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Mundo vive explosão de obesidade, revela estudo
Cerca de 2,2 bilhões de pessoas sofrem atualmente com sobrepeso ou obesidade no mundo e podem sofrer problemas de saúde por conta dessa condição. É o que revela estudo publicado na revista especializada "The New England Journal of Medicine" e apresentado na conferência EAT Food Forum, em Estocolmo, nesta segunda-feira (12).
Realizada pelo Instituto de Metrologia da Saúde e Avaliação (IHME, pelas suas siglas em inglês) da Universidade de Washington em Seattle (EUA) em 195 países, entre os anos 1980 e 2015, a pesquisa é considerada a mais abrangente já realizada sobre o tema da obesidade.
Desde 1980, segundo a pesquisa, a obesidade duplicou em mais de 70 países e cresceu continuamente na maioria, além de que, no caso das crianças, o ritmo de obesidade de muitos lugares no mundo superou o dos adultos.
Os Estados Unidos foram, com quase 13% de seus habitantes, o país com o maior nível de obesidade entre os 20 mais populosos.
O Egito teve a maior percentagem de adultos obesos, com 35% da sua população; seguido por EUA, com 79,4 milhões de pessoas; e China, com 57,3 milhões.
Por sua vez, 15,3 milhões de meninos chineses e 14,4 milhões de meninos da Índia foram os menores que mais padeceram com esta doença crônica.
No outro lado do espectro, estão Bangladesh e Vietnã, com 1% de obesidade entre seus habitantes.
Os especialistas afirmam que este aumento de peso mundial em crianças e adultos provoca problemas de saúde e doenças que causaram um aumento do número de mortes relacionadas com o sobrepeso e a obesidade nos últimos anos. Entre as enfermidades associadas com o Índice de Massa Corporal (IMC) alterado estão câncer de esôfago, colorretal, fígado, bexiga e trato biliar, pâncreas, mama, útero, ovário, rins, tireoide e leucemia.
Doenças crônicas não transmissíveis
Os autores do artigo destacam que, na última década, foram propostas diversas intervenções para reduzir a obesidade, como a restrição de propagandas de produtos alimentícios não saudáveis, melhoria na oferta da merenda escolar, taxação de industrializados e subsídios para alimentos saudáveis, entre outros. “Contudo, alguns países começaram a implementar algumas dessas políticas, mas nenhum grande sucesso populacional foi alcançado”, escreveram.
“Era esperado que o número de pessoas com obesidade e sobrepeso em 2025 fosse 2,5 bilhões, mas já se chegou a quase isso 10 anos antes. É preciso uma ação governamental coordenada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) para um controle mundial”, avalia Osvalmir de Sá, nutrólogo pela Associação Brasileira de Nutrologia e médico da Clínica Corpometria.
Para Osvalmir de Sá, é preciso encarar a obesidade como doença crônica e tratá-la como tal. “Só o controle da alimentação não está se mostrando eficaz. O obeso já sabe bem o que é fibra, carboidrato, proteína e índice glicêmico. O problema não é esse. Hoje nós sabemos que, quando se consome substâncias como açúcar, são ativados os mesmos receptores neurológicos que agem quando há consumo de droga”, diz.
Brasil
O Ministério da Saúde adotou metas para frear o crescimento do sobrepeso e da obesidade no país; reduzir o consumo regular de refrigerante e suco artificial em pelo menos 30% na população adulta até 2019; e ampliar em no mínimo de 17,8% o percentual de adultos que consomem frutas e hortaliças regularmente.
Outra ação que contribui para a promoção da alimentação saudável é o Guia Alimentar para a População Brasileira, que orienta a população com recomendações sobre alimentação saudável.
Frente parlamentar
Em maio deste ano foi criada a Frente Parlamentar Mista de Combate e Prevenção da Obesidade Infanto-juvenil, que reúne cerca de 200 parlamentares, entre senadores e deputados.
Para Michele Lessa de Oliveira, coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, a entrada do Poder Legislativo nessa batalha traz nova força à luta que já vem sendo travada por meio do Ministério da Saúde, como a Portaria Nº 1.274, de 7 de julho de 2016, que obriga restaurantes, cantinas e lanchonetes do ministério a fornecer alimentos conforme recomendado pelo Guia Alimentar.
“A criação de uma regulação nacional da publicidade de alimentos para crianças e adolescentes é uma das principais demandas do setor de saúde, nutrição e segurança alimentar, para enfrentar a epidemia de sobrepeso e obesidade que afeta o Brasil”, afirmou ela durante o evento de lançamento da Frente Parlamentar Mista de Combate e Prevenção da Obesidade Infanto-juvenil.
Michelle também defendeu a revisão das regras de rotulagem de produtos alimentícios e uma lei federal que regule a oferta de alimentos ultraprocessados nas escolas. “É preciso romper com a lógica de ambientes que favorecem o consumo de alimentos não-saudáveis. E o momento é propício à conjugação de esforços: estamos na Década da Ação sobre a Nutrição da ONU e o Brasil tornou-se o primeiro país a se comprometer formalmente com metas específicas para essa década”, destacou.
Publicidade de alimentos ultraprocessados
Para o conselheiro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) Irio Conti, a mudança dos padrões alimentares e nutricionais está entre as principais causas do aumento dos casos de obesidade e de sobrepeso entre os brasileiros.
“Mais e mais a população brasileira está sendo bombardeada pela publicidade de alimentos que estimulam o consumo de produtos ultraprocessados, que não são saudáveis mas são de interesse das indústrias de alimentos”, afirma Írio, que é professor e pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Segurança Alimentar e Nutricional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Fonte: Ascom/Consea