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Organizações internacionais querem aproveitar experiências do Brasil no combate à obesidade infantil
Francesco Branco, diretor da OMS: entidade apoia experiências positivas, destacando que Brasil promulgou, por exemplo, a NBCal, lei que proíbe publicidade de substitutos do leite materno e regula a de alimentos para mães e crianças de até 2 anos. Imagem: Opas
O Brasil tem sido reconhecido como um importante indutor de boas práticas com relação à segurança alimentar e nutricional no mundo, onde há hoje cerca de 1,9 bilhão de pessoas acima do peso, afirmaram organizações internacionais de saúde e alimentação durante o Encontro Regional para Enfrentamento da Obesidade Infantil, realizado pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS), na última semana, em Brasília.
Entre as crianças, 600 milhões são consideradas obesas, segundo a organização, que pretende estimular as boas experiências brasileiras combater um quadro onde, por uma lado, há crescimento da obesidade. E, ao mesmo tempo, mantêm-se uma taxa de 2 bilhões de pessoas com deficiências de micronutrientes – 800 milhões delas cronicamente subalimentadas. Entre as crianças, 156 milhões delas até cinco anos de idade têm desnutrição crônica. E 50 milhões registram desnutrição aguda (baixo peso para a altura).
Nesse cenário desigual, o alerta sobre o crescimento da obesidade infantil veio em janeiro desse ano, quando foi divulgado o Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional da América Latina e Caribe, elaborado pela Opas em conjunto com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Os dados mostraram que 7,2% das crianças menores de cinco anos da região estão com sobrepeso, o que representa um total de 3,9 milhões de crianças, sendo que 2,5 milhões moram na América do Sul, 1,1 milhão na América Central e 200 mil no Caribe.
As entidades destacam que as crianças são especialmente afetadas, pois constituem o principal alvo da indústria de alimentos processados, comprovadamente uma das causas do aumento da obesidade. E justamente quando estão em período de formação física e de hábitos alimentares que levarão consigo pelo resto da vida.
Brasil como indutor de boas práticas
Apesar dos dados preocupantes, a publicação mostra também que há várias experiências positivas na região. “O Brasil, por exemplo, promulgou recentemente uma lei que proíbe a publicidade de substitutos do leite materno e regula a publicidade de outros alimentos voltados para mães e crianças de até dois anos”, lembra a Opas. Trata-se da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCal).
Barbados, Dominica e México aprovaram impostos sobre bebidas açucaradas. Bolívia, Chile, Peru e Equador também contam com leis de alimentação saudável que regulam a publicidade e os rótulos dos alimentos. A organização quer contar com esses exemplos positivos para ajudar os países a continuarem avançando.
Durante o encontro de Brasília, os participantes - inclusive do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) – discutiram ainda a implementação da Década de Ação das Nações Unidas para a Nutrição (2016-2025), que incentiva o acesso universal a dietas mais saudáveis e sustentáveis.
O diretor de Nutrição para a Saúde e Desenvolvimento da OMS, Francesco Branca, apresentou os principais pontos do programa, lançado em abril do ano passado pela Assembleia Geral da ONU. “O objetivo da Década de Ação é catalisar e facilitar o alinhamento de esforços coletivos que estão sendo feitos para erradicar a fome e acabar com todas as formas de má-nutrição, além de assegurar o acesso universal a dietas mais saudáveis e sustentáveis”, afirmou.
Instrumentos de controle da obesidade
A Opas apresentou também um modelo de perfil nutricional, que identifica bebidas e alimentos com excesso de componentes críticos, como açúcares, sal, gorduras totais, gorduras saturadas e gorduras trans. Essa publicação auxilia os países na criação e implementação de estratégias para prevenir e controlar o excesso de peso.
Entre as boas práticas apontadas, estão: o uso de rótulos de alerta na parte frontal das embalagens; a restrição na comercialização de alimentos e bebidas pouco saudáveis para crianças; a regulação de alimentos e bebidas vendidos nas escolas; a definição de políticas fiscais para limitar o consumo de alimentos não saudáveis; a identificação de alimentos a serem fornecidos por programas sociais para grupos vulneráveis; e subsídios para reduzir preços de frutas frescas e vegetais.
Os representantes do governo brasileiro assumiram, durante o encontro, o compromisso de atingir três metas até 2019: deter o crescimento da obesidade na população adulta, por meio de políticas intersetoriais de saúde e segurança alimentar e nutricional; reduzir o consumo regular de refrigerante e suco artificial de 20,8% para 14% da população e ampliar em, no mínimo, de 36,5% para 43% o percentual de adultos que consomem frutas e hortaliças regularmente.
Fonte: Ascom/Consea