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“Não queremos dinheiro, queremos aquilo que temos direito”
Vista de uma das tendas das famílias ciganas no Acampamento Terra Nova Canaã, em Sobradinho, região administrativa do Distrito Federal. Imagem: Roberta de Sá
“Muitas vezes, a gente não consegue acessar as políticas públicas por falta de informação. Queremos estar dentro dos programas sociais, precisamos de oportunidades e atenção do governo”. A afirmação é de Wanderley da Rocha, 52 anos, presidente da Associação Nacional das Etnias Ciganas do Brasil (Anec).
Desde 2014, quando chegaram à capital federal, as 15 famílias ciganas representadas por Wanderley vivem em barracas no Acampamento Terra Nova Canaã, às margens da rodovia DF 440, em Sobradinho, a 20 quilômetros de Brasília. E é em meio a muita terra e lama que as crianças brincam e andam pelo acampamento. Faltam lonas para proteger as várias famílias da chuva, tão intensas na capital federal no mês de março. “Uma terra de 3,5 hectares para uma família não é suficiente, imagine para 15?”, questiona.
Wanderley relata um sonho das famílias instaladas no acampamento. “Gostaríamos de ter um espaço especial para plantação. Nossa produção é para subsistência. Aqui a gente planta mandioca, melancia, abóbora, quiabo, banana, manga, goiaba. Mas queremos ampliar nossa produção, fazer a nossa cesta verde”, como ele chama a produção de hortaliças como alface, cheiro verde e cebolinha.
Para as famílias instaladas no acampamento, um dos maiores problemas é o desabastecimento de água no período de estiagem que, segundo elas, impossibilita a produção de alimentos para venda. “Pra falar a verdade, nós não temos água. O poço que tem aqui é de um condomínio. Na época da seca a gente passa dificuldade porque falta água tanto para os moradores do condomínio quanto pra nós. A Funasa [Fundação Nacional da Saúde] ficou de vir fazer a perfuração de poços e instalar saneamento básico, mas até hoje não apareceu. Não queremos dinheiro, queremos direitos”, reclama Wanderley.
Wanderley da Rocha representou a Anec no Encontro Nacional 5ª+2, realizado pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) de 6 a 8 de março, em Brasília. Na ocasião, ele defendeu a aprovação de um guia de políticas dos povos ciganos, numa ação envolvendo secretarias das mais variadas instâncias. Com relação ao tratamento dado aos ciganos, lamentou que pouca coisa tenha mudado ao longo dos anos. “Somos invisíveis como povos tradicionais. Isso é uma violação de direitos humanos, dos nossos valores e da nossa cultura”, afirmou em entrevista ao Consea.
“Nosso espaço aqui em Sobradinho (DF) é o primeiro para ciganos por concessão pública no Brasil. Por isso, pedimos ao poder público que nos ajude a fazer dele um modelo para o país”.
Clique aqui para conferir as fotos da visita do Consea ao Acampamento Nova Canaã.
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Reportagem: Nathan Victor, com supervisão de Ivana Diniz
Fonte: Ascom/Consea