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Urbanização rápida do mundo ameaça avanço contra fome e desnutrição, alerta ONG
Frutas na feira.
Até a década de 2030, haverá cerca de 2,5 bilhões a mais de pessoas que hoje vivendo em cidades. O aumento se dará especialmente entre populações que mais crescem no mundo, nos países em desenvolvimento. Quase 90% será concentrado na África e Ásia, onde apenas a China, a Índia e a Nigéria, sozinhas, deverão somar 900 milhões de moradores às cidades até 2050. Na África, o aumento será facilmente perceptível, já que a maior parte de sua crescente população estará vivendo em áreas urbanas.
Os dados são do Relatório Global sobre Política Alimentar (Global Food Policy Report 2017), divulgado em 31 de março de 2017, pelo Instituto Internacional de Pesquisa em Política Alimentar (IFPRI, na sigla em inglês), entidade de pesquisa do Grupo Consultivo de Pesquisa Internacional Agrícola (CGIAR), com sede em Washington (EUA). “Na medida em que a rápida urbanização avança em todo o mundo, pobreza, insegurança alimentar e desnutrição estão se tornando, cada vez mais, problemas urbanos”, ressalta o documento.
O crescimento das cidades estaria impactando principalmente a população pobre urbana, que enfrenta desafios de acesso a alimentos nutritivos, à proteção social e a serviços de água, saúde e saneamento. Dificuldades de acesso à renda, imprescindível à segurança alimentar em áreas urbanas, fragiliza ainda mais a população pobre, sobretudo as mulheres, que dependem muitas vezes de empregos informais e instáveis. Em países em desenvolvimento, famílias chegam a comprometer mais de 50% da renda com alimentação, lembra o IFPRI.
Mudança de perspectiva
Essas drásticas transformações nos cenários internacionais políticos, econômicos e demográficos ameaçam as perspectivas favoráveis, surgidas com a nova agenda de desenvolvimento sustentável. Nela, os compromissos assumidos pelos países com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e do Acordo de Paris, além da proclamação da Década de Ação em Nutrição das Nações Unidas 2016-2025, pareciam sinalizar uma continuidade dos progressos em segurança alimentar e nutricional.
Em 2016, por exemplo, pela primeira vez na história moderna, o número de pessoas vivendo na extrema pobreza caiu abaixo de 10% da população global, enquanto a expectativa para a taxa mundial de desnutrição era de queda a níveis abaixo de 11%.
Agora, no entanto, para avançar, “as políticas e investimentos para combater a fome e a desnutrição precisarão levar em conta as necessidades das populações urbanas pobres e a necessidade desenvolver laços fortes entre agroprodutores rurais e mercados urbanos, a fim de garantir o sustento tanto das populações rurais quanto urbanas”, enfatiza o diretor do IFPRI, Shenggen Fan.
Os investimentos deverão permitir a transformação dos ambientes alimentares, a fim de ampliar o acesso a dietas saudáveis e a preços compatíveis com a renda da maioria da população.
Bolsa Família e redes de proteção social
Apesar da gravidade dos alertas, o relatório do IFPRI destaca a importância das redes de proteção social ("safety nets") que vêm sendo construídas em vários países e devem ser fortalecidas. E faz uma referência elogiosa ao Programa Bolsa Família. "O carro-chefe do Brasil [nesta área], o Bolsa Família, que focou na redução da pobreza e na segurança alimentar, usou a transferência de dinheiro para promover e melhorar a educação e os cuidados de saúde aos beneficiários do programa”.
Destaca ainda a qualidade da infraestrutura de pesquisa agrícola brasileira, iniciativas como os restaurantes populares saudáveis em várias cidades, como Belo Horizonte e Curitiba; além do acesso a alimentos saudáveis na cidade de São Paulo.
E acrescenta: “O Bolsa Família incorporou com sucesso componentes de educação e saúde, por meio da integração com outros programas e políticas sociais em prol da segurança alimentar e da nutrição”. Ainda segundo a publicação, o programa contribuiu substantivamente para a redução da mortalidade infantil, sobretudo aquela relacionada à má nutrição.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a representação brasileira junto à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) e Programa Mundial de Alimentos (PMA), três organizações da ONU com sede em Roma, acompanharam a divulgação dos dados da pesquisa.
Veja aqui a íntegra do relatório.
Fonte: Ivana Diniz Machado/Consea