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A natureza morre um pouco a cada palmo de vegetação eliminada da terra, alertam indígenas
A floresta é a nascente da água. Se acabar com a floresta, acaba a água. E assim acaba a vida. E o que será de todos nós? De nada adianta lutar para ter uma casa, roupas e outras coisas se não tiver água. Não haverá comida. Imagem: Consea
Apesar do calor intenso desta terça-feira (20), em Brasília, o grupo de indígenas Kariri-Xocó dançou e cantou o ritual do Toré sem descanso no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Eles vieram da região do Baixo São Francisco, em Alagoas, para participar do Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama), que acontece de 18 a 22 de março na capital federal.
“Os povos nativos do Brasil somos nós, indígenas. E estamos aqui, no terceiro dia do Fama, para mostrar ao país que ainda existimos”, disse emocionado o jovem guerreiro Dijoam.
Sobre o futuro, ele fez uma alerta: “A floresta é a nascente da água. Se acabar com a floresta, acaba a água. E assim acaba a vida. E o que será de todos nós? De nada adianta lutar para ter uma casa, roupas e outras coisas se não tiver água. Não haverá comida. Portanto, é preciso preservar as florestas, pois sem elas não tem água”.
Durante o evento, o grupo manifestou preocupação com diversos temas ligados à preservação de sua cultura e dos recursos naturais, fatores que consideram intimamente relacionados. “A manutenção da natureza hoje depende do ser humano. Cada palmo, cada acero de vegetação que a gente tira da natureza, ela morre um pouco mais, como um todo. Os indígenas aprenderam a viver centenas de anos sem destruir a natureza, porque só tiram até o limite que ela pode oferecer. A gente não esgota todos os recursos. Porque sabemos que precisamos dela para viver”, acrescentou Wilni.
De acordo com ele, o São Francisco está ameaçado, com pouca água e sendo invadido a cada dia pela entrada da água salgada do mar. “Ouvimos relatos de que o rio já não tem força para empurrar a água até o mar”, lamentou o indígena.
Os Kariri-Xocó são resultado da fusão de vários povos que habitavam os sertões brasileiros. Dijoam relatou que eles enfrentaram muitas dificuldades para sair da aldeia e chegar até a capital federal, mas que estavam orgulhosos por conseguirem reafirmar sua identidade.
“Somos um povo que sofre discriminação, viemos do Nordeste. Temos nossa característica, somos menores que nossos parentes do Sul e do Norte, mas temos a nossa resistência de manter o nosso Toré, que é a nossa dança, nossa tradição, nosso ritual que continua até hoje”.
Reportagem: Ivana Diniz Machado
Fonte: Ascom/Consea