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Orgânicos: da saúde ao bolso do agricultor familiar
Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio”. A frase do filósofo grego Hipócrates (460 a.c – 377 d.c), conhecido como o "pai da medicina ocidental" segue como ensinamento e prática para o agricultor familiar Valdir de Oliveira, de 55 anos, produtor de orgânicos há 10 anos, no Núcleo Rural Boa Esperança, a 49 km de Brasília.
Filho, neto e bisneto de produtor rural, nascido e criado na roça, Valdir conta que era “veneneiro puro” até receber assistência da Emater-DF para dar início à transição agroecológica. “Resolvi mudar o cultivo pelos benefícios que vi para mim, minha família e para a humanidade em geral. Aliás, para o planeta todo”, orgulha-se o agricultor, que colhe batata baroa, rabanete, beterraba, cenoura, inhame, mandioca e outros tubérculos, além de hortaliças como rúcula, alface e couve em cinco dos oito hectares da propriedade, chamada de Sítio Vida Verde.
Valdir está certo. De acordo com a nutricionista da Emater-DF e do Banco de Alimentos de Brasília, Lidiane Matos, a família do agricultor é a primeira a ser beneficiada por essa mudança na alimentação. “Os alimentos orgânicos desenvolvem as próprias defesas contra o meio ambiente. Estas defesas, na planta, transformam-se em antioxidantes, digamos assim.”
Os antioxidantes são moléculas que oferecem grandes benefícios à saúde, já que protegem as células saudáveis dos danos que os radicais livres podem causar. “Dessa forma, nos beneficiamos destes alimentos. Além disso, há estudos que mostram uma maior quantidade de minerais nos alimentos orgânicos, porque são cultivados em solos mais saudáveis, com uma adubação mais interessante e rica em nutrientes”, explica Lidiane.
Por isso, a nutricionista alerta sobre os malefícios que podem surgir do consumo de alimentos que passaram pelo cultivo a base de agrotóxicos. “Pesquisas mostram que resíduos de agrotóxicos permanecem nos alimentos e podem provocar reações alérgicas, distúrbios hormonais, além de dificuldades e distúrbios respiratórios. Algumas pessoas são mais sensíveis. As crianças, por exemplo, têm resistência e podem desenvolver reações alérgicas mais facilmente. Já o câncer pode vir do consumo a longo prazo e, por isso, é mais comum em adultos. ”
De 2007 para cá, Valdir planta e colhe sem causar danos ao meio ambiente. “Aqui você tem rotação de cultura, quebra vento, manejo correto do solo. Várias práticas agregadas que trazem o benefício geral: ambiental, social e econômico”, explica o extensionista rural da Emater-DF, Aécio Prado, que dá assistência ao agricultor há cinco anos.
Da feira ao prato
No Distrito Federal, a produção estimada de hortaliças e frutas orgânicas é de 7,5 mil toneladas ao ano, segundo levantamento feito pela Emater. Este número tende a crescer, uma vez que o aumento médio anual do mercado de orgânicos é de 34%. Somente no sítio do Valdir, ele e o filho Tiago Augusto de Almeida, de 28 anos, colhem a média semanal de 200kg de cada espécie cultivada.
Para dar vazão a essa quantidade de alimentos, Valdir, comercializa a produção em feiras e fica contrariado quando escuta que este tipo de alimento é para poucos. “Tem um mito de que produto orgânico é só pra gente de classe alta. Isso não é verdade. Porque o convencional sofre com a lei da oferta e procura. Ou seja, nesta época de chuva, pode ver que as frutas devem estar mais caras ou com o mesmo preço da orgânica. Então, isso de que pessoa de baixa renda não consegue consumir orgânicos é mentira. Nas feirinhas, você consegue um bom preço”, afirma.
Consumidor de orgânicos há pelo menos dez anos, o autônomo Ivan Fernandes, de 32 anos, também torce o nariz para amigos que ainda pensam que o produto orgânico está fora do orçamento familiar. “Quando vou à feira, costumo dizer que faço um investimento e não uma compra. É isso que acredito estar fazendo pela minha saúde e da minha família. À minha volta, vejo que muitos não compram por achar que se trata de um alimento muito mais caro. Pelo contrário, eu economizo muito quando vou à feira”, conta.
Políticas que incentivam
Valdir tem a segurança de que pode continuar se dedicando ao plantio de orgânicos mesmo com as intempéries climáticas que podem atrapalhar a produção ou por entraves na comercialização. O produtor tem a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (DAP) e, por isso, consegue acessar ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
O PAA é uma política pública de comercialização em destaque na Sead, e abrange também os produtores de orgânicos. Sobre o PAA e o Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar), a servidora da Sead Suiá Rocha, da Secretaria Executiva da Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica (Ciapo), explica: “Com o PAA e o Pnae, o pequeno produtor pode produzir com garantia de renda e ser inserido no mercado institucional com alimentos saudáveis. Além disso, há segurança para os produtores terem preços diferenciados na hora de comercializar para esses programas. Os produtos orgânicos têm um preço de até 30% a mais que os produtos convencionais nos mercados institucionais.”
Além destes programas, Suiá destaca e explica outras políticas da Sead voltadas para o produtor de agroecológicos e orgânicos:
1) Assistência Técnica (Ater):
A Ater consiste, basicamente, em visitas técnicas com a finalidade de identificar as necessidades e potencialidades de cada família inserida na produção agrícola familiar, levando o agricultor a diminuir o uso de agrotóxicos e de fertilizantes químicos. Para isso, são realizados um conjunto de capacitações, de formações de extensionistas e de agricultores, para que incorporem essas práticas mais sustentáveis.
• Foco na produção de base agroecológica;
• Em todas as chamadas públicas de Ater serão 50% de mulheres atendidas e ao menos 25% de jovens
• Queremos alcançar a meta de um milhão de agricultores familiares em transição agroecológica, por meio da prestação de Assistência Técnica e Extensão Rural
2) Ecoforte:
• Política em parceria com vários órgãos federais, integra o Planapo (Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica) e apoia e estimula projetos voltados à intensificação das práticas de manejo sustentável de produtos da sociobiodiversidade e de sistemas produtivos orgânicos e de base agroecológica.
• Financiado pelo BNDES.
3) Integração de Ensino-Pesquisa-Extensão com disponibilização de tecnologias apropriadas à agricultura familiar:
Os Núcleos de Agroecologia são uma estratégia de envolvimento das instituições de ensino superior nas discussões dos novos paradigmas do desenvolvimento rural sustentável com ênfase na agricultura familiar. Novas parcerias que vêm sendo firmadas a cada ano, por meio de editais conjuntos entre Sead, MAPA, MCTIC, MEC e CNPQ.
4) Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf):
No Pronaf há três linhas de financiamento exclusivas para a produção de base orgânica. Com elas, os agricultores familiares ganham desconto nos juros. O valor do financiamento cai de 5,5% para 2,5% no Pronaf Agroecologia, isso dá uma diferença de, mais ou menos, 120% na taxa de juros anual, o que é um grande incentivo para a transição agroecológica.
5) Projeto Quintais Produtivos:
As mulheres também são muito importantes para a agroecologia, por serem mais preocupadas com uma alimentação saudável. Voltado para elas, temos o projeto dos Quintais Produtivos. Os quintais produtivos são áreas que ficam nos arredores das casas usadas para o cultivo de frutas, verduras, ervas e plantas medicinais e para a criação de pequenos animais. Eles são importantes pois, além de garantir alimentação saudável para a família, se tornaram uma fonte de renda extra.
Resultado disso é que a renda destes agricultores têm aumentado, pois essas famílias assumem o protagonismo nas dinâmicas de desenvolvimento rural, e se organizam para as etapas de produção e comercialização dos produtos.
Fonte: Ascom/Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário