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Novos conselheiros: políticas públicas empoderam trabalhadoras rurais
Maria Verônica de Santana
Agricultora assentada do litoral-sul de Sergipe, no município de Santa Luzia do Itanhi, Maria Verônica de Santana ocupa um lugar no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) pela primeira vez. A nova conselheira defende o empoderamento da mulher do campo. “Uma das primeiras políticas públicas que gerou avanço foi a garantia da documentação, pois sem ela nós não podíamos registrar nem nossa existência enquanto cidadãs”, diz a conselheira. Além disso, ela destaca que é importante construir uma agenda em que a defesa do direito das mulheres e produção de alimentos saudáveis caminhem juntos. “Sem feminismo não há agroecologia”, afirma.
Confira a entrevista.
Quando falamos das trabalhadoras rurais, sabe-se que há muito preconceito no campo. Quais situações essas mulheres enfrentam?
Acredito que o maior preconceito que nós enfrentamos é o próprio preconceito que há com o campo, por acharem que esse é um lugar de atraso, onde as pessoas não tiveram oportunidades e que se demora a chegar as políticas públicas e serviços essenciais. Então, o campo ainda é um lugar de muita discriminação. Isso reflete no papel das mulheres do campo. Essas têm a vida muita relacionada com seu próprio espaço. O espaço rural, para nós mulheres, é um lugar muito valioso ao contrário do que se fala. Isso porque é um espaço da própria reprodução da vida, por que tudo se dá ao redor da casa ou do ambiente. É um espaço de cultura e vida mesmo.
Quais políticas públicas podem ser desenvolvidos para ajudar essas mulheres que vivem e trabalham no campo?
Uma das primeiras políticas públicas que gerou avanço foi a garantia da documentação, pois sem ela nós não podíamos registrar nem nossa existência enquanto cidadãs. Acredito que isso tenha sido um avanço. A partir disso, tivemos um crescimento em nossa autoestima como trabalhadoras rurais e agricultoras. Mas isso também é importante para começarmos a refletir esse nosso papel de um sujeito produtivo nesse espaço rural que são as mulheres que ajudam, cuidam da casa, e não são mulheres que estão ligadas diretamente à produção. Hoje já conquistamos, além da documentação, a Assistência Técnica e Extensão Rural, onde temos chamadas específicas para as mulheres. Nesse atendimento nós estávamos conseguindo assegurar também que 30% dos recursos sejam destinados para as mulheres. No quesito crédito, nós conquistamos o Pronaf Mulher.
Enfrentamos muitos desafios no acesso ao crédito e continuamos enfrentando. Mas temos de avançar nas políticas de produção, pois nós somos responsáveis por mais da metade da produção de alimentos. Então, é bom pensar na região Nordeste onde a maioria das famílias que vive no meio rural é chefiada por mulheres, mas quando vamos ao número de acessos às políticas públicas ainda somos minoria. Quando vemos as estatísticas de insegurança alimentar somos a maioria. Existe, portanto, uma grande desigualdade nesse contexto e as políticas públicas têm um papel muito importante para essa superação.
Como conselheira, que temas pretende trazer para o Consea?
É o primeiro mandato no qual o movimento faz parte do Conselho. O Consea é um espaço muito presente e importante em nossas vidas. Trabalhar o tema da segurança alimentar e nutricional é algo que tem muito a ver com as mulheres. Isso desde a produção até a confecção dos alimentos. Sinto uma diferença em participar deste Conselho porque aqui a maioria é de mulheres, diferente de muitos outros espaços, em que temos uma batalha de garantia e participação. Aqui temos uma participação ativa.
A alimentação é, historicamente, um tema que as mulheres se dedicam bastante. Acredito que nossa grande tarefa é trazer a discussão da segurança alimentar e nutricional junto da agroecologia. Andamos construindo o contexto da agroecologia como uma pauta ligada ao movimento feminista da Marcha das Margaridas. Sem feminismo não há agroecologia. A produção de alimentos saudáveis tem a ver com a agroecologia e é uma das bandeiras que pretendemos trazer para cá. Como já faço parte da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, gostaria de fazer uma ligação entre esses dois conselhos para fortalecer nossa pauta.
Entrevista: Beatriz Evaristo
Fonte: Ascom/Consea