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Comida de verdade é saudável para o ser humano e o planeta, diz presidenta do Consea
Elisabetta Recine destacou que conceito de comida de verdade foi construído coletivamente pelo Consea na 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional de 2015, com estratégias que devem abranger todos os processos educacionais – inclusive a inclusão da temática nos currículos escolares. Imagem: Ivana Diniz
Comida de verdade é a salvaguarda da vida. É saudável tanto para o ser humano quanto para o planeta. As afirmações foram feitas pela nutricionista, professora e pesquisadora Elisabetta Recine, presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), na terça-feira (3), em fala proferida na abertura do “Congresso Internacional de Alimentação Escolar: Construindo caminhos para a educação alimentar e nutricional”.
Elisabetta lembrou que o conceito de “comida de verdade” foi construído coletivamente pelo Consea ao longo de anos. E culminou numa definição ampla, após ser colocado como tema da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, em 2015. Na ocasião, representantes da sociedade civil reunidos em Brasília concluíram, após discussão entre diversos grupos sociais que, para comer comida de verdade, é preciso conhecer a verdade sobre a comida em suas várias dimensões.
E que estas estratégias devem abranger todos os processos educacionais (educação básica, profissionalizante, popular, permanente e superior), com a inclusão da temática nos currículos escolares, buscando também integrar ensino, pesquisa e extensão. A presidenta destacou trechos do manifesto divulgado pelo Consea após o encontro, que considerou importantes para a compreensão do conceito de comida de verdade.
Comida de verdade
Para o Consea, “a comida de verdade garante os direitos humanos, o direito à terra e ao território, à alimentação de qualidade e em quantidade adequada em todo o curso da vida. Respeita o direito das mulheres, a diversidade dos povos indígenas, comunidades quilombolas, povos e comunidades tradicionais, desde a produção ao consumo. É produzida pela agricultura familiar com base agroecológica e uso de sementes crioulas e nativas. Por meio do manejo adequado dos recursos naturais. Protege e promove as culturas alimentares, a sociobiodiversidade, as práticas ancestrais, a dimensão sagrada dos alimentos”.
“Comida de verdade garante a soberania alimentar; protege o patrimônio cultural e genético; reconhece a memória, a estética, os saberes, sabores, os fazeres e os falares, a identidade, os ritos envolvidos, as tecnologias autóctones e suas inovações. É produzida em condições dignas de trabalho. É socialmente justa. Comida de verdade não está sujeita aos interesses de mercado”.
Com base nesses pressupostos, afirmou Elisabetta Recine, a prática alimentar saudável – inclusive nas escolas – deve ser adequada não somente aos aspectos biológicos e sociais dos indivíduos, de acordo com o ciclo da vida e as necessidades alimentares especiais. Mas também deve ser pautada pelos seus referenciais tradicionais locais.
Desafio da comida na escola é mais que nutrientes e biologia
A presidenta reforçou que, para os representantes da sociedade brasileira envolvidos na garantia da segurança alimentar e nutricional, a comida saudável precisa abranger tais dimensões. “Deve atender aos princípios da variedade, equilíbrio, moderação, prazer e sabor. Às dimensões de gênero e etnia e às formas de produção ambientalmente sustentáveis, livre de contaminantes físicos, químicos e biológicos e de organismos geneticamente modificados”, acrescentou.
“Portanto, nesta perspectiva, o desafio da educação alimentar e nutricional não é apenas recomendar a melhor combinação de nutrientes para termos uma alimentação saudável. Mas relacionarmos o ambiente onde as pessoas saibam que a alimentação é um exercício de cidadania. É a expressão de como vemos o planeta. É a forma como nos posicionamos diante da justiça e da igualdade dos nossos países”.
Então, para a presidenta do Consea, “a grande aventura, o grande prazer de desenvolver a educação alimentar e nutricional é construir a verdadeira democracia no nosso país. É esse o desafio e a grande possibilidade que se coloca à nossa frente quando nos propomos a desenvolver a educação alimentar e nutricional. Isto demanda um grande esforço, uma grande dedicação e grandes mudanças. É uma mudança de paradigmas muito importante”.
Mudança de paradigma
Elisabetta Recine apontou que a maioria das pessoas é orientada, como profissionais e cidadãos, a pensar na alimentação nas perspectivas extremamente limitadas e reduzidas da sua dimensão biológica e nutricional. “Logicamente que a dimensão nutricional dos alimentos é fundamental. Mas a forma como esses nutrientes aparecem em nosso prato, as relações que se traduzem a partir desse prato, os valores que se traduzem, são tão importantes quanto ela”.
A presidenta do Consea enfatizou que o mundo mostra hoje que a alimentação é uma expressão de justiça e também de injustiça. E conclamou os países participantes do Congresso Internacional de Alimentação Escolar a unirem esforços para a realização deste direito.
“Do ponto de vista da alimentação escolar e do ambiente escolar, há ainda muitos desafios e cada um dos países aqui presentes está numa etapa desse processo. Precisamos investir, colaborar e criar parcerias com todos os profissionais da educação. Investir na qualificação dos livros didáticos, para que eles passem de simplesmente entender a alimentação como um processo fisiológico e coloquem-na como expressão da cultura dos países, como expressão de sua soberania”.
Ressaltou que é preciso investir também nos profissionais que realizam essas atividades e dar a justa atenção à prática de segurança alimentar e nutricional nas escolas. E encerrou sua fala desejando que o encontro representasse uma oportunidade de aprendizagem e construção de boas experiências.
Congresso
O Congresso Internacional de Alimentação Escolar vai até quinta-feira (5), no campus da Universidade de Brasília (UnB). O encontro é promovido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) do Ministério da Educação.
Reportagem: Ivana Diniz Machado
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Fonte: Ascom/Consea