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Novos conselheiros: alimentação é parte da identidade e patrimônio do povo
Alcemi Barros é nutricionista e atua na nutrição social, voltada à segurança alimentar e nutricional, o direito humano à alimentação adequada e políticas públicas. Participa de conselhos e fóruns de políticas públicas. Preside o Consea do Espírito Santo. Imagem: Facebook
Alcemi Barros é nutricionista com atuação na nutrição social, voltada para a segurança alimentar e nutricional, o direito humano à alimentação adequada e políticas públicas. Participa de conselhos e fóruns de políticas públicas. Preside o Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do Espírito Santo (Consea-ES).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o primeiro país a assumir metas para a Década de Ação das Nações Unidas para a Nutrição. As metas, até 2019, buscam prevenir a obesidade entre adultos e reduzir em pelos menos 30% o consumo regular de bebidas com alto teor de açúcar.
Com a adesão do país à Década de Ação das Nações Unida, o papel do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) se torna ainda mais importante, considerando que um dos objetivos dos conselheiros é trabalhar em defesa de uma alimentação balanceada e nutritiva, evitando, assim, aumento dos índices de sobrepeso ou obesidade.
Na entrevista a seguir, o nutricionista e conselheiro Alcemi Almeida Barros, que representa o Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar (FBSSAN) no Consea, explica que a publicidade de alimentos atualmente enaltece o consumo de produtos ultraprocessados em detrimento da comida saudável e de valor nutricional benéfico à saúde.
Como você avalia o impacto da publicidade de alimentos e a relação com os dados sobre obesidade e sobrepeso?
Alcemi Barros: Há grande influência da publicidade de alimentos no consumo da população, principalmente no que se refere aos alimentos e produtos industrializados, o que tem contribuído para os agravos nutricionais no país. Os estudos recentes vêm mostrando um crescimento do sobrepeso e obesidade e um alto consumo de alimentos inadequados para a saúde. Por outro lado, os mais saudáveis, como frutas e hortaliças, bem como os alimentos agroecológicos e orgânicos não ocupam grande destaque pela publicidade. Há nitidamente interesses antagônicos entre saúde e lucro financeiro. O respeito à soberania, à cultura alimentar e à diversidade existente em nosso país acaba não sendo valorizado. Falta uma regulação forte da publicidade de alimentos que proteja a população. O novo Guia Alimentar da População Brasileira resgata aspectos importantes para a valorização da cultura alimentar e faz distinções importantes no que se refere ao consumo de determinados grupos de alimentos, destacando a importância de reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados.
Como o Consea pode atuar no sentido de garantir a soberania e segurança alimentar e nutricional?
Alcemi Barros: O Conselho tem atuado com eficácia neste sentido. A discussão de temáticas de grande relevância para a sociedade, como acesso à terra e água, a situação dos povos e comunidades tradicionais e a inclusão de agricultores familiares nas políticas públicas, tem auxiliado nas ações para reversão de desigualdades construídas no país. Temos incidido efetivamente na construção de políticas que favoreçam a inclusão, diminuam as desigualdades e que garantam o Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável, bem como a soberania e segurança alimentar e nutricional dos diferentes povos e biomas, respeitando a igualdade de gênero, a biodiversidade e a alimentação como identidade e patrimônio de um povo. Continuaremos propondo melhorias nas políticas governamentais, monitorando e aperfeiçoando os mecanismos de controle social. É necessário resgatar o sentido da comida, do comer e do produzir alimentos no país, bem como definir que alimentos queremos consumir.
Qual a sua expectativa para a nova gestão do Consea?
Alcemi Barros: A nova gestão atuará em um contexto político delicado no país. É essencial um maior cuidado no sentido de garantir que os direitos já conquistados não tenham retrocessos. Trabalharemos na construção de mecanismos de exigibilidade mais concretos e mais próximos da população. Outro desafio será o fortalecimento do Sisan nos estados e a concretização deste sistema nos municípios brasileiros. A expectativa é positiva, pois o Consea é um espaço de resistência que exerce um papel de grande relevância e colaboração com o governo. A atual gestão contará com a experiência daqueles que sempre estiveram na vanguarda da luta pela segurança alimentar no país. Não faltará luta. Temos vontade e espírito de colaboração para um país mais justo.
Entrevista: estagiário Nathan Victor, sob orientação do jornalista Francicarlos Diniz
Fonte: Ascom/Consea