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Novos Conselheiros: a sociedade tem o direito de consumir alimento sem agrotóxico
Eduardo Amaral é graduado em agronomia e trabalha com povos e comunidades tradicionais da Amazônia desde 1992. Atua no desenvolvimento socioambiental, com concentração nos processos de fortalecimento da organização social, produção agroextrativista, regularização fundiária, sociobiodiversidade e segurança alimentar e nutricional. Coordena o Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre/Pesacre, organização não governamental que participa da Articulação Nacional de Agroecologia, entre outras redes da sociedade civil.
O Brasil lidera há vários anos o grupo dos países que mais utilizam agrotóxicos na produção de alimentos. A fragilização do marco legal para regulação, controle e redução de agrotóxicos no país dificulta o fortalecimento e ampliação da agroecologia como alternativa para a produção de alimentos saudáveis. “Conseguimos fazer que essa discussão chegasse à mídia, mas há muito o que avançar”, diz o conselheiro do Consea Eduardo Amaral Borges, mais conhecido como “Cazuza”.
Cazuza trabalha com povos e comunidades tradicionais da Amazônia desde 1992 e defende a produção de alimentos sem o uso de agrotóxicos. Na entrevista a seguir, ele comenta sobre o modelo de produção de alimentos hegemônico no país e os impactos dos agrotóxicos na segurança alimentar e nutricional dos brasileiros.
Você defende que os alimentos sejam totalmente livre de agrotóxicos. Como está o Brasil em relação a esse tema?
Acredito que houve alguns avanços. Os brasileiros estão diferenciando o que é um alimento saudável e o que é um alimento não saudável. Além disso, conseguem fazer essa ligação de quem produz um alimento salubre ou não. A sociedade percebe também que tem o direito de consumir um alimento livre de agrotóxico. Houve um aumento de feiras agroecológicas, de espaços de comercialização de produtos orgânicos e que venham da agricultura familiar. Esta relação entre sociedade civil rural e urbana está cada vez mais forte. Já do ponto de vista de ações e programas de políticas públicas, acredito que conseguimos pautar essa discussão dentro do governo. Temos, por exemplo, o Programa Nacional para Redução de Agrotóxicos (Pronara). Conseguimos também fazer com que essa discussão chegasse à mídia, mas ainda há muito o que avançar, principalmente no que se refere à reforma agrária e ao direito ao território de produção, entre outras questões.
Como o Consea pode atuar na discussão da segurança alimentar e nutricional dos brasileiros?
O Conselho é um espaço extremamente importante, porque é aqui que a diversidade da sociedade civil se reúne. Aqui temos a oportunidade de ver diferentes perspectivas sobre a soberania alimentar e nutricional e a alimentação adequada e saudável. As propostas que saem do coletivo da sociedade civil consideram várias dimensões ou peculiaridades da diversidade cultural, religiosa, de ecossistemas etc. Aqui exercemos efetivamente uma democracia participativa. Temos de garantir não só este espaço, como também o fortalecimento de vários outros campos de participação da sociedade.
Qual sua expectativa para a atuação do Consea nesta nova gestão?
Diante da conjuntura que estamos vivendo hoje, nós conselheiros, que representamos diversos segmentos no Consea, estamos bem animados para garantir todos os direitos já adquiridos no que se refere à segurança alimentar e nutricional, e acrescentar outros. Temos noção das dificuldades, mas não desistiremos da luta e estamos conscientes da importância da unidade da sociedade civil para erradicar a fome do país e evitar retrocessos.
Entrevista: estagiário Nathan Victor, sob orientação do jornalista Francicarlos Diniz
Fonte: Ascom/Consea