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“A comida que a gente ingere precisa trazer justiça social”
Imagem: Francicarlos Diniz/Consea
A soberania, segurança alimentar e nutricional e o direito humano à alimentação adequada no contexto político e econômico brasileiro foram temas de painel realizado na sexta-feira (20) no 25º Congresso Brasileiro de Nutrição (Conbran), em Brasília.
A mesa debatedora contou com participação das conselheiras Inês Rugani e Valéria Burity, do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e do economista e líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile. A presidenta do Consea, Elisabetta Recine, e a conselheira Christiane Gasparini também participaram das discussões.
Inês Rugani destacou a importância do debate e da contribuição que o conhecimento acadêmico pode dar para impulsionar políticas públicas. “É preciso estudar a realidade atual e reconhecer que nós não temos a hegemonia do discurso. Para conviver com isso, é preciso aumentar nosso repertório na luta para garantir a soberania e a segurança alimentar e nutricional. Nós não podemos desistir dessa luta”, conclamou ela.
Para Stédile, a soberania alimentar é mais do que segurança alimentar. “É preciso dar um passo a mais. A soberania alimentar parte do princípio de que cada povo tem que produzir o seu alimento no seu território”, afirmou. Ele também fez críticas ao modelo de produção do agronegócios. “No Mato Grosso, só se vê soja, soja, soja. As multinacionais transformaram os alimentos em ‘commodities’. Isso destrói a biodiversidade”. A alternativa para esse modelo, segundo Stédille, é “fortalecer a agricultura familiar e camponesa e estimular a produção de alimentos sadios”.
A conselheira Valéria Burity ressaltou o aspecto político que envolve a discussão sobre soberania e segurança alimentar e nutricional. “A gente não vai garantir a nutrição das pessoas da sociedade brasileira se a gente não discutir racismo, machismo, a forma como os alimentos são produzidos. A gente precisa entender a importância das sementes crioulas, da agroecologia. A nutrição é um tema político”.
A garantia do acesso à terra foi destacada pela nutricionista Richelly Costa, participante do debate. “A soberania alimentar pressupõe o direito ao território, mas também à qualidade desse território para além do espaço geográfico de delimitação”.
Para a ativista alimentar e cozinheira Tainá Marajoara, o debate foi importante para ampliar a visão dos nutricionistas sobre o tema da soberania alimentar. “Os alimentos não chegam sozinhos à nossa mesa. Eles são parte de um processo cultural e de preservação ambiental. Sem conservação da sociobiodiversidade e das práticas e culturas alimentares tradicionais não existe soberania alimentar”, afirmou.
“Uma tabela nutricional compõe o milho transgênico, compõe um alimento com agrotóxico. No entanto, essa tabela precisa ser sensibilizada sobre questões como condições justas de trabalho no campo, que não gerem proletarização dos extrativistas e que mantenham a dignidade dos agricultores, pescadores artesanais. A comida que a gente ingere precisa trazer justiça social, democracia alimentar, garantia de direitos e defesa da vida”, concluiu
Reportagem: Francicarlos Diniz
Fonte: Ascom/Consea