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Livro de Dráuzio Varella aponta que obesidade é problema de saúde em presídios femininos
Dráuzio: na cadeia, não há muitas possibilidades de fazer exercício e as mulheres recebem uma dieta rica em carboidratos. Elas ganham peso, ficam hipertensas e com problemas ortopédicos devido ao excesso de peso. Imagem: Youtube
O oncologista Dráuzio Varella tornou-se famoso nacionalmente ao descrever em livros as histórias de violências que ocorrem nas cadeias brasileiras - algumas das quais foram mostradas na televisão e no cinema. Agora ele se debruça sobre as peculiaridades de uma penitenciária feminina, onde mulheres são submetidas a práticas cruéis relacionadas à menstruação, gravidez e amamentação e a uma alimentação que estimula o sobrepeso e a obesidade.
Trata-se do livro “Prisioneiras”, lançado em maio deste ano pela Companhia das Letras, último volume de uma trilogia sobre prisões no país - os outros foram "Estação Carandiru", de 1999, e "Carcereiros", de 2012. Na obra mais recente, o autor se baseou em dados coletados a partir de 2006, quando começou a trabalhar como voluntário de saúde na Penitenciária Feminina de São Paulo. Além das particularidades da vida sexual feminina na penitenciária – que o médico garante ser o único lugar onde mulher tem liberdade sexual –, Varella destaca as questões de saúde, especialmente a ameaça silenciosa da obesidade.
“O problema [de saúde] básico delas é a obesidade. Porque lá elas são sedentárias e têm uma dieta rica em carboidratos. Elas ganham peso e ficam hipertensas e diabéticas. Isso é muito comum, assim como a dor nas costas e problemas ortopédicos provocados pelo excesso de peso”, afirmou ele no dia 9 de julho, em entrevista ao jornal El País.
Demonstração de perversidade
José de Ribamar de Araújo e Silva, militante da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, e ex-conselheiro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), denuncia que a questão da alimentação nos presídios se agravou muito desde que ele começou a atuar nesta área, no início dos anos 80, no Carandiru, em São Paulo, onde inclusive conheceu o médico Dráuzio Varella.
“A cada ano estamos encarcerando mais pessoas e em piores condições”, afirma ele. “A situação de segurança alimentar e nutricional nas cadeias brasileiras é a demonstração do que existe de mais perverso em uma sociedade que penaliza duplamente pessoas de grupos sociais que historicamente têm sido esquecidas pelo Estado, pelas políticas públicas”, acrescenta.
Para ele, os livros de Dráuzio Varella são importantes alertas à sociedade e aos poderes públicos sobre o que chama de verdadeiro processo de exterminação contra as populações mais vulneráveis do país, sejam eles os negros, pobres ou as mulheres.
Fonte: Ascom/Consea