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Desnutrição volta assolar aldeias indígenas de Mato Grosso do Sul
Sem cesta básica e água potável, mais de 200 crianças estariam com desnutrição em áreas como Kurusu Ambá (Coronel Sapucaia) e Pyelito Kuê (Iguatemi). Imagem: Reprodução "O Progresso"
O fantasma da desnutrição volta a "assombrar" o território indígena em Mato Grosso do Sul. Em acampamentos Guarani e Kaiowá de Kurusu Ambá (Coronel Sapucaia) e Pyelito Kuê (Iguatemi), segundo matéria publicada nesta quinta-feira (19) pelo jornal O Progresso, de Dourados (MS). De acordo com a reportagem, lideranças afirmam que centenas de crianças já apresentam quadro de desnutrição por falta de alimentos e água potável. A cesta básica estaria atrasada desde novembro e água, só de açude.
O guarani kaiuá Elizeu Lopes, disse ao jornal que a Funai alega insuficiência de recursos por parte da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), não havendo previsão de distribuição de cestas básicas para nenhum acampamento indígena no estado.
Elizeu Lopes alertou que as famílias pedem socorro. "A gente divide o pouco que se tem, mas quando não há nada, as crianças dormem para esquecer a fome. Nós bebemos água em açudes, junto com o gado, que é melhor tratado no Brasil do que seres humanos", destaca.
Segundo o guarani, mais de 200 crianças estariam com desnutrição. Ele afirma que cerca de 20 delas chegam a estar acamadas.
No final de março de 2016, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) recomendou aos órgãos envolvidos nesta questão que retomassem com urgência a distribuição de alimentos para os acampamentos indígenas dos povos Guarani e Kaiowá do cone sul do Mato Grosso do Sul (MS). A região concentra 52 acampamentos indígenas. No final de agosto, o Consea enviou uma missão ao Cone Sul do estado do Mato Grosso do Sul onde, durante cinco dias, constatou as dificuldades vividas pelas comunidades indígenas da etnia Guarani Kaiowá.
Desnutrição crônica
O professor da Faculdade Intercultural Indígena da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Neimar Machado de Souza, explica que nessas comunidades, 42% das crianças, menores de cinco anos, sofrem de desnutrição crônica, apresentando baixa estatura e peso para a idade, conforme o relatório da Rede Internacional de Informação e Ação pelo Direito Humano à Alimentação (FIAN 2016).
O professor explica ainda que as causas dessa crise decorrem do fato que estas e outras comunidades indígenas enfrentam histórico abandono e racismo institucional. "A não demarcação dos territórios também afeta diretamente as duas áreas. Medidas paliativas foram tomadas em 2005, quando houve redução, mas não a reversão nos casos de desnutrição. Faltam políticas públicas", destacou, observando que as crianças para terem acesso a escola precisam andar todos os dias mais de 20 quilômetros.
"O Brasil tem 1.113 terras indígenas, das quais 654 aguardam atos administrativos do Estado para terem seus processos demarcatórios finalizados. Este número corresponde a 58,7% do total das terras indígenas do país", explica.
A reportagem relata que entrou em contato com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) que disse que iria enviar uma nota ainda nessa semana sobre o caso.
A Conab disse que entregou 200 cestas básicas nas duas comunidades nos dias 1º e 2 de dezembro. "Existem, em nossa Unidade Armazenadora em Campo Grande, 4 etapas de 1.400 cestas destinadas à Funai em Ponta Porã, responsável pelos acampamentos em questão. As cestas estão à disposição dos parceiros da Ação de Distribuição de Alimentos (ADA). A Conab ressaltou apenas que não há, no momento, previsão de repasse orçamentário e financeiro por parte da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan/MDSA) para custeio operacional da Ação de Distribuição de Cestas de Alimentos.
Campanha
Em Dourados, foi criada uma campanha arrecada alimentos não perecíveis para essas comunidades indígenas. Um dos pontos de coleta é a recepção do próprio jornal O Progresso, que fica na Avenida Presidente Vargas 447, em frente a Praça Antônio João.
Outro ponto de coleta é na Faculdade de Direito e Relações Internacionais (Fadir), da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), situada na Rua Quintino Bocaiúva, 2100 - Jardim da Figueira, em Dourados.
Fonte: Ascom/Consea com informações do jornal O Progresso