sequelas
Ela citou, como exemplo, a história do agrônomo Édi Almeida, contada em reportagem publicada na segunda-feira (10), pelo jornal The Intercept Brasil. Filho de agrônomo, Édi seguiu a profissão do pai e estudou na universidade sobre os efeitos sobre os riscos do consumo irregular de agrotóxicos. Fez especialização em perícia ambiental em 2015 e, no ano passado, concluiu o mestrado em agronomia na área de Inseticidas Botânicos.
Mesmo seguindo todas as recomendações do fabricante, ele não conseguiu se livrar dos efeitos devastadores desses produtos. Desde o ano passado, Édi Almeida se recupera de uma polineuropatia crônica, problema de saúde que causa paralisia nas pernas. Depois, os nervos dos braços foram afetados, obrigando-o a passar por duas cirurgias. “Quando alguém me diz que agrotóxicos não fazem mal, eu mostro as minhas mãos”, afirma o profissional na reportagem.
A professora Irene Cardoso lembrou também que, em 2009, um conjunto de 400 cientistas do mundo escreveu o documento chamado Agricultura na Encruzilhada (Agriculture at a crossroads, Global Report), onde apontam que o problema do atual modelo de agricultura convencional, é que ele se baseia em um pacote em que o uso de agrotóxicos é essencial.
Fonte: Ascom/Consea