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Associativismo e PAA mudaram a vida dos agricultores do país, diz produtora rural
Rita Maria: há 5 anos, a localidade dela vivia em completo marasmo. Hoje, produtores têm até carro para levar produtos da agricultura familiar até Ilhéus. Imagem: Ivana Diniz
Como uma comunidade que vive na pobreza e no desemprego pode virar o jogo e se tornar um centro produtor de alimentos e de riquezas para seus habitantes? No distrito de Maria Jape, região de Ilhéus (BA), a solução estava no associativismo, conta a produtora rural Rita Maria Santana, que veio a Brasília falar sobre essa experiência durante a 4ª Reunião Plenária Ordinária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), realizada nesta quarta-feira (27).
Ela relatou que, há cinco anos, a localidade baiana vivia em completo marasmo. A economia declinava, os jovens partiam rumo a cidades mais promissoras, quase nada era produzido no local e a pobreza imperava. Foi então que um grupo de 12 agricultores se mobilizou para reativar a Associação de Agricultores e Moradores da Região de Maria Jape. A partir daí, tudo começou a mudar.
“Quando nos organizamos e iniciamos a produzir juntos, a Secretaria de Agricultura de Ilhéus logo entrou em contato conosco. Pudemos tirar identidade como agricultores familiares. Em 2013, entramos no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que favorece a aquisição direta de produtos das organizações de pequenos agricultores.
Depois, vieram outras ações importantes, como a que estimula a compra de produtos da agricultura familiar para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), destinado a estudantes da educação pública básica”, relembra ela.
Aos poucos, a renda da população de Maria Jape começou a crescer. Pessoas que estavam migrando para cidades grandes, retornaram ao campo. Voltaram a ter trabalho e esperança. “O PAA mudou a cabeça de muita gente. Fortaleceu o associativismo, o cooperativismo. Nossa associação cresceu e hoje tem cerca de 50 integrantes. Produzimos milho, banana da terra, banana prata, aipim, quiabo, inhame e feijão”, diz Rita Maria com orgulho.
PAA deve ser fortalecido
Segundo ela, o PAA ajudou a vida de todos, inclusive a dela. “A renda, que era muito baixa, chega hoje a cerca de um salário mínimo por semana, algo em torno de R$ 940,00. As verduras e frutas que não são destinadas ao PAA são vendidas em sacolões e mercearias. Nada se perde”.
Desta forma, a produção da associação que antes era levada até o centro de Ilhéus de canoa e de ônibus, hoje é transportada nos veículos comprados pelos próprios agricultores com o dinheiro da venda de alimentos. “Eu mesma comprei um, por meio do Projeto Mais Alimento, do Banco do Nordeste.”
Por tudo isso, os agricultores familiares de Maria Jape dizem estar preocupados com a continuidade do PAA, relatou Rita Maria. “Depois de um certo tempo, a gente começa a ouvir que o programa pode acabar, devido a cortes no orçamento. Mas acreditamos que o PAA tem de ser fortalecido e transformado em lei. O programa já deu certo e precisa continuar dando certo”, enfatiza a agricultora.
Planos para o futuro
Se depender de Rita Maria, os agricultores de Maria Jape não vão parar por aí. A produtora baiana já está cheia de planos e pensa em construir uma cozinha comunitária, de forma a beneficiar os produtos locais e agregar valor às vendas. “Com a cozinha, comunitária também poderemos ter cursos do Sebrae sobre como cristalizar os chamados nibs de cacau”, acrescenta.
Os nibs de cacau são feitos a partir das amêndoas da fruta, que são tostadas, descascadas e quebradas em pedaços menores. Os nibs são ricos em polifenóis flavonóides e considerados uma das melhores fontes de magnésio, mineral necessário para mais de 300 reações bioquímicas no corpo humano.
“O cacau, que é abundante na nossa região, pode produzir também manteiga, geléia, suco, polpa ou mel para consumo humano. Se nos mantivermos organizados e com esses programas mantidos, haverá muita riqueza em Maria Jape para alimentar os filhos da comunidade pelas próximas gerações”, finaliza a agricultora.
Fonte: Ivana Diniz Machado/Consea