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“Precisamos defender o princípio do bem comum”, diz ex-presidenta do Consea
Maria Emília Pacheco, em mesa redonda realizada na tarde desta quinta-feira (19), na programação do 25º Congresso Brasileiro de Nutrição (Conbran).
“Nós precisamos criar novos paradigmas, desenvolver novos conceitos, novos princípios, e um desses princípios deve ser o princípio do bem comum”, a afirmação foi feita pela ex-presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Maria Emília Pacheco, em mesa redonda realizada na tarde desta quinta-feira (19), na programação do 25º Congresso Brasileiro de Nutrição (Conbran), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília (DF).
“Existe um discurso no qual se pergunta o que seria da questão da fome se não fossem os transgênicos, mas a pergunta pode ser outra. Eu falei hoje de manhã e volto a perguntar: ‘Que outras possibilidades nós podemos ter de acesso não só à alimentação, mas também à comida de verdade?’ Nós precisamos enfrentar esse debate, precisamos criar novos paradigmas, desenvolver novos conceitos, novos princípios, e um desses princípios deve ser o princípio do bem comum”, defendeu ela.
Povos dos campos, das florestas e das águas
“Houve um tempo, recente, em que um pesquisador disse que os bens comuns, como água, terra sementes, deixados para serem manejados, utilizados pela população, isso ia chegar a um limite. Essa opinião foi contestada por pesquisas mais recentes que nos mostram que exatamente lá onde estão os povos indígenas, os povos e comunidades tradicionais, os povos dos campos, das florestas e das águas, tiveram o cuidado de preservar, de manejar, lá esses bens comuns vêm sendo conservados”, explicou.
“Só que isso acontece num contexto em que cresce também, cada vez mais, o interesse para a apropriação privada desses bens comuns, e esse é um debate que nós precisamos manter aceso porque, conforme um texto de Olivier de Schutter, relator da ONU sobre o direito humano à alimentação, mostrou o quanto essas práticas, o quanto essa maneira de lidar de uma forma mais harmoniosa com a natureza, tem sido fundamental para manter a alimentação como temos, mesmo com as mudanças mais profundas que estão ocorrendo”, afirmou a ex-presidenta do Consea.
Maria Emília Pacheco defendeu ainda o conceito de direito humano à alimentação “precisa também ficar mais associado com o debate sobre os direitos da natureza, acho que esse é um desafio: pensarmos se há possibilidade de uma reconexão com a natureza, lembrando que esse afastamento da humanidade, do ser humano em relação à natureza, foi algo provocado desde a chamada revolução verde”.
Ressignificando a Comida
“O Brasil tem produzido uma enorme quantidade de alimentos, fala-se [dos números] da balança comercial, mas o que nós precisamos saber é o que está sendo produzido e que se destina. Temos um número grande plantio de monocultivos, de árvores para celulose, então o que tudo isso representa de impacto ambiental, o que isso representa para a saúde humana?”, questionou ela.
Essas falas foram levantadas por ela na mesa redonda “Ressignificando a Comida e Redirecionando o Sistema Alimentar: um debate sobre possibilidades e controvérsias”, que foi mediada pela atual presidenta do Consea, Elisabetta Recine. Também participaram da mesa a nutricionista e pesquisadora Elaine de Azevedo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Tainá Paiva Godinho, conhecida como Taína Marajoara, ativista alimentar, realizadora cultural e cozinheira.
“Comida: relações de afeto, tradições e direitos”
O 25º Conbran começou nesta quarta-feira (18) e segue até sábado (21). O evento é organizado pela Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) em parceria com a Associação de Nutrição do Distrito Federal (Andf).
Sob o tema “Comida: relações de afeto, tradições e direitos”, o encontro reúne cerca de 4 mil participantes, entre nutricionistas, estudantes, pesquisadores e outros profissionais da saúde e segurança alimentar e nutricional.
Na programação também acontecem o 5º Simpósio Ibero-Americano de Nutrição Esportiva, o 4º Simpósio Ibero-Americano de Nutrição em Produção de Refeições e o 4º Simpósio Ibero-Americano de Nutrição Clínica.
A agenda inclui ainda rodas de conversas e uma grande área de exposição em estandes que abordam temas como obesidade, rotulagem nutricional, taxação de bebidas açucaradas e agenda regulatória, entre outros.
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Serviço
25º Congresso Brasileiro de Nutrição
Dias: 18 a 21 de abril de 2018
Local: Centro de Convenções Ulysses Guimarães – Brasília (DF)
Fonte: Ascom/Consea