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Semana da Mulher: 'Queremos respeito', dizem mulheres da tradição de matriz africana
Quatro mulheres. Texto: "Queremos ser respeitadas", dizem mulheres da tradição de matriz africana
“Não queremos ser toleradas e sim respeitadas na nossa diversidade”. A afirmação foi feita pelas integrantes da Coordenação Nacional de Mulheres do Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana, em encontro realizado em julho de 2015 em Porto Alegre (RS).
Na Carta Política do Encontro Temático de Mulheres, evento preparatório da 5ª Conferência Nacional, as participantes afirmaram que “tradição diferente do que muitos pensam não é algo estático que faz parte do passado, a tradição é repassada e conjunturada, adequada às necessidades do coletivo, mas preservada no princípio”.
Segundo elas, “em todo processo de dominação de um povo sobre o outro são as mulheres que primeiro são atacadas e de forma física e cultural”. De acordo com o documento, “foram estas mulheres que, bravamente, frente a todo tipo de violência, mantiveram princípios civilizatórios no decorrer da escravidão e pós-escravidão, constituindo comunidades dirigidas e gestadas a partir destes princípios”.
O fórum destacou a participação de Mãe Stela de Oxóssi no filme Cidade das Mulheres, “relatando de forma brilhante esta trajetória, dizendo que aquelas mulheres não foram para aqueles territórios para montar cultos, mas sim comunidades gestadas por estes princípios”.
“O território habitado e utilizado pelo Povo Tradicional de Matriz Africana Brasil tem como princípio que a alimentação, além de um direito de todos e todas, é sagrado, capaz de interligar diretamente humanos e natureza, dentro de um sistema alimentar que todo ser vivo deve ser alimentado”, diz a carta.
O Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana foi constituído em 2011 com a missão de Iutar pela política de segurança alimentar a partir da preservação dos princípios civilizatórios de matriz africana. A organização possui representações e fóruns organizados na maioria dos estados.
“Nós mulheres de Ngunzo, Axé, Sarava, da Jurema e de todas as formas de animismo africano no Brasil nos levantamos e dizemos toda água é mulher, toda a água é sagrada, toda mulher-água faz a vida e merece respeito. Não queremos ser toleradas e sim respeitadas na nossa diversidade”, conclui o documento.
O encontro em Porto Alegre foi organizado pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e pela Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan). Reuniu 150 mulheres, entre elas representantes de movimentos e organizações sociais de mulheres negras, indígenas, extrativistas, ribeirinhas, pescadoras artesanais, quilombolas, assentadas da reforma agrária, camponesas e agricultoras familiares, de povos de matriz africana e de povos de terreiro e demais povos e comunidades tradicionais, entre outras.
Para ter acesso à íntegra do documento final do encontro, que contém análises e propostas em relação às questão de gênero, clique aqui.
Fonte: Ascom/Consea