Notícias
Fome volta a crescer no mundo e ameaça desenvolvimento sustentável, alerta ONU
Imagem: FAO
A fome voltou a crescer, após uma década de queda contínua. No ano passado, afetou cerca 815 milhões de pessoas, ou 11% da população global. Esse número representa um aumento 38 milhões na comparação com 2015, quando o indicador era de 777 milhões de pessoas, segundo o relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo (The State of Food Security and Nutrition in the World), divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no último dia 15 de setembro.
Conforme o estudo, cerca de 155 milhões de crianças com menos de cinco anos sofrem hoje com atraso no crescimento (estatura baixa para a idade), enquanto 52 milhões estão com peso abaixo do ideal. Estima-se ainda que 41 milhões de crianças estejam com sobrepeso, além de haver crescente anemia entre as mulheres e obesidade entre os adultos.
O estudo aponta que as tendências observadas são consequências não só de conflitos e mudanças climáticas, mas também de profundas alterações nos hábitos alimentares e crises econômicas. O retrocesso ocorre exatamente dois anos após todos os países terem assumido o compromisso de erradicar a fome e a extrema pobreza até 2030.
Além da fome, o documento alerta que múltiplas formas de má nutrição ameaçam a saúde de milhões de pessoas em todo o mundo.
Aumento dos conflitos e mudança climática
O documento aponta os conflitos entre países — agravados cada vez mais pelas mudanças climáticas — como um dos principais motivos para o ressurgimento da fome e de outras formas de má nutrição. “Na última década, o número de conflitos tem aumentado de forma dramática. Eles se tornaram mais complexos e insolúveis pela natureza”, advertem logo na introdução do relatório os membros da FAO, do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), do Programa Mundial de Alimentos (PMA) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A fome castigou algumas partes do Sudão do Sul por vários meses no início de 2017 e há um alto risco de que ela possa se repetir no futuro, além de surgir em outros locais afetados pelo conflito, como o nordeste da Nigéria, a Somália e o Iêmen, observa a pesquisa. Especialistas indicam que além da violência que prejudica algumas regiões, as secas ou inundações – ligadas em parte ao fenômeno El Niño -, assim como a desaceleração econômica mundial, também colaboraram para o agravamento global da segurança alimentar e da nutrição.
Os dirigentes da ONU advertem que tal cenário não pode ser ignorado. E preveem que o mundo não deverá conseguir extinguir a fome e todas as formas de má nutrição até 2030 como planejado, a menos que sejam abordados todos os fatores que prejudicam a segurança alimentar e a nutrição no mundo. Acrescentam que garantir sociedades pacíficas e inclusivas é uma condição necessária para atingir esse objetivo. É a primeira vez que ONU realiza uma avaliação global sobre segurança alimentar e nutricional após a adoção da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, cujo objetivo é acabar com a fome e com todas as formas de má nutrição até 2030, considerada uma das prioridades das políticas internacionais.
Veja principais do Relatório sobre segurança alimentar e nutricional
Fome e segurança alimentar
O número total de pessoas com fome no mundo é de 815 milhões:
– Na Ásia: 520 milhões
– Na África: 243 milhões
– Na América Latina e no Caribe: 42 milhões
Porcentagem da população mundial vítima da fome: 11%
– Ásia: 11,7%
– África: 20% (Na África Ocidental: 33,9%)
– América Latina e Caribe: 6,6%
Má nutrição em todas as suas formas
– Crianças menores de 5 anos que sofrem com atraso no crescimento (estatura baixa para idade): 155 milhões;
– Desses, os que vivem em países afetados por distintos níveis de conflitos: 122 milhões;
– Crianças menores de 5 anos que estão com o peso abaixo do ideal para a estatura: 52 milhões;
– Número de adultos obesos: 641 milhões (13% do total de adultos do planeta);
– Crianças menores de 5 anos com sobrepeso: 41 milhões;
– Mulheres em idade reprodutiva afetadas por anemia: 613 milhões (cerca de 33% do total).
Impactos dos conflitos
– Das 815 milhões de pessoas que sofrem com a fome do planeta, 489 milhões vivem em países afetados por conflitos;
– A prevalência da fome nos países afetados por conflitos varia entre 1,4% e 4,4% a mais que em outros países;
– No contexto de conflitos agravados pelas condições de fragilidade institucional e ambiental, essa prevalência é de entre 11 e 18 pontos percentuais a mais
– Pessoas que vivem em países afetados por crises prolongadas têm quase 2,5 mais chances de padecer com a subnutrição do que as que vivem em outros lugares.
Fonte: Ascom/Consea com informações da FAO