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Dia do nutricionista
Em uma época em que a cesta básica se chamava ração essencial e o mundo vivia dias sombrios, a Nutrição ensaiava seus primeiros passos no Brasil. Era a difícil década de 40, tempos que mexeram com quase todos os cantos do planeta. Surgia o salário mínimo e o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), instituição que se transformaria em um dos principais centros de formação de recursos humanos na área de Nutrição.
O Brasil começava a se interessar mais sobre o assunto que já era alvo de estudo em várias instituições científicas da Europa, Ásia e América: a busca de soluções para os "problemas alimentares". Inspirados no que se espalhava pelo meio acadêmico americano, jovens médicos brasileiros começaram a se dedicar à 'fisiologia da nutrição'. Paralelamente, outro grupo, influenciado pelo médico Argentino Pedro Escudero, optou por estudar a nutrição na sociedade, procurando definir um padrão de 'alimentação racional' que disponibilizasse, às pessoas, os elementos estudados e preconizados pelos fisiologistas.
Começava a relação permanente entre alimentação e questões socioeconômicas. "O povo deveria ser ensinado a comer adequadamente", diziam os pesquisadores.
Foi nesse ambiente efervescente que os primeiros cursos abriram as portas. Primeiro o curso do Instituto de Higiene de São Paulo, em 1939 (atual Curso de Graduação em Nutrição do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo), seguido em 1940 pelos cursos técnicos do Serviço Central de Alimentação do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários.
Com a ampliação do número de cursos e o aumento do número de profissionais, nasceu em 31 de agosto de 1949 a Associação Brasileira de Nutricionistas (ABN), hoje Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), primeira entidade criada no país para representar e defender os interesses dos nutricionistas/dietistas e desenvolver estudos e pesquisas no campo da Nutrição.
Esta data é um marco histórico, sendo escolhida 50 anos depois para ser celebrada como o Dia do Nutricionista.
"A memória nos ensina e nos desperta muitas reflexões em relação ao papel que devemos desempenhar, seja na educação alimentar e nutricional, seja na orientação técnica à produção agrícola seja na luta firme contra políticas públicas equivocadas que levaram ao aumento de doenças como a obesidade nos últimos anos", avalia a presidente da Asbran, Daniela Fagioli-Masson. Segundo Daniela, os 68 anos da Asbran celebrados nesta data devem servir de exemplo de como uma incansável luta resulta em vitórias.
"As primeiras gerações de nutricionistas trabalharam muito não só para o reconhecimento da profissão como também para o aprofundamento das pesquisas. O Conbran é prova disso. O I Congresso Brasileiro de Nutricionistas, promovido em julho de 1958 no Rio de Janeiro, reuniu cerca de 500 profissionais e exigiu, segundo relatos de quem participou na época, enorme esforço pessoal de nutricionistas que atuaram voluntariamente em todas as áreas, até limpeza. Hoje temos profunda gratidão por essas pioneiras da Asbran".
Talvez a nossa história esteja nos chamando para uma volta às raízes, afirma a nutricionista Carolina Chagas, diretora da Asbran. "Os tempos de hoje exigem engajamento social do nutricionista e uma luta firme frente aos danos provocados por uma indústria que busca o lucro em detrimento da saúde. Este engajamento precisa ser incentivado ainda nos cursos de formação e devemos trabalhar para isso".
Se o crescimento do campo da Nutrição está relacionado às políticas públicas implantadas ao longo das décadas, como o II Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (Pronan) a partir de 1976, estudos dessa trajetória indicam que tanto o aumento do número de cursos quanto a diversificação das áreas de atuação apontam para a necessidade de se traçar novos caminhos na atualidade.
"A Nutrição assumiu hoje um novo papel na sociedade. Antes, a questão social da alimentação estava limitada ao combate à fome e às carências nutricionais. Hoje, defender uma alimentação saudável sugere mais do que garantir às pessoas os nutrientes adequados à vida", defende Marcelo Sipione, diretor da Asbran.
Segundo o nutricionista, não há alimentação saudável se o meio ambiente é prejudicado com a produção dos alimentos pelo uso irracional da água, do solo, das matas e dos agrotóxicos. Não há alimentação saudável se o ser humano é explorado para produzir ou comercializar esses alimentos. Não há alimentação saudável se toda a população não tiver o direito de acessá-la.
Parabenizando toda a classe na data de hoje (31), o diretor da Asbran afirma que a atuação do nutricionista, no contexto atual, precisa estar respaldada pela compreensão transversal dos direitos humanos, em especial, do Direito Humano à Alimentação Adequada e todas as políticas públicas que este tema evoca.
Fonte: Asbran